Um beijo, pai.
Nas últimas semanas manifestei meu pânico, via Facebook, ao ser convidada para palestrar sobre feminismo e Direito das Mulheres.
Nunca me agradou o fato de falar em público. Menos ainda para um grande público. Mas independentemente disso meu maior receio era como abordar um tema tão renegado para um público de jovens adultos que já possuíam um conceito pré formado a respeito do tema.
Além de não querer decepcionar e colocar em risco a carreira da amiga que me confiou essa tarefa.
A palestra foi ontem e tirando o fato de eu tremer (literalmente) nos primeiros 10 minutos, foi lindo.
Falar sobre feminismo e Direito entre um grupo de amigas que compactua com as mesmas ideias ou no meio acadêmico é uma coisa, mas falar sobre violência doméstica para quem vivencia isso diariamente é outra coisa bem diferente.
Eram 90 pessoas (vetei a possibilidade das 500 que seriam), homens e mulheres com idades entre 20 e 50 anos, talvez mais. Pessoas que estavam ali dispostas a ouvir, que buscavam absorver algo sobre um tema que possivelmente nunca tinham ouvido falar.
Lidar com mesmos argumentos machistas e rasos de sempre é cansativo. Na maioria das vezes eu ignoro. Mas ontem eu não podia. Eu precisei pacienciosamente enfrentar cada um deles.
Ouvir relatos de mulheres que tentaram denunciar seus agressores mas foram ignoradas pela policia e pelo poder público e precisar encorajá-las a não desistir, quando nem mesmo eu acredito no poder público foi difícil.
Foi difícil presenciar que uma das meninas se deu conta que havia sido estuprada ontem, quando só então ouviu pela primeira vez o conceito legal de estupro.
Foi difícil lidar com o machismo enraizado nos comentários da mulheres e mesmo assim ficar ao lado delas para tentar desconstruir esses conceitos.
E embora tenha sido difícil, foi lindo! Seriam 50 minutos de palestra, que acabaram se tornando uma hora e quarenta minutos de bate papo.
Na verdade não foi uma palestra, foi uma conversa. Um bate papo para diminuir a distância entre a teoria e a prática.
Agradeço a todos os amigos que me motivaram – eu teria desistido se não fosse o apoio de vocês. Sério.
E agora que me apaixonei por isso, se preparem: vão ter que me aguentar muitas outras vezes!
Por fim, quero dedicar o textão ao meu pai. Meu pai, que não perde a oportunidade de me dizer que as minhas ideologias são só um sonho. Que o que eu acredito, é besteira. Que eu nunca vou mudar o mundo, porque afinal, as coisas são como são.
Pai, tenho certeza que ontem eu mudei o mundo de pelo menos uma mulher e isso para mim é o que importa!
Um beijo pai.
Por Mayara Bitencourt.
Imagem daqui.
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