Sobre ser psicóloga e feminista
A escuta de gênero parte da ideia de que você começa um trabalho terapêutico e uma das coisas que você alcança, ao final do processo, é a consciência de gênero. Ou seja, a percepção do lugar onde aquela mulher é colocada.
A violência que mais machuca, tirando o feminicídio, que mata, é a que é invisibilizada e naturalizada. Aquela em que elas escutam uma piada, um xingamento, um ‘não’ para um pedido de aumento de salário, são ridicularizadas.
Em todas essas situações, elas pensam que o problema está com elas. Quando elas conseguem nomear esse tipo de violência, elas percebem que é um problema social, elas se instrumentalizam e conseguem se proteger e se emancipar. Consciência de gênero é um dos resultados da escuta de gênero, pois coloca essas mulheres em um lugar político e social em que elas conseguem perceber as opressões, lidar com elas e a partir dessa percepção começar seu processo de empoderamento.
Uma das coisas que buscamos quando realizamos escuta de gênero é desnaturalizar algo que faz a mulher sofrer e que para elas é destino. Perceber isso como algo que é construído e que ela pode dizer ‘eu não quero mais esse lugar’. Um exemplo é o gaslighting, uma forma de abuso mental que consiste em distorcer os fatos e omitir situações para deixar a vítima em dúvida sobre sua memória e sanidade.
O que é um sofrimento de gênero? É um sofrimento por ser mulher. Porque, essencialmente, a mulher sofre? Não, porque certos seres, por terem certas marcas corporais, a partir de certo momento histórico – que são as mulheres a partir do século XVIII – são colocadas em lugares desempoderados. E o desempoderamento faz adoecer.
As próprias mulheres acabam introjetando esse tipo de representação das publicidades e se tratam de forma objetificante. E isso também tem a ver com a depressão. É a forma como elas se avaliam a partir de um olhar que as objetifica.
Por Valeska Zanello, representante do CFP no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Imagem destacada: Andre Brouillet “Jean-Martin Charcot Presenting a Hysteric (Blanche)” 1887
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