Estética, atleticismo e as Olimpídas
Pesquisa da Cambridge University Press mostra divisões de gênero na linguagem dos esportes.
A medida que atletas de todo o mundo chegam ao Rio para os Jogos Olímpicos de 2016, o auge do calendário esportivo mundial, um novo estudo de língua inglesa revela grandes discrepâncias na maneira como a mídia e fãs falam sobre homens e mulheres no esporte.
Usando o Cambridge English Corpus (CEC) e o Sports Corpus, especialistas em Cambridge University Press analisaram milhões de palavras oriundas de bilhões de multi-bases de dados o idioma Inglês falado e escrito, a partir de uma enorme gama de fontes de mídia, em relação a homens e mulheres e como elas são descritos em linguagem associada com os esportes olímpicos.
Quer dizer, isso quando estamos falando de atletas do sexo feminino; nós somos mais propensos a falar sobre o heroísmo de Mo Farah, Greg Rutherford ou Bradley Wiggins do que os seus homólogos do sexo feminino, como medalhistas de ouro Nicola Adams, Helen Glover e Laura Trott. A pesquisa constatou que, no CEC, as palavras ‘homens’ ou ‘homem’ são referenciadas duas vezes mais que ‘mulher’ ou ‘mulheres’; já no Sports Corpus (a sub-seção de palavras em relação ao desporto), homens são mencionados quase três vezes mais do que as mulheres.
O único contexto em que as mulheres são mencionadas mais é para marcar seus esportes como ‘outro’. A ostensiva marcação de gênero é muito mais comum para a participação das mulheres no esporte, tanto em termos da própria nomeação (“futebol feminino”) quanto das atletas participantes (“mulher jogadora de golf”). Os esporte dos homens são muitas vezes considerado o padrão – por exemplo, estamos mais inclinados a nos referirmos ao futebol feminino, considerando que o futebol dos homens é chamado apenas de futebol. De acordo com o Sports Corpus, os esportes em que isso é mais provável de acontecer são: atletismo, golf, equitação, corrida, futebol e ciclismo.
O único contexto em que as mulheres são mais mencionadas mais é para marcar seus esportes como ‘outro’.
Enquanto em alguns esportes pode ser notado algum progresso no sentido da igualdade, como o tênis que agora oferece o mesmo prêmio em dinheiro para homens e mulheres, a pesquisa sugere que preferimos discutir o comprimento da saia de Heather Watson às suas chances de ser a primeira mulher a ganhar medalha de ouro por tênis, no Reino Unido, desde 1908. A linguagem em torno das mulheres no desporto se concentra de forma desproporcional sobre a aparência, as roupas e as vidas pessoais das mulheres, com destaque para uma maior ênfase na estética mais de atletismo.
Observa-se também que, apesar do retorno de atletas do sexo feminino, como Jessica Ennis, ao invés de olharmos para a defesa de seus títulos Olímpicos, comenta-se mais, nos meios de comunicação, sobre o nascimento de seus filhos e seus casamentos do que suas esperanças recentes para vencer no Rio. Termos notáveis que surgiram como associações comuns de palavras ou combinações para as mulheres (mas não os homens) no desporto incluem: ‘envelhecida’, ‘mais velha’, ‘grávida’ e ‘casada’ ou ‘separada”. As combinações mais vistas de palavras usadas para os homens no desporto, ao contrário, são mais propensas a ser adjetivos, como ‘mais rápido’, ‘forte’, ‘grande’ e ‘real’ – todas palavras ouvidas regularmente para descrever atletas olímpicos masculinos, como Usain Bolt.
A linguagem em torno das mulheres no desporto se concentra de forma desproporcional sobre a aparência, as roupas e as vidas pessoais das mulheres, com destaque para uma maior ênfase na estética mais de atletismo.
Quando se trata de desempenho, parece que os homens também têm a vantagem competitiva: vemos “homens” ou “homem” associados com verbos como ‘mentor’, ‘vencer’, ‘ganhar’, ‘dominam’ e ‘batalha’ , ao passo que ‘mulher’ ou ‘mulheres’ está associado com verbos como ‘competir’, ‘participação’ e ‘esforçar’.
A pesquisa também mostrou níveis mais elevados de linguagem infantilizadora ou tradicionalista para mulheres no desporto, que são mais propensas a ser referido como “meninas” do que os homens são chamados “meninos”. As mulheres são duas vezes mais propensas a ser referido como “senhoras”, em comparação com “senhores” que são frequentemente referidos pelo termo neutro “homens”.
Sarah Grieves, Pesquisadora de idiomas na Cambridge University Press, disse: “A amplitude das fontes que analisamos significa que somos capazes de dar uma perspectiva única sobre a linguagem usada para descrever as mulheres e homens no contexto do desporto. É talvez surpreendente ver que as mulheres recebem muito menos tempo do que os homens e que a sua aparência física e vida pessoal são frequentemente mencionados. Será interessante ver se esta tendência também se reflete na nossa próxima pesquisa sobre linguagem utilizada nos Jogos Olímpicos do Rio. “
O estudo da Cambridge University Press observou mais de 160 milhões de palavras dentro do domínio do esporte usando o Cambridge English Corpus, e teve como objetivo analisar que a linguagem que usamos pode indicar nossas atitudes sobre gênero em relação ao desporto. O Corpus é uma enorme coleção de dados, feita a partir de uma variedade de fontes diferentes, incluindo artigos de notícias, mídias sociais e fóruns de internet.
Tradução: Joanna Burigo
Originalmente publicado em inglês em cambridge.org (imagem destacada também de lá)
Comments
Comentários