Toda nudez será castigada…ou não!

Nessa semana, entre o lançamento do Pokemon Go no Brasil e a tão aguardada abertura das Olimpíadas do Rio 2016, saíram na imprensa internacional duas notícias de nudez de famosos. E as duas, por sua vez. tiveram repercussões completamente diferentes. Como era de se esperar…

A primeira a cair na mídia foi a esposa do candidato à presidência dos EUA, Melania Trump, cujas fotos de nudez foram publicadas por um jornal estadunidense na tentativa de rebaixá-la (e consequentemente seu marido) perante os eleitores norte-americanos.  É bem verdade que as fotos eram parte de um trabalho que Melania havia realizado em seu tempo de modelo, e o tom a reportagem foi tão baixo que chegou a subsolo da imprensa marrom.

Mas – vamos combinar – nós podemos não concordar com o polêmico candidato, porém atacar a imagem da esposa dele foi um golpe muito baixo, até mesmo contra ele. A publicação contra Melania tem um tom covarde e misógino, numa tentativa sórdida de atacar aquilo que o jornal considera como o ponto fraco do candidato, sua esposa. Atitude comumente adotada em períodos históricos diferentes: atacar as mulheres para atingir os homens, e isso vem desde os tempos bíblicos.

Maria Antonieta, por exemplo, sofreu na pele toda a raiva direcionada à monarquia e a burguesia francesa durante a revolução, tanto que entrou para a história através de inúmeras difamações. Felizmente, os tempos mudam, e Melania teve mais sorte que Maria Antonieta por contar com uma assessoria de imprensa (e uma que soube lidar com a situação), e com uma sociedade com um pouco mais de consciência de gênero. O que não torna menos asquerosa a publicação feita por esse jornal contra ela, apenas mostra o quão sujo, repulsivo e sexista poder ser o jogo do poder.

O segundo a aparecer nu, como veio ao mundo, foi o ator americano Orlando Bloom.  E não em um trabalho pago, ou artístico, ou qualquer coisa que pudesse justificar a nudez do ator por outro motivo que não a vontade dele. Ele apareceu nu, curtindo um sol numa praia da Itália, na companhia de Katy Perry (que estava de biquíni, diga-se de passagem).

E qual o problema disso? Nenhum.

O ator, como qualquer homem, tem a liberdade de se despir em qualquer lugar e quando quiser. Entretanto, essa liberdade não é estendida às mulheres, não importando se por livre-arbítrio, trabalho ou apenas pela arte. As fotos de Orlando, foram publicadas num tom muito diferente da publicação de Melania. Talvez porque os veículos de divulgação fossem diferentes, talvez por ele ser homem.

É interessante ver como ser homem e ser mulher influi nesse tipo de coisa. Na publicação original do Bloom, não vi ninguém tentando atacar sua honra, ou tentando ofender a Katy Perry por isso. Há apenas uma piadinha no sentido de que a Katy é o espólio do pirata (numa alusão à franquia Piratas do Caribe, do qual Bloom participou). Ou seja, o ator peladão além de poder ficar à vontade em qualquer lugar, ainda leva fama de conquistador, esteja ele de roupa ou com tudo de fora. Agora, vai uma mulher, seja ela quem for, fazer o mesmo para ver o que acontece…

É para isso que quero chamar a atenção. O tempo todo as mulheres ouvem que tipo de roupa podem ou devem vestir, por vários motivos, seja por crença religiosa ou em nome da “segurança”. Desde a nossa infância, somos ensinadas que a nudez é algo ruim e vergonhoso, e quando muito, é algo somente aceito no banho ou durante a relação sexual.

A coisa muda de figura quando se trata do tratamento dispensado aos homens. Desde cedo eles podem sair sem camisa ou nus sem temer pela segurança, ou julgamento. Homem numa praia de nudismo é pegador, mulher no mesmo lugar é sem-vergonha.

O sentimento que permanece é de que não somos donas nem dos nossos corpos.

Um Orlando Bloom não precisa ficar nu para ser reconhecido como ator, modelo ou qualquer coisa que queira. Já uma Melania Trump, se quiser ter sucesso na carreira de modelo, não pode recusar trabalho, seja com roupas ou nua para uma revista masculina. Orlando tem toda a liberdade para até mesmo, se quiser, ficar nu numa praia de um país estrangeiro curtindo o sol ao lado da sua namorada. Melania, que tirou as fotos para uma extinta revista francesa em 1995, 21 anos depois vê as mesmas fotos usadas como ataque à sua honra.

Porque essa é a nossa sociedade. Uma sociedade onde o pudor é seletivo, onde a mulher nua é punida e o homem pelado é incentivado.

Por Renata Floriano

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