Moana: representação importa!
Passei a infância assistindo filmes em VHS de princesa na casa da minha vizinha. Eu não tinha videocassete em casa (tempos difíceis aqueles) e ao menos uma vez por semana nosso programa era assistir um dos filmes da Disney. Com seus cabelos loiros, olhos claros e tendo como meta de vida casar com um príncipe (oi?) as moças brancas, magras e altas eram a referência que tínhamos. Na televisão, outras loiras de cabelos lisos mostravam seus corpos esculturais dentro das roupas clássicas dos programas de auditório dos anos 90. Não tinha um cabelo louco ou olhos grandões que nem os meus, nem meninas mais gordinhas e sempre aquele raio de príncipe sendo extremamente necessário para a história.
Quando adolescente queria alisar meu cabelo, me adequar ao padrão que todo mundo dizia que era o ideal para ser considerada bonita e aceita na sociedade. Odiava meu cabelo! Tinha vergonha, queria liso, igual a novela, igual o filme, igual a revista, igual tudo que dizia que aquele era o único jeito certo e coerente. Cresci insegura com a minha própria aparência e nunca via nada que fosse parecido comigo sendo referenciado em algum lugar. Bonecas, revistas, livros, nada. Ao me aproximar das ideologias feministas, aos poucos passei a desconstruir essas ideias que me foram reforçadas por um sistema excludente e que não respeita a beleza particular de cada indivíduo.
“Se como sou não é mostrado, é por que isso só pode ser ruim, né, tia?”, disse uma criança para Fabiana Pinto, que contou a história em um texto sobre representatividade da criança negra na Revista Capitolina. Todo mundo quer se ver em todos os espaços e essa representatividade é fundamental para um adulto seguro e sem dúvida alguma, mais feliz.
Eu fui crescendo e a existência do príncipe foi sumindo das histórias e dando protagonismo a meninas fortes e decididas. Em 2009 A Princesa e o Sapo trouxe a primeira princesa negra da Disney, apesar dos vários aspectos criticáveis que vão desde a escolha dos nomes dos personagens, que lembram expressões usadas para nominar as escravas, além de reforçar o papel de negros como serviçais de famílias brancas. Sem falar na referência que o filme faz à cultura africana trazendo o vodu de maneira negativa, quando o personagem usa de magia “negra” para fazer o mal.
Na última semana uma ótima notícia: o próximo filme terá como protagonista uma heroína com a pele mais escura que as apresentadas quando eu era criança, ou seja, muito mais próxima da cor da minha. Moana – Um Mar de Aventuras deve estrear no Brasil em 5 de janeiro de 2017 e conta a história de uma adolescente de 16 anos que salva o mundo. Morena e cabeluda, como eu era quando criança e não me via em lugar nenhum. E o melhor de tudo é que a história tem bem mais roteiro do que o sonho de casar com um príncipe: Moana busca encontrar a si mesma.
A história se passa na região da Polinésia, Sul do Oceano Pacífico, e a princesa Moana parte em busca de uma ilha mística com a ajuda do gigante guerreiro semideus Maui para salvar o mundo. Moana é ume personagem corajosa, empoderada, linda e ciente do que quer. Ela não tem medo de realizar suas metas e cumprir seus objetivos. Ela não é o padrão de beleza.
É assim que as meninas são, querem e devem ser.
Por Ingra Costa E Silva
Imagem destacada: adorocinema.com
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