Obra feminista de Carla Zaccagnini no MASP

PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL, OBRA FEMINISTA DE CARLA ZACCAGNINI SERÁ EXIBIDA NO MASP

Elementos de beleza, do acervo do museu, propõe uma reflexão sobre discurso de gênero, relações de poder e suas representações políticas.

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Fotografia de monitoramento de militantes sufragistas detidas por atacarem museus e obras de arte, Departamento de Registro Criminal, 1914. © National Portrait Gallery, London.

Pela primeira vez no país, o MASP expõe a instalação Elementos de beleza: Um jogo de chá nunca é apenas um jogo de chá (Elements of Beauty: A Tea Set Is Never Only a Tea Set). Assinada pela brasileira Carla Zaccagnini, a obra integra o acervo do museu, já tendo sido apresentada em importantes museus do Reino Unido, Holanda e Argentina. A exposição abre dia 12 de novembro de 2015, às 20hs, e permanece até 14 de fevereiro de 2016.

Elementos de beleza é baseada no livro homônimo da artista, lançado em 2012, sobre as sufragistas de Londres e Manchester, nos anos 1910. A publicação, que faz parte da obra e estará disponível para consulta dos visitantes, reúne material de arquivo, fotografias, recortes de jornal e registros criminais a respeito da seção considerada mais radical do movimento, que defendia o direito de voto para as mulheres nas eleições políticas. A Women’s Social and Political Union (WSPU), organização de militância pelo voto feminino, era adepta de táticas de ação não convencionais, que incluíam ataques a vitrines de lojas, museus e pinturas, em especial aquelas que representavam nus femininos e retratos de homens.

“É importante notar que o feminismo e a questão de gênero, apesar de dominantes, não são as únicas preocupações da artista neste projeto. Elementos de beleza abrange temas tão importantes quanto a participação das minorias nas decisões democráticas; o conservadorismo das elites políticas que resistem às mudanças; a crise das identidades sociais e da representação política no século 20; o ativismo e o confronto às estruturas de opressão na sociedade; e por fim e especialmente o desafio ao poder constituído pelo sistema da arte e suas instituições, do qual faz parte o tratamento desigual dado às artistas em relação a seus colegas do sexo masculino”, afirma Fernando Oliva, curador do projeto e parte da equipe curatorial do MASP.

A instalação faz referência aos ataques das sufragistas, como forma de protesto, às obras de arte. Registros sonoros guiam os visitantes ao longo de uma parede ocupada por representações de molduras, pintadas diretamente sobre a superfície de concreto, sem as respectivas obras. A seleção de quadrados e retângulos vazios é uma alusão aos trabalhos que sofreram com a ação do grupo de mulheres, em particular, Vênus ao espelho (1647-1651), de Diego Velázquez (1599-1660), a obra mais célebre e a mais danificada, com diversos golpes de cutelo. A pintura foi restaurada e hoje se encontra em exibição na National Gallery, Londres.

“Ao entrar em contato com o trabalho, o público será envolvido por essas diversas vozes, em fricção, que compõem um panorama de discursos se contrapondo o tempo todo. De um lado, a fala do governo e de autoridades, condenando a ação das militantes. De outro, as sufragistas, buscando esclarecer suas razões e argumentando de maneira inteligente, sedutora, especialmente aos ouvidos de hoje”, diz Fernando Oliva. Elementos de beleza trata de fatos ocorridos há um século, no entanto deixa transparecer seu potencial de atualidade ao pensarmos nos problemas globais que envolvem questões de representação política e identidades das minorias, nas quais a mídia desempenha papel crucial.

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Carla Zaccagnini, Elements of Beauty: A Tea Set Is Never Only a Tea Set, 2012-2015. 29 molduras sobre parede e audioguia. Montagem realizada no Firstsite Lewis Garden, Colchester, Inglaterra, 2015.

O interesse da artista Carla Zaccagnini reside em desvendar essas mulheres e as razões que as levaram a usar a destruição da arte como marca de sua posição política. A instalação questiona quem eram as mulheres por detrás dos ataques e o que explica a escolha da arte como instrumento e principal alvo de suas reivindicações. Além disso, a seleção de obras específicas para o ato de contestação é também indagação sugerida pela obra. Desse modo, a artista retoma a conhecida afirmação de uma das sufragistas, em sua potente reivindicação de maior participação social: “A Justiça é um elemento de beleza tanto quanto cores e linhas sobre tela”.

Sobre  Carla Zaccagnini (1973)

Brasileira nascida em Buenos Aires, é graduada em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e mestre em poéticas visuais pela Universidade de São Paulo (USP). A produção da artista atravessa uma grande variedade de suportes e técnicas – do desenho e da colagem a instalação, performance e vídeo, passando pelo uso e pela incorporação de textos e pelo formato do livro. Ao recontextualizar objetos e ideias já existentes, o trabalho de Carla Zaccagnini incita os espectadores a questionar as limitações da linguagem e da representação, a falibilidade da percepção e a construção de conhecimento. Zaccagnini participou de exposições individuais e coletivas em instituições nacionais e internacionais, tais como Centre Pompidou (Paris, França), Guggenheim Museum (Nova York, EUA), Itaú Cultural (São Paulo, Brasil), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, Brasil), E-flux (Nova York, EUA), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil) e MAM/RJ (Rio de Janeiro, Brasil). Integrou ainda a 8ª Bienal de Berlim (2014, Alemanha), a 9ª Bienal de Xangai (2012, China) e a 28ª Bienal de São Paulo (2008, Brasil).

SERVIÇO:

Elementos de beleza: Um jogo de chá nunca é apenas um jogo de chá
Data: 12 de novembro de 2015 a 14 de fevereiro de 2016
Abertura: 12 de novembro, às 20h.
Local: Mezanino do 1º Subsolo
Endereço: Av. Paulista, 1578, São Paulo, SP
Tel.: (11) 3149-5959.
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até 17h30); quinta-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Ingressos: R$ 25,00 e R$ 12,00 (meia-entrada)
O ingresso dá direito a visitar todas as exposições em cartaz no dia da visita.
Estudantes, professores e maiores de 60 anos pagam R$ 12,00 (meia-entrada).
Menores de 10 anos de idade não pagam ingresso.
O MASP aceita todos os cartões de crédito.
O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo, e às quintas-feiras, a partir das 17h.
Classificação livre. Acessível a deficientes, ar-condicionado.
 

www.masp.org.br

 

Via Francine Kath

 

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