Sou mulher e escrevo

Eu vou escrever. Eu posso escrever, eu tenho os meios, eu sei como fazê-lo. Eu vou escrever.

Mesmo sabendo escrever, mesmo sabendo um grande repertório de palavras para poder transmitir meus sentimentos no papel, eu me pego pensando em refutar a ação. Sei, que de tantas outras coisas, refuto porque SOU MULHER.

Me ensinaram a ficar no banco de trás e apenas ouvir, me ensinaram que sou ignorada quando tento impor minha voz, me ensinaram que por mais que eu saiba sobre diversos assuntos, eu não vou ser convidada a expor minha opinião em uma roda de homens, não sou convidada porque SOU MULHER.

Diariamente eu e muitos de vocês vivemos machismos que incomodam pra car@#@%, mas um deles me repugna mais: O de achar que a mulher não sabe nada sobre nada, de achar que somos objetos decorativos, que não sabemos discursar, que não sabemos sobre literatura e que não queremos discutir sobre filosofia, historia, politica e afins.

Eu vou dizer uma coisa pra vocês: Hoje eu peguei uma carona, eu e meu namorado, com um “amigo”. O amigo ficou conversando com meu namorado a viagem inteira, falaram sobre tudo que se podia falar, sobre respeito, sobre lealdade, sobre filosofia, literatura, enfim, eu até tentava me colocar na conversa, mas se você é uma mulher e tá lendo isso, você sabe como é difícil e um tanto quanto enjoativo.

Depois disso, como se já não fosse o suficiente eu ser esquecida atrás do carro, eu tive que passar por essa: chegamos na casa do meu namorado, ele desceu, e o amigo se deu conta que ia ter que me levar pra casa sem meu namorado! QUE FALTA DE RESPEITO COM MEU NAMORADO NÃO É MESMO? Então ele falou para meu namorado voltar no carro e me trazer junto, isso faz muito mais sentido né não? No caminho? As perguntas para a localização da MINHA CASA , não foram feitas para minha pessoa, foram feitas para o meu namorado, porque, de novo, faz muito mais sentindo. Não sei nada de direção, porque SOU MULHER

Digo outra coisa pra vocês: um ser humaninho muito próximo de mim, que não citarei aqui, não sabe conversar comigo. Não porque ele não sabe falar, ou não tem assuntos, mas sim porque ele se nega a acreditar que qualquer assunto que ele comece, eu saberia dizer algo que realmente fosse relevante. Mas esse ser humaninho vira uma enciclopédia ambulante perto de um outro “macho-alfa”, eles conversam sobre economia, política, educação, esportes, tudo. E não querendo massagear meu ego, mas já o fazendo, eu sei muito mais sobre o que eles geralmente conversam, mas quando eu abro a boca? =PLAH= Argumento inválido, pois foi dito da minha boca. Argumento inválido, pois SOU MULHER.

Eu quero pedir uma coisa: eu quero pedir cuidado. Pedir um pouco mais de pensar, use mais do que 7% do seu cérebro. POR FAVOR. Faça isso pelas suas irmãs, filhas, mães, avós, bisavós, irmãs, amigas, primas, famosas, crianças, faça para que a nossa sociedade evolua, faça, e fale, e ensine e escreva. Porque isso é o que a evolução espera.

E nada é pior do que assistir a agonia de uma esperança.

SOU MULHER, E ESCREVO.

Por Fabi Rodrigues

Autoras da imagem destacada:
Sylvia Plath, Chimamanda Ngozi Adichie, Clarice Lispector
Carolina de Jesus, Virginia Woolf

Gayatri Chakravorty Spivak, Maya Angelou, Clara Averbuck

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