A eleição de Trump e o desabafo de uma mãe brasileira nos EUA
Não faz nem meia hora que meu filho completou 12 anos. Agora, relembrando o dia de seu nascimento, consigo reviver cada sensação daquele 09 de novembro de 2004. Mas sobretudo, lembro de sentir seu cheiro assim que nossos olhos se encontraram pela primeira vez: era um cheiro de vida.
No segundo que me descobri mãe, uma responsabilidade enorme chegou de mãos dadas com a maternidade. É que quando se é mãe, não basta criar uma criança; é preciso construir um mundo melhor para ela.
E tem sido assim, ano a ano, nessa última década: venho tentando ser uma pessoa melhor, venho tentando ser um ser humano melhor e venho tentando fazer do mundo em que eu vivo, um lugar melhor.
Ao que tudo indica, eu não vou conseguir presentear o meu menino. Pelo menos não agora. Terei que comprar um jogo de videogame para abafar as lágrimas que insistem em cair dos nossos olhos. É fuga, eu sei, mas talvez um joguinho traga algum consolo para uma alma tão jovem e tão ferida.
Há poucos minutos sentei com ele e, como é praxe aqui em casa, contei toda a verdade. Contei que o certo é sempre certo, mesmo que não seja o que a maioria esteja fazendo. Contei que eu tentei, com todas as forças que eu tenho, evitar essa situação. Contei que, daqui alguns anos, vamos olhar para trás e nos orgulhar de ter apoiado o único lado possível desse processo eleitoral. Mas sobretudo, expliquei para ele que política não é brincadeira, que devemos estudar cada vez mais, nos instruir cada vez mais, nos cercar de pessoas grandiosas e nunca, jamais, em tempo algum, nos curvar ao ódio, à intolerância e à ignorância.
Embora a minha vontade seja jogar a toalha e deixar esse mundo conservador para que as próximas gerações deem um jeito nele, a verdade é que mães não tem essa escolha. Portanto, registro aqui o que farei: vou chorar. Vou chorar bastante. Mas depois, vou levantar a cabeça. Aí, vai ser hora de arregaçar as mangas, abrir os livros e estudar. Porque a ÚNICA forma de nos livrar desse lamaçal de conservadorismo é por meio do conhecimento. Quem estuda encontra alternativas, argumenta com propriedade, conquista mentes e corações.
É, conservadorismo. Você está ganhando. Mas saiba que se tem alguém nesse mundo que vai lutar contra você, esse alguém sou eu. E eu vou fazer isso simplesmente porque o meu filho não merece viver num mundo que desrespeita os conceitos mais básicos de democracia e justiça social. Me aguarde e me aguente. E depois, aguarde e aguente meu filho também, porque nós somos poucos mas somos fortes. Avante!
Por Carol Campos
Imagem destacada: telegraph.co.uk
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