Dei os conselhos que não recebi

Daí eu lá na minha vida de passageira, peguei o ônibus, e atrás de mim estavam duas adolescentes de seus 15 anos. Sentei, abri meu Pokémon Go e fui catar Pokémon na Assis Brasil, em Porto Alegre. Entre um Rattata e um Pidgey, não tinha como não ouvir a conversa das gurias, até porque elas falavam alto. Enfim, a história era sobre o ficante de uma delas, que tinha um comportamento bem abusivo com a guria. Coisas do tipo: Ele em relacionamentos anteriores traía a namorada; dava em cima de outras no Facebook; era grosseiro com a guria; reclamava se a guria falasse das ex dele, mas fazia questão de fuxicar os ex dela; enfim, um projeto bem-sucedido de babaca. A amiga dela por causa da pouca experiência apenas ouvia a história admirada, e a guria entre uma mancada e outra dele contava que ela pedia desculpas pra ele por tentar corrigir o comportamento ridículo dele.

E assim foi, até que chegou próximo da minha parada e eu me levantei e passei pela guria em direção a porta. Então, eu olhei pra ela, e vi naquela estudante eu mesma a 15 anos atrás, e senti empatia por aquela guria. Olhando pra ela eu entrei em conflito se deveria ou não me meter na conversa daquelas desconhecidas e passar por intrometida ou bisbilhoteira, mas também pensei em como poderia ter sido diferente a minha vida se alguém tivesse feito isso comigo. Eu me vi sentada naquele lugar e então criei coragem. Assim, quase descendo do ônibus respirei fundo e disse:

– Olha, desculpa a intromissão, mas não tive como deixar de escutar. Tu não está errada em tentar corrigir ele ou apontar pra ele os erros dele. Em toda a história que tu contou tu estava certa. E digo mais não investe nesse guri, ele está sendo muito trouxa contigo, tu merece coisa melhor. E eu só estou te dizendo isso porque eu gostaria que na tua idade alguém tivesse me dito isso, teria me poupado muito tempo e sofrimento.

Felizmente, o tempo todo em que eu falei a guria se mostrou receptiva, e a amiga dela concordou comigo com a cabeça.

Na hora a própria guria concordou, mas tentou se justificar dizendo que era muito ciumenta. E eu disse:

– Não, tu não é ciumenta, ele que se comporta como um babaca. Vai por mim que tu merece coisa melhor.

Nessa hora o ônibus parou na minha parada, eu me despedi e saí de coração aliviado por ter feito o certo. Não tenho como saber se aquela guria vai ou não seguir o meu conselho, mas pelo menos eu mostrei pra ela que ela não era a culpada e nem a única responsável por aquela relação. E hoje, no alto dos meus 29 anos, penso como seria muito melhor se alguém tivesse feito isso por mim naquela época

Por Renata Floriano
Imagem destacada: daqui

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