Meu encontro com Dilma Rousseff
Agora vou ser bem sincera sobre meu encontro com a presidenta eleita Dilma Rousseff.
Ela tem consciência de gênero sim. Ela assume que não lutou por determinadas pautas por estratégia, pois sabia que não tinham chances, e usou de exemplo o Marco Civil da Internet que confessou ter sido muito difícil de ser aprovado.
Ela acredita que o empoderamento das mulheres passa pela manutenção dos seus programas sociais. Falou disso me contando que no Minha Casa Minha Vida, ela percebia como mulheres estavam sempre ali recebendo as casas sozinhas com seus filhos, isso era símbolo do que ela disse que acontece no Brasil: A mulher vive ainda no país uma opressão.
Sim ela usou a palavra empoderamento: Empoderar é incluir socialmente uma parte da população.
Segundo ela, esses programas precisavam ser garantidos, era o que Dilma mais temia que tivesse fim, com o golpe. Concluiu falando que entendia o ódio às mulheres, pois vivemos num país de ódio, que demoniza negros, mulheres e gays.
Ela tem visão sobre comunicação virtual, montou uma equipe só para isso, para ler o que era escrito nas redes. E lia! Internamente corria as informações que ela lia tudo que era escrito sobre ela. E valoriza muito as redes alternativas, era notável o cuidado de tentar se aproximar desses espaços para fortalecer a contra narrativa as grandes mídias, que, ela compreendia, tinham discursos contra ela, seu partido e suas políticas. Também diziam entre os funcionários que Dilma era muito mais reservada do que Lula, nas relações com deputados. E que isso contava muito mais contra ela.
Já no evento do Minc, além da Fundação Palmares ser presidida por uma mulher negra, a presença era enorme de mulheres negras. Participantes citaram constantemente negros, LGBT, mulheres, e não esqueceram de falar das pessoas trans. Num evento promovido para lançar uma campanha contra o ódio religioso e as perseguições que determinados grupos religiosos sofrem.
Por fim, acredito que minha visão política ganhou muito com essas duas experiências. Ser “político” no Brasil, enquanto característica e não cargo, é ceder algumas de suas posições e fazer a contra narrativa aos poucos, pois o cenário sempre foi comandando por pessoas que não entendem a necessidade da representação e apoio a grupos socialmente oprimidos.
Queria que as pessoas tivessem consciência disso quando falam bobagens na internet. É MUITO MAIS DIFÍCIL DO QUE PARECE FAZER A CONTRA NARRATIVA. A maioria de nós não está inclusive preparado para isso, mesmo sendo ativista e intelectual.
Dilma é mais forte do que se acredita, o que se dizia nos corredores é que ela que consolou Lula pós votação do Congresso. Dilma teve atitudes que ninguém esperava, mas foi a unica presidente que ao meu ver levou política a sério, e isso incomodou muitas pessoas. Nossos deputados estão acostumados com pão e circo, querem a cervejinha e a selfie com o presidente para mostrar para os amigos. Se isso não acontece, se sentem “traídos”. Ela era acusada de ser dura, mas como Dilma mesmo me disse:
“Eu sou vista como dura, os homens que agem igual a mim são normais.”
Depois de tudo isso, não preciso nem dizer qual a posição que assumo nesse momento. Dilma é muito mais do que acreditamos e tem muita coisa que ainda não foi dita e nem feita. O Temer não terá os mesmos cuidados e pautas, isso é um fato. Ele extinguiu ministérios ligados a grupos sociais oprimidos e não nomeou nenhuma mulher.
Ando bem exausta dos cientistas políticos de redes sociais que possuem dificuldades de entender conjunturas e acreditam que esse novo governo não será diferente. Será, e muito. Já começou sendo, pela forma que se colocou no poder.
Por Stephanie Ribeiro
Imagem destacada: Chorando (©Alan Azevedo) – 12/05/2016
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