Auto estima na prática
Serena Williams é uma mulher linda. Do tipo gostosona, corpo atlético, curvilíneo. Do tipo que se encaixa nos padrões machistas – como a “Mulher Melancia” ou a Cinderela baiana, Carla Perez.
Mas sempre que lemos ou ouvimos comentários sobre a aparência da Serena, eles são sempre debochados e ofensivos, principalmente vindo dos homens. E isso só acontece porque Serena é negra. Com o mesmo corpo, mas de pele branca, ela seria a gostosona do momento.
Aposto meu pescoço que mais da metade dos homens que riem e debocham de Serena a desejam.
Aposto meu pescoço, que mais da metade dos homens que riem e debocham de Serena, a desejam. (Meu pescoço porque eu não tenho os 7 milhões em imóveis que tem o Michelzinho, senão seria essa a aposta, tenho certeza que iria ganhar.)
E Sharapova, bem, não é exatamente o tipo de beleza que impressiona e chama atenção. Mulher comum, rosto normal. Bonita, porém,absolutamente comum. Mas é aceita e desejada por 10 a cada 10 homens. Brancos ou negros.
É a princesa dos contos de fadas. Loira, olhos claros. Ninguém faz piada, ou ridiculariza sua aparência normal, comum. Ao contrário, falam abertamente que ela é o que eles querem. Isso é comum na vida cotidiana. Toda mulher negra sabe disso.
Os homens querem estar com mulheres negras, desde que ninguém saiba que eles estão. Esse é um dos modos de manifestação do racismo. Nunca, homens falam das beldades negras. E quando falam, é enfatizando o interesse sexual, objetificando nossos corpos. E em off. Sempre, em ambientes restritos que lhes poupam do constrangimento de assumir que gostam de uma mulher e essa mulher por acaso é negra. Seria uma vergonha para eles, né?! Então, nos dizem as escondidas e as escondidas também nos propõe encontros. Sem muita cerimônia, sem muito mise-en-scène, porque não passa pela cabeça desses homens amar uma mulher negra publicamente…
Isso é racismo meus senhores, e nem tentem explicar que não é, porque piora. Nem venham com essa papinho de gosto e tals – fica mais feio ainda…
Isso é racismo meus senhores, e nem tentem explicar que não é, porque piora.
Nunca vi nenhum homem se referir à beleza de Beyoncé ou Rihanna como o fazem com Madonna ou JayLo. Quando não se pode desmerecer a beleza, ignoram ou fazem comentários modestos. Carolina Dieckmam e Luana Piovanni são sempre aclamadas. Thaís Araújo, Cris Viana, etc..nunca.
Mas todo esse meu rodeio, é só pra dizer pras mulheres negras que nunca se esqueçam que o problema não é com vocês, é com os machiracistas que nos cercam. Nunca se esqueçam disso. Somos tão lindas, tão mulheres quanto qualquer outra mulher branca. Somos carinhosas, amigas, inteligentes e temos todos os atributos que os machiracistas dizem que procuram em uma mulher. Então meninas pretas, esse problema não é nosso, não é conosco o defeito, é com eles.
Meninas pretas: esse problema não é nosso, não é conosco. O defeito… é com eles.
Beijos e se amem de todas as formas possíveis. Deixem de lado, se possível, o romantismo (esse amigo íntimo do tal do patriarcado…) e aprendam que não existe sofrência na solidão. Existe sofrência nos relacionamentos falsos, abusivos, convenientes ou abafadores de carências, entre outras formas doentias de se fazer pares “amorosos”. Nos ensinaram que estar junto é estar feliz. Estar junto de si mesma é estar feliz, a companhia é tão somente um complemento agradável, mas não essencial, não fundamental.
Isso é auto estima na prática.
Por Joice Berth
Imagem destacada: cortesia da autora.
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