Grandes Mulheres Da História – II
A escritora Mariana Varella vem compilando, em sua página de Facebook, pequenos perfis de grandes mulheres. Ela diz: “Lendo o livro “Good night stories for rebel girls” (Histórias de ninar para garotas rebeldes), fiquei com vontade de levantar mini-bios de grandes mulheres, aquelas que não são citadas na história, apesar de fazerem parte dela. Desde criança, me chama a atenção o fato de sabermos tão pouco sobre a atuação de mulheres na história mundial. Por isso, decidi escrever sobre elas, para que nos inspirem”.
Usando a hashtag #GrandesMulheresDaHistória ela nos oferece, regularmente, pérolas de informação sobre mulheres cujos feitos definiram o curso da humanidade. Para que essas mulheres sejam ainda mais celebradas, combinamos com Mari que vamos registrar este conhecimento aqui no blog da CDMJ também. Essa é a Parte II. Leia a Parte I aqui. Fique atenta que ao longo do ano publicaremos mais. E compartilhe!
Grandes Mulheres Da História – por Mariana Varella – Parte II
Valentina Tereshkova nasceu na Rússia, em 1937. De família proletária, entrou na escola apenas aos oito anos e começou a trabalhar aos 18, em uma fábrica têxtil. Na mesma época, começou a participar de um clube de paraquedistas. Foi sua experiência com paraquedismo que a levou a ser chamada a atuar como cosmonauta. Valentina foi a primeira mulher do mundo a ser lançada ao espaço. Após 48 órbitas em volta da Terra e 71 horas no espaço, foi ejetada da espaçonave de paraquedas. Apesar de ter enfrentado vários problemas durante a viagem espacial, nenhum astronauta havia passado tanto tempo em órbita à época, o que lhe trouxe reconhecimento mundial. Em 2011, foi eleita deputada.
Imagem: Pinterest
Nadia Murad nasceu em 1993 no norte do Iraque, em uma comunidade de etnia yazidi (grupo étnico-religioso de origem curda), que não segue Alá e por isso se tornou inimiga do Estado Islâmico. Em agosto de 2014, o EI invadiu sua aldeia, matou os homens, incluindo seus parentes, e sequestrou e escravizou as meninas e mulheres mais jovens. Nadia foi submetida a torturas e estupros consecutivos até conseguir fugir, 3 meses depois. Suas irmãs, cunhadas e sobrinhas foram vendidas para membros do EI e Nadia nunca mais as encontrou. Ela hoje vive refugiada na Alemanha e viaja pelo mundo para chamar a atenção para o genocídio do seu povo. Estima-se que haja mais de 3 mil meninas e mulheres yazidis vivendo como escravas sexuais sob o poder do Estado Islâmico. Em depoimento ao Conselho de Segurança da ONU, Nadia disse: “O Estado Islâmico não veio para matar mulheres e crianças, mas para nos usar como espólios de guerra, como objetos a ser vendidos barato ou ofertados como presente”. Em 2016, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz e ganhou o título de Embaixadora da Boa Vontade da ONU. Website.
Imagem: Independent
Dandara nasceu no período colonial, provavelmente no Brasil (os relatos sobre ela são incertos). Foi uma das lideranças negras que lutou contra o regime escravocrata do século XVII. Casada com Zumbi, grande líder da fase final do Quilombo dos Palmares, com quem teve três filhos, foi extremamente importante na defesa e manutenção do quilombo, onde passou a viver quando criança. Além das atividades de cultivo, dominava a arte da capoeira, empunhava armas e liderava as mulheres que defendiam ativamente o quilombo dos numerosos ataques inimigos a que foi submetido. Tinha grande influência política e ajudava a definir estratégias para a manutenção do quilombo. Foi presa em 1694 e suicidou-se em seguida, jogando-se de uma pedreira para não se entregar às forças militares. Em 1710, o Quilombo dos Palmares foi destruído depois de resistir por mais de um século.
Imagem: Nossa Causa
Lee Yong-soo nasceu na Coreia do Sul em 1928. Aos 14 anos, foi capturada pelo Exército Imperial Japonês para servir como “mulher de conforto“, eufemismo para escrava sexual que ela sempre se recusou a usar, aos soldados japoneses durante a II Guerra Mundial. Estuprada por quatro a cinco homens por dia e torturada várias vezes, foi libertada aos 17 anos, com o fim da guerra. Envergonhada pelo que lhe aconteceu, nunca conversou com a família a respeito nem se casou. Em 1992, ao perceber que muitas mulheres se sentiam como ela, decidiu contar sua história e lutar pelos direitos das mulheres coreanas que serviram como escravas sexuais. Yong-soo viajou para os EUA, encontrou-se com o Papa e tornou-se uma das principais ativistas na luta para que o Japão reconhecesse a existência das cerca de 200 mil escravas sexuais do Exército Japonês. Os dois países selaram um acordo em 2015 que não satisfez as ativistas. Como resposta, as mulheres instalaram estátuas que lembram as milhares de vítimas do Exército Japonês. O Japão exige que a Coreia do Sul remova as estátuas, o que gerou uma crise diplomática entre os dois países. Yong-Soo continua participando de manifestações em seu país para que seu passado seja reconhecido.
Imagem: Japan Times
Nakano Takeko nasceu em Aizu, no Japão, em 1847. Filha de um oficial, treinou artes marciais e literárias. Foi adotada por seu instrutor e criada em Edo (antiga Tóquio), mas quando ele tentou casar com ela, o abandonou e retornou para sua família de origem. Foi uma das únicas samurais mulheres do país. Sua arma era a naginata (arma com uma lâmina acoplada em um bastão longo, tem forma parecida com uma foice). Aderiu à Guerra Boshin, também conhecida como revolução japonesa, contra aqueles que queriam o fim do Xogunato Tokugawa e a volta do imperador Meiji. Durante a batalha de Aizu, área que engloba a terça parte mais ao oeste da Província de Fukushima, liderou um grupo de 20 mulheres combatentes e independentes, já que as mulheres não tinham permissão para aderir ao grupo de guerreiros apoiadores. Ao liderar um ataque contra o Exército Imperial Japonês em Ogaki, recebeu um tiro fatal no peito, em 1868, aos 21 anos. Para que sua cabeça não servisse de troféu às tropas inimigas, pediu à irmã Yuko que a decepasse e levasse consigo sua cabeça. A cabeça de Nakano foi enterrada no templo Hōkai-ji, onde hoje ocorrem homenagens ao grupo de guerreiras da famosa guerra civil.
Imagem: Alchetron
Maria Augusta Generoso Estrela nasceu no Rio de Janeiro, em 1860. Filha de portugueses abastados, recebeu uma educação primorosa e logo cedo demonstrou ser extremamente inteligente. Aos 16 anos, decidiu estudar Medicina em N. York, pois as faculdades brasileiras não aceitavam alunas mulheres (a lei mudou apenas em 1879). A faculdade americana só permitia alunos com mais de 18 anos, mas Maria Augusta defendeu com tanto vigor os motivos que a levavam a requerer permissão para estudar, que a faculdade acabou aceitando sua matrícula. Alguns anos depois, diante da falência do pai, viu sua carreira ameaçada. No entanto, D. Pedro II ficou sabendo de sua história e decidiu que o Império custearia seus estudos. Formada (foi oradora da turma), fez cursos nos EUA e regressou ao Brasil, onde validou brilhantemente seu diploma e recebeu muitas homenagens. Sua história tornou-se conhecida e inspirou muitas mulheres a ingressarem no curso superior. Após casar-se com um farmacêutico ciumento, passou a clinicar na farmácia do marido, onde atendia mulheres e crianças, muitas vezes de graça. Teve cinco filhos e nunca deixou de ter contato com a Medicina, mesmo enfrentando preconceitos. Morreu aos 86 anos, em 1946.
Imagem: vigesimaturmamed.blogspot.com.br
Dahteste nasceu em 1865, em uma tribo apache no Arizona, Estados Unidos. Descrita como uma mulher muito bonita e vaidosa, foi uma guerreira corajosa e habilidosa. Na juventude, uniu-se ao bando do chefe guerreiro apache Cochise, e com ele e o primeiro marido participou de assaltos (os apaches costumavam reunir-se em pequenos grupos para tomar alimentos, animais e prisioneiros de outros grupos). Tornou-se próxima do líder Geronimo, amigo da família, e da também guerreira Lozen. Fluente em inglês, trabalhava como mensageira e tradutora para os apaches. Atuou como mediadora entre seu povo e a Cavalaria dos EUA e foi fundamental na negociação da rendição dos apaches e de Geronimo, em 1886. Passou oitoanos como prisioneira de guerra no Forte Marion, na Flórida, onde sobreviveu à pneumonia e à tuberculose, doenças que mataram milhares de nativos americanos. Mais tarde, foi enviada de navio para a prisão militar do Forte Sill, em Oklahoma, onde passou 19 anos. Viveu o resto da vida na reserva apache de Mescalero, no Novo México. Casou-se mais uma vez e vestia-se apenas com roupas tradicionais. Recusou-se a falar inglês até morrer, aos 90 anos, em 1955.
Imagem: WikiTree
Eudy Simelane nasceu na África do Sul, em 1977. Desde pequena, gostava de jogar futebol, esporte que adotou como profissão. Foi jogadora do clube de futebol feminino Springs Home Sweepers e do aclamado Banyana Banyana, ambos na África do Sul. Trabalhou também como técnica e treinava para se tornar árbitro. Aos 12 anos, assumiu sua homossexualidade. Já adulta, tornou-se uma defensora dos direitos da comunidade LGBTIQ e a primeira mulher da cidade de Kwa Therma, no subúrbio de Johannesburgo, a se declarar homossexual. Uma noite, ao voltar de um bar, foi rendida por um grupo de homens que a estuprou, inseriu uma garrafa em sua vagina e a matou com 25 facadas. Eudy tinha 31 anos, e seu corpo foi abandonado seminu. Seu caso teve grande repercussão, pois além da brutalidade do crime, Eudy era adorada na cidade. Dois dos assassinos foram condenados e outros dois, inocentados. O caso de Eudy chamou a atenção para a prática recorrente de estupros “corretivos” de mulheres homossexuais na África do Sul.
Imagem: Alchetron
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