Todas por Louise Ribeiro

Mais um dia, mais um feminicídio. Louise Ribeiro tinha 20 anos quando foi dopada, morta e posteriormente queimada.

Segundo depoimento prestado para a polícia pelo réu confesso, vítima e assassino se encontraram em um laboratório da UnB, na última quinta-feira, depois de ela ter terminado um suposto romance com ele. Ele disse que se mataria, e foi um abraço de conforto da parte dela que acabou incitando um ataque de fúria nele. O agressor imobilizou a garota, abriu um vidro de clorofórmio, embebedou um pano na solução, e a fez desmaiar. Depois disso amarrou-a a uma cadeira, colocou-a em seu próprio carro, e minutos depois voltou ao laboratório. Louise já estava morta.

Não existe “morte passional”. Existe feminicídio.

A investigação da polícia, segundo o Jornal de Brasília, aponta para o fato de que Vinícius assassinou Louise porque ela deu um fora nele.

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Esse sujeito, e sujeitos assim, são uma ameaça constante para as mulheres. Nós não sabemos quem eles são, ou podem ser.

Louise deu fim a um namorico. Vinícius deu fim a uma vida.

Os dois eram universitários. Pessoas comuns, que estudam, trabalham, se relacionam. O desejo dele não foi atendido, pois não era do desejo dela. Por isso ele a matou.

Matou.

A professora Giovanna Dealtry, em sua página de Facebook, nos lembra:

“Essa é a cara de um feminicida. Não é o monstro do beco. É um cara que frequenta a sua sala de aula universitária. É o cara que mata com requintes de crueldade uma mulher por ela se recusar a ser seu objeto. Em resumo, é um homem que foi ensinado pela sociedade que mulher só tem alguma serventia se for para servir a ele. Mas a justiça acha que esse sujeito não é um perigo pra sociedade. Realmente, ele não é um perigo pra sociedade. Ele é um perigo apenas para as mulheres. Ele foi criado pela sociedade.”

Também foi de Dealtry que pegamos as reflexões a seguir, parafraseadas para que pudéssemos fazer este post.

Em caso de feminicídio é mister que sejam suspensas nossas divergências feministas, para que possamos mudar radicalmente, e verdadeiramente, o funcionamento da sociedade. Temos que pressionar por uma maior eficácia da justiça a nosso favor.

É inadmissível que assassinatos por questões de gênero não recebam o nome de feminicídio. Esta é a nomeclatura que revela o real número de mulheres assassinadas neste país, por serem mulheres.

Quando uma mulher apanha ou é morta não interessa se ela é feminista ou não.

Não podemos colocar todas as nossas divergências, e sei que são muitas, acima do direito à vida. Temos que nos organizar politicamente.

Assista o depoimento da prof. Debora Diniz sobre o ‪#‎feminicídio‬ de Louise Ribeiro.

Do Facebook, compartilhamos mais dois depoimentos pungentes.

Por Yasmin Oliveira

Louise poderia ser eu.

Louise poderia ser várias amigas minhas.

Louise não morreu por falta de segurança no campus, Louise não morreu por causa da loucura de Vinicius Neres. Louise morreu por dizer não, por se impor, por exercer o direito de ser livre. Mulher livre.

Louise poderia ser eu que sequer me relaciono com homens, eu também digo não.

Louise poderia ser eu que vou à festas, vou à bares, Happy Hours, CA’s. Eu que transito pelos espaços da universidade a noite, já virei madrugadas na UnB esperando o dia amanhecer para voltar pra casa. Já atravessei os matagais voltando de festas. Eu que ousei existir e aproveitar a minha vida acadêmica, ocupar espaços e me divertir e eu poderia ter morrido por ser mulher e fazê-lo.

Ouso falar que eu tive sorte de estar viva, de não ter sido objeto de desejo de um homem que quis decidir por mim. De não ter sido vítima da forma que construímos nossas afetividades.

Louise, você poderia ter sido eu, mas não foi. Então o máximo que eu posso fazer por você é continuar a luta.

Louise, eu sinto muito.

Nenhuma a mais.

Por Fernanda  Vicente

Louise Ribeiro tinha 20 anos e estudava biologia na Universidade de Brasília. Era linda, alegre e tinha muitos planos para sua vida que mal começou. Ela foi morta por um colega de classe na última quarta- feira. Ele ainda tentou violenta-la sexualmente depois que estava morta e jogou seu corpo em um matagal.

Assassino confesso Vinícius, de 19 anos, fala com muita naturalidade de como matou a moça. Na coletiva de imprensa ele alega transtornos mentais e diz que Louise era sua melhor amiga, a pessoa que ele mais amava. Dá um de herói porque confessou o crime com um meio riso cínico.

Porra nenhuma. Vinícius não ama ninguém, ele ama apenas seus privilégios e o que ele pode fazer com eles. Louise era mulher, Vinícius é homem. A vida de Louise não vale nada para o patriarcado. Vinícius foi socializado dentro de uma cultura machista que o ensinou que mulheres estão sempre a sua disposição e não podem nunca rejeitá-lo.

Vinícius é misógino e Louise foi vítima da misoginia dele.

Vinícius é homem, Louise era mulher. Simples assim.

Que sigamos juntas na dolorida luta contra o machismo que mata.

#todasporlouise

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Ana Clara Delajustine

Uma psicóloga feminista em luta por mais afeto. Implica com a linguagem sexista e acaba com a graça em piadas machistas. Vive de amores. É uma multidão e explosão de sentimentos. Inquieta, teimosa e bruxa, tem fé nos encontros do mundo.

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Glenda Varotto

Formada em publicidade e propaganda, 23 Blogueira do site humanista secular Bule Voador.

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Teci Almeida

Roteirista, produtora de conteúdo, mãe e teimosa. Acredita que de tanto insistir ainda conseguiremos fazer desse mundo um lugar melhor.

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Mônica Seben de Azevedo

Artista, artesã, designer – é o que costumo colocar nos cartões de visita. Ler e acumular livros de variados assuntos são tradições familiares. Já sonhei ser arqueóloga, pensei em cursar História, Filosofia, Sociologia ou Arquitetura, mas acabei escolhendo Artes, onde posso misturar tudo isso. Gosto de viajar pelo mundo, mas sempre volto para casa. Sou curiosa por natureza e tímida que fala pelos cotovelos se tomar muito café ou vinho. Mãe por opção e determinação. Para uns, sou muito certinha e para outros, muito doida. Na verdade, sou um pouco de cada.”

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Camila França

Camila França
Formada em Moda pela Udesc (2005) e pósgraduada pelo SENAC (2009) em Florianópolis, trabalhou por oito anos na indústria da moda como estilista. Em 2013, partiu em busca de qualidade de vida e atualmente dedica quase todo seu tempo ao desenho. Frequenta aulas de Artes Visuais a fim de conhecer e desenvolver sua própria poética. Seus desenhos exploram o universo feminino com técnica mista, grafite, nanquim, aquarela, marcadores e tinta acrílica.

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Thais Mendes

Jornalismo é a formação, produção de moda é o ganha-pão, escrita é a paixão. Radicada em Londres há mais de uma década, estudou no London College of Communication e depois foi trabalhar com um bocado de gente grande, de Adidas à Ivete Sangalo, da TPM à Vice, e gostaria de largar tudo e só escrever. Além de feminista, é progressista, ateísta, e uma porção de *istas* que causam desconforto por onde passa. Mãe de uma garotinha de 4 anos, com quem divide uma paixão por filmes japoneses e contos de fadas subversivos.

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Thaina Battestini Teixeira

Thainá Battesini Teixeira, é gaúcha e tem 23 anos. Está no último ano de graduação em História pela Universidade de Passo Fundo – UPF e é bolsista de iniciação cientifica – CNPq pesquisando as Fontes Visuais Impressas: Possibilidades de Pesquisa: Os papéis sociais atribuídos ao gênero feminino na Revista KodaK. Milita pelo Coletivo Feminista Maria, vem com as outras! e participa da organização da Marcha das Vadias de Passo Fundo no Rio Grande do Sul.

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Sandra Cecília Peradeles
Mina de comunicação – fala, fala, fala.
Formada em jornalismo, é  goiana, vira-lata, caçula de sete e doidinha de amores pela vida.
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Stefanie Cirne

Em 22 anos de Porto Alegre (RS), cursou Comunicação Social sem ter certeza do que estava fazendo – e formou-se jornalista sem destino definido. Felizmente, está se realizando na esquina entre o feminismo e a informação. Escreve para (sobre)viver, aventura-se no audiovisual e é fascinada por todo tipo de linguagem. Aparece regularmente por aqui.

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Patricia Chiela

Gosto de gente, de relações, de vida, de ajudar as pessoas a mostrar o valor do seu negócio, de ver uma empresa ir em frente, ser forte. Tive minha agência de comunicação por quase cinco anos, atuei em áreas de planejamento e também com inovação e gestão de pessoas. Paralelo a isso, como consultora, tive a oportunidade de dar vida para mais de uma dezena de empresas, ajudar tantas outras no processo de reposicionamento e ver surgir diversas campanhas e marcas. Hoje, estou a frente da Patrícia Chiela Estratégia de Marca, que atua para que a comunicação e o marketing ajudem uma empresa a olhar para frente, profissionalizar o negócio, construir o seu valor e prosperar.

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Murilo Mattei

Estou me graduando em ciências sociais pela UFSC, interessado em tudo que possibilita questionar a condição humana e os infinitos problemas derivados do pensar abstrato; consumidor assiduo do incomum, non-sense, trash-cômico e da musica contemporanêa, crio musicas como “vinolimbo”.

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Lucas Rezende Busato
Homem, branco, cis, hétero, reconhecedor do próprio privilégio: FEMINISTA.
Arquiteto e designer por formação, [des]construtor de espaços por ideologia.
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Belle Kurves
Belle Kurves likes to cock a snook at the whole silly patriarchal system.
An explorer, Belle is about to set sail on a voyage of discovery that will be  her toughest expedition yet.  Look out for her dispatches from the frontier as Belle Kurves embarks on a quest to find the “new truth” foreshadowed by Hester Prynne – the key to establishing “the whole relation between man and woman [indeed all genders] on a surer ground of mutual happiness.
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Caroline Rocha

C.rox, cigana vestida de aquariana transitando pelo mundo das artes. Gestora Deusa/Louca/ Feiticeira da Casa de Cultura Vaca Profana em Passo Fundo-RS. Produtora cultural e feminista até o caroço.

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Bruna Kern Graziuso

Advogada especialista em direito público e de família, vegetariana e meia maratonista. Não convida se não tiver vinho. Chora toda vez que vê uma ovelha.

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Beatriz Demboski Burigo

Estou no caminho pra uma graduação em Ciências Sociais, na UFSC em Florianópolis. Gosto muito do ativismo dos movimentos sociais, mas a minha praia mesmo é o backstage e o olhar sociológico sobre tudo. Sou de humanas, mas nem tanto! Amo antropologia, assim como amo falar sobre cultura pop, gênero e feminismo. No momento, pesquiso oficialmente sobre sociologia da educação, que é mais uma de minhas áreas de interesse.

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Ana Paula Ferraz

Uma figura que vai variando entre a curiosidade sobre pessoas e lugares e o interesse por culturas e olhares. Psicóloga, metida com psicanálise, política e sociedade. Poeta de boteco, cervejeira de calçada, cantora de chuveiro. Enfim, mais um mistério do planeta.

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Ana Emilia Cardoso
A meliante Ana Emília Cardoso é uma jornalista curitibana, com passagem por Florianópolis onde esteve detenta em mestrado de Sociologia Política. Por questões de segurança foi transferida para Porto Alegre e está em liberdade condicional. Trabalha com moda e pesquisas, tem 2 filhas, um marido famoso e acredita que pode mudar o mundo empoderando as mulheres.
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Arieli Corrêa

Vestibulanda de letras. Desengonçada com a vida e jeitosa com as palavras. Possui diversos pseudônimos, intencionada a desnudar-se de aparência e travestir sua alma com novas visões de mundo. Queria ser Maria. Descobriu-se feminista há não muito tempo, e tem muito que aprender.

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Aline Estevam

Manja das 7 melhores da Fem.

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Fernanda Cacenote
Fê Cacenote, fotógrafa amadora (por amor) e profissional (por profissão) no projeto FEMMA Registros Fotográficos. Viajante espacial do mundo das ideias, colaboradora na Casa da Mãe Joanna, Casa de Cultura Vaca Profana, Coletivo Feminista Maria, vem com as outras!.  Vegetariana, amante das coisas que a natureza nos dá e feminista em eterna (des)construção e aprendizado.
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Joanna Burigo

Comunicação social, educação e feminismo – não necessariamente nessa ordem. Já trabalhei em agências, produtoras, departamentos de marketing, escolas, projetos sociais e até no Coliseu (esse mesmo). Tudo isso, em diferentes graus, em Porto Alegre, Florianópolis, Madri, Roma, Dublin e Londres, onde fiz um mestrado em Gênero, Mídia e Cultura pela LSE. Mas eu saí de Criciúma, SC.

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Maitê Weschenfelder

Acadêmica de Jornalismo e amante da fotografia, passeia entre o lírico do cotidiano e o drama de vidas reais. Uma jovem, louca, livre e solta. Sonha com igualdade e justiça social.

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Emanuelle Farezin

Formada em jornalismo e apaixonada por pixels, trabalha com projetos de mídia. Faz do feminismo seu impulso diário.

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