Duas mulheres

Duas mulheres não fazem filhos todavia,
descarrilham dos trilhos o trem de uma cidade surpresa,
suspensa por não saber lidar com o que não doma
Duas mulheres, cada uma,
possui a lenha para ascender labaredas
os tapetes que forram a fonte das águas quentes
Olhe, duas mulheres criam das lavas vulcânicas
a mais fresca corrente!
Duas mulheres são uma por duas a asa quebrada de uma só alma
Não cria poder voar até encontrar outra asa viciada
se arrastando por aí
Só tendo o que comer e como eu sem rumo de onde ir
Éramos só filosofias, drogas, vidas vazias e sonhos
Duas mulheres não fazem filhos mas formam rios florescedores
de vida em jardins sem fim
Duas mulheres são a musa e a poeta com dedos calejados
e cansados de tanto tocar sobre poemas e cadernos
Há tão pouco lugar para escrever sobre teu corpo
já tão bem declamado!
Se duas mulheres não geram filhos
nos instrumentos cordados tão bem afinados
não há qualquer vara se apoiando em bíblia amarela,
mas todas as harpas douradas em sintonia com dedos treinados da poeta
Duas mulheres, figueiras do inferno tocando o amor anátema.

 

Por Glenda Varotto
Imagem

Comments

Comentários