14 Quadrinhos que as mulheres deveriam ler

Meave Gallagher fez uma lista de certos quadrinhos que, segundo ela, seriam indispensáveis tanto para mulheres que amam esta linguagem quanto para as que estão começando a amá-la mas sentem a necessidade de dicas. Quero lembrar aqui que esta lista serve para mulheres de todas as idades, pois não existem regras para amar e conhecer o mundo dos quadrinhos e – principalmente – o mundo da representatividade feminina.

Ainda não li todos da lista, mas aqueles que li também recomendo (e muito!), e acrescentei ao texto original algumas sugestões das quais senti falta. Também procurei acrescentar informações sobre se os quadrinhos foram ou não publicados no Brasil. Além disso, a tradução aqui é livre, quem quiser conferir o post original, o link tá ali no fim do texto.

Aproveite a leitura, divirta-se e não esqueça: vamos fortalecer a rede de escritoras mulheres e ajudar a melhorar nossa representatividade, além de como nos representam por aí!

1) LUMBERJANES. POR: SHANNON WATTERS, GRACE ELLIS, AND NOELLE STEVENSON

1

Lumberjanes é uma aventura sobre um acampamento de garotas que você estava esperando. Mal, Ripley, Molly, April e Jo dividem uma cabana no acampamento “Miss Quinzella Thiskwin Penniquiqul Thistle Crumpet’s” para garotas hardcore, onde o sobrenatural é normal e nada é o que parece ser – a não ser o afeto entre as campistas. Como a co-criadora Noelle Stevenson disse ao Vanity Fair: “Se você só tivesse mulheres interagindo com outras mulheres, o que isso te permitiria fazer?” A resposta é: um dos mais populares, cativante, excitante quadrinhos do ano passado.

Infelizmente, Lumberjanes é uma série de quadrinhos que ainda não foi publicada no Brasil, mas está sendo aguardada com afinco por aqui. Inclusive dizem que também vai virar filme pela 20th Century Fox.

2) PERSEPOLIS, POR MARJANE SATRAPI

2

Desenhado em um exuberante e expressivo preto e branco, as memórias de Marjane Satrapi crescendo no Teerã durante a Revolução Islâmica é um dos melhores quadrinhos modernos. Satrapi é brutalmente honesta sobre sua própria imaturidade, principalmente quando sua família manda ela para estudar o ensino médio em Viena. A partir daí, Satrapi revive a saudade de casa e depressão que sofreu, a qual fez ela voltar para o Teerã. Porém, como uma garota bastante independente numa recente cidade conservadora, Satrapi enfrenta dificuldades que nunca esperou. Com um traço grosso, Satrapi transmite sentimentos complicados que são ao mesmo tempo únicos e universais. Traduzido por Mattias Ripa, Blake Ferris, e Anjali Singh.

Marjane Satrapi é uma das minhas autoras de quadrinhos favoritas! Além de ter o Persépolis traduzido, também tenho o Frango com Ameixas e o Bordados. E é este último que indicaria para fazer parte desta lista, já que, também a partir de memórias, Satrapi conta diversas histórias sobre as mulheres de sua família, com aquela sensibilidade incrível. Os três quadrinhos da autora são lançados no Brasil pela Companhia das Letras.

3

4

3) BOBBINS/SCARY GO ROUND/BAD MACHINERY/GIANT DAYS, POR JOHN ALLISON

5

John Allison escreve quadrinhos desde o começo dos anos 90. Sua primeira história, Bobbins, nos introduz a cidade britânica de Tackleford, porém seus personagens mais importantes aparecem na história mais recente Scary Go Round e Bad Machinery. Elas estão online (em inglês), então você pode explorar cada escapada de Shelley Winters, intrépida repórter, ou então das cabeludas, solucionadoras de mistérios e adolescentes Shaunna, Charlotte e Mildred. Sua última e mais atual série de quadrinhos, Giant Days, acompanha as alunas universitárias Daisy, Esther e Susan nas suas ordinárias e extraordinárias vidas. Cada volume é ilustrado por um novo artista, portanto o humor seco de Allison passa por diversas e criativas interpretações.

4) HARK! A VAGRANT, POR KATE BEATON

6

Kate Beaton comanda o mundo dos quadrinhos online e impressos. Hark! A Vagrant e Step Aside, Pops, são as duas coleções publicadas de seus quadrinhos online de reinterpretação histórica, literatura clássica, e terríveis cartoons antigos através de uma lente moderna. Beaton usa pesquisas para fazer com que seus quadrinhos sejam tão fiéis quando possível, utilizando de um humor astuto, piadas ridículas sobre bundas e um pouco fantasiosa para ensinar lições de história: considerando a expressão perfeitamente cética de Ida B. Well quando escuta das sufragetes brancas que preferiam ela fora da marcha sufragista, mas, “It’s naawt a race thing.” (“Nããã é sobre raça”).

Muito legal essa! Não conhecia e já estou amando. Os quadrinhos impressos não existem no Brasil, porém dá para comprar pela internet importado. O bom é que Kate Beaton possui um site com as publicações online, então tem como aproveitar!

5) FUN HOME: UMA TRAGICOMÉDIA EM FAMÍLIA, POR ALISON BECHDEL

7

Quando Alison Bechdel estava na faculdade, seu pai morre de repente, deixando sua família com diversas perguntas sem respostas. Através de sua memória gráfica Fun Home (agora também em um musical da Broadway), Bechdel explora a história de sua família para tentar descobrir quem era seu pai realmente, porque ele escondia sua identidade sexual e o que realmente aconteceu no dia de sua morte. Ela também conta a história da descoberta de sua própria identidade sexual, desde antigas paixões até seu primeiro relacionamento sério na faculdade. Bechdel enfrenta de olhos abertos os confusos segredos de família, balanceando o sofrimento com diversão. Há muito para se comunicar numa história em quadrinhos, mas Bechdel está muito a cima do desafio.

Bechdel, para mim, é uma das mais importantes quadrinistas modernas, principalmente pela densidade de suas histórias e complexidade de seus pensamentos. Fun Home, que gosto muito, nem é o meu preferido da autora, pois em Você é minha mãe?, onde conta a relação conturbada com sua mãe, Bechdel está incrível e mais visceral do que nunca. Também indico The Essecial Dykes To Watch Out For, que ao contrário das outras duas histórias publicadas no Brasil pela Conrad e Companhia das Letras ainda não foi publicada por aqui. Mesmo assim, vale pelo menos pesquisar sobre, já que é uma série de tiras com a vida de personagens lésbicas que transpassa discussões desde filosóficas, acadêmicas e morais, até aquelas de romance mais baratas.

8

9

6) BITCH PLANET, POR KELLY SUE DECONNICK E VALENTINE DE LANDRO

10

Fãs de ficção científica, Orange Is the New Black, muita ação e grandes personagens são loucas por Bitch Planet. A premissa da autora Kelly Sue é a clássica distopia: e se os homens pegassem todas as mulheres não complacentes e exilassem elas em uma prisão fora do planeta? Bitch Planet usa o estilo de filmes sobre exploração dos anos 60 e 70 para subverter totalmente o gênero, colocando mulheres de todas as formas, tamanhos, cores e identidades em situações ultrajantes e desafiando elas a escapar. Imagina se todos os heróis e vilões de ação dos últimos 40 anos fossem mulheres: Bitch Planet é esse sonho virando realidade.  

Estou para ler este há bastante tempo, parece ótimo! A autora Kelly Sue também escreve Capitã Marvel, então deve saber bem sobre representar mulheres. Está na minha lista de desejo desde quando descobri o Comixology, sistema online de compra de quadrinhos lançados semanalmente ou mensalmente, bom para nós que não temos acesso a eles nas bancas, por exemplo, e também dependemos que editoras os publiquem aqui.

7) THE UNBEATABLE SQUIRREL GIRL, BY RYAN NORTH AND ERICA HENDERSON

11

Para pessoas que não acompanham quadrinhos, o “Universo Marvel” cria filmes enormes de super-heróis, com infinitos personagem com histórias longas e complicadas. Porém, nem se importe com isso, porque você tem The Unbeatable Squirrel Girl. Escrito por Ryan North, criador da amada Dinosaur Comics, e desenhado por Erica Henderson, essa hilária e amalucada releitura das personagens Marvel foi feita para você. Como meia-humana e meia-esquilo, Doreen Green frequenta a faculdade, ela quer ser “normal”, porém com um melhor amigo esquilo, um rabo gigante e peludo, e um histórico de heroísmo, ela tem que salvar o mundo também. Assista Squirrel Girl acabar com os maiores inimigos dos quais você vai ouvir falar, de maneiras mais hilárias e tocantes.

Infelizmente essa história também não tem previsão para ser lançada no Brasil, porém, para nossa (quase) alegria é facilmente encontrada em sites brasileiros que trabalham com quadrinhos importados.

8) HONOR GIRL, POR MAGGIE THRASH

12

Em sua memória sobre o primeiro amor em um acampamento de verão, Maggie Thrash usa a simples e bonita técnica de aquarela para ilustrar a história do que aconteceu quando ela se apaixonou por uma monitora no acampamento de verão Cristão só para garotas. Enquanto o espaço aberto e o imenso céu fazem Maggie sentir-se livre, as subjetivas, conservadoras regras sociais a constrangem. Maggie com 15 anos está prestes a explodir com suas emoções, usa o campo de tiro para extravasar, até não se conter mais. Honor Girl é uma história vinda do coração contada honestamente e generosamente. Algumas partes estão disponíveis online, é para se apaixonar!

9) SAGA, POR BRIAN K. VAUGHAN AND FIONA STAPLES

13

Entre guerra e maternidade, qual é mais difícil? Saga, uma série futurística escrita por Brian Vaughan e ilustrada por Fiona Staples, traz um conto adulto interestelar sobre amor durante as atrocidades de uma guerra entre planetas. Marko e Alana lutam para proteger sua nova família enquanto fogem daqueles que de ambos os lados iriam usá-los ou destruí-los. Como Vaugham explica, ele queria escrever sobre a dificuldade do casamento e paternidade, porém escondida entre uma arrebatadora história de ação para deixar as coisas excitantes. A arte de Staples é tanto lírica como íntima, ela até escreve a mão as narrações da bebê Hazel. Sim, as vezes a narradora é um bebê – quadrinhos não são ótimos?

São ótimos sim! E Saga é mais um deles. Comecei a ler quando comprei o lançamento do Volume Um no Brasil, pela Devir. Por enquanto só lançaram este por aqui, mas se alguém quiser acompanhar como eu, também está disponível no programa Comixology, do qual falei antes. Alana é uma das melhores personagens mulheres que já acompanhei nos quadrinhos, é bom imaginar o que podemos fazer e até onde podemos chegar, sem estereótipos e preconceitos com o gênero feminino. Além do mais fala sobre maternidade/paternidade, o que é muito legal também. Mais uma vez: recomendo!

10) MS. MARVEL, POR G. WILLOW WILSON

14

Quando Kamala Khan surgiu em 2014, sacudiu pessoas por ser uma garota adolescente incrível vivendo em Jersey City, uma observadora muçulmana filha que imigrantes paquistaneses, tanto uma tradicional super-heroína quanto super-fã. Como escritora (e convertida ao islã) G. Willow Wilson disse para a Vulture: “Quando você cresce como uma minoria e se sente alienada do mainstream, você procurará outras pessoas que também se sentem assim. Assim que é tradicionalmente a cultura geek.”. Kamala esconde seu mundo de acabar com vilões com as obrigações familiares e deveres de casa, tentando entender suas identidades pública e privada, enquanto escreve fan fiction. A nova Ms. Marvel realmente quebra tudo.

Li o primeiro volume da nova Ms. Marvel em inglês e ainda não continuei a história, porém estou confiando na notícia que em breve a Panini lançará a série aqui no Brasil (link). Seria emocionante, ainda mais depois de saber como a autora tem consciência da importância de sua super-heroína adolescente e muçulmana.

11) GIRL GENIUS, POR PHIL AND KAJA FOGLIO

15

Normalmente webcomics se transformam em revistas impressas, mas a Girl Genius de Phil e Kaja Foglio fez sucesso na direção contrária. Com as palavras-chave “aventura, romance, CIÊNCIA MALUCA!” você vai conhecer a história alternativa, histórico-ficcional que Foglio criou para ser desenhada facilmente, e Agatha Clay é tudo que você quer em uma heroína desajeitada: no lugar de músculos e grandes armas, Agatha viaja um mundo de cientistas malucos e intrigas politicas com inteligência e charme. E também tem um triângulo amoros, porque, claro, sempre tem. Mesmo se você ler online ou impresso (ou os dois!), Girl Genius fará você viajar.

Acredito que este quadrinho não chega tão cedo no Brasil, estou muito interessada por ser realmente uma produção independente e livre dentro da internet, inclusive está integralmente disponibilizada online aqui, porém em inglês.

12) LOVE AND ROCKETS, POR GILBERT, JAIME, E MARIO HERNANDEZ

16

Uma das mais adoradas séries do movimento alternativo de quadrinhos dos anos 80, Love and Rockets mistura ficção científica, relacionamentos contemporâneos e cultura latino-americana de uma forma totalmente original. Uma produção dos irmãos Hernandez (Gilberto, Jaime e Mario), L&R usa vinhetas individuais para acompanhar as vidas e amores das melhores amigas Maggie e Hopey, além de muitas outras personagens espalhadas entre Los Angeles e uma vila ficcional no México, chamada Palomar. É uma leitura emocionante com profundeza, humor afiado e realismo mágico – pense em algo como “Como Água para Chocolate” com mais punk rock. (Além do mais tem um guia de leitura.)

É muito incrível ter contato com uma história tão clássica assim com ótimas representações de mulheres, porém, mais uma vez, o contato com ela aqui no Brasil não parece ser tão fácil, apenas através da internet e de lojas com importação. Além do mais, é uma série bastante longa para se ler desde o começo até o fim, por isso da existência de famosas coletâneas.

13) PROMETHEA, POR ALAN MOORE, J. H. WILLIAMS III, E MICK GRAY

17

Quadrinhos sempre foram inspirados em mitologia, mas talvez não tanto quanto Promethea de Alan Moore, uma heroína trazida a vida pelo poder da imaginação. Durante uma pesquisa de faculdade, uma estudante chamada Sophie Bangs descobre que ao longo da história, certas escritoras manifestaram a guerreira de outro mundo Promethea através da canalização de suas energias criativas nos seus trabalhos sobre a lenda. Quando ela se transforma em Promethea durante uma batalha quente contra demônios infernais, Sophie descobre que o mundo da literatura e mágica não estão tão separados. Com uma arte incrível e um surpreendente roteiro filosófico, Promethea é uma completa satisfação para quem lê.

Essa não é a primeira vez que Alan Moore me surpreende escrevendo boas histórias sobre (e com) mulheres. Além de existir Promethea, com edição brasileira pela Panini Comics – por enquanto apenas o primeiro volume definitivo – não faz muito tempo que li Do Inferno, pela editora Veneta, onde Moore demonstra toda a fúria e sensibilidade da história do famoso serial killer Jack Estripador que matava apenas mulheres de “vida duvidosa”, uma história que para mim tem muito mais para contar sobre estas mulheres, e o que elas passavam, do que sobre o assassino em si.

18

14) MONSTRESS, POR MARJORIE M. LIU E SANA TAKEDA

19

Você pode se sentir as vezes como um monstro, porém Maika, a protagonista de Monstress por Marjorie M. Liu e Sana Takeda, realmente é um. A arte de Takeda influenciada por Manga Japonês é rica em detalhes, dando vida ao completamente brutal e violento mundo de Liu, no qual todo mundo esconde algum segredo sombrio. O primeiro e grande volume foi lançado recentemente, portanto está apenas começando a cruel luta de Maika para libertar-se da escravidão, presa dentro de seus poderes monstruosos e desvendar o mistério da morte de sua mãe. Se você quer uma grande, bela, terrível e violenta mágica, Monstress é seu próximo quadrinho favorito.

Este parece mais um belo quadrinho da Image Comics, que também lançou Saga e Bitch Planet, presentes nesta lista. Como esta no começo, ainda há grande esperança de se popularizar e quem sabe ganhar uma bela edição no Brasil. Que tenhamos sorte!

 

Tradução + comentários por Beatriz Demboski Burigo, que também providenciou as imagens.
A imagem destacada é do quadrinho Persépolis, de Marjane Satrapi.
Original em inglês, por Meave Gallagher, publicado na Cosmopolitan.

Comments

Comentários