A ciência é sexista

Uma pesquisadora indiana está lançando um livro que trata do sexismo na ciência. A obra de Angela Saini, intitulada “Inferior: How Science Got Women Wrong” (Inferior: como a ciência errou com com as mulheres, em tradução livre) argumenta que a ciência, comandada majoritariamente por homens, fez as mulheres acreditarem, erroneamente, que nós somos mais fracas que os homens.

Em suas pesquisas, Angela encontrou elementos flagrantes que colocam a mulher numa posição de inferioridade intelectual e física em relação aos homens. Mas, como provariam estudos recentes, esta noção é equivocada. A pesquisadora cita estudos antropológicos e genéticos que revelaram que homens e mulheres tinham princípios igualitários nos primórdios da humanidade, dividindo todas as tarefas.

Para corroborar o que Angela afirma, existem dois estudos que trazem luz ao tema. O estudo realizado pela Universidade College London revelou que os humanos pré-históricos não faziam distinção entre os sexos, mostrando evidências de que as mulheres jovens que não estavam grávidas e não tinham filhos muito pequenos também iam à caça com os homens que também não tinham filhos pequenos para cuidar. Ou seja, jovens solteiros e sem filhos, de ambos os sexos, participavam da tarefa de buscar alimentos através da caça e da coleta de vegetais. Essas evidências foram coletadas com a análise feita em duas tribos modernas que preservam hábitos bastante similares com as tribos pré-históricas, que foram comparadas com os vestígios que as mesmas deixaram.

Vários outros estudos apontariam que a própria evolução humana se deu com uma ajuda inestimável dos homens nos cuidados dos filhos, ajuda sem a qual nós, como espécie, poderíamos ter desaparecido. As pesquisas mostram que o aumento do cérebro humano tornou impossível um bebê humano nascer com todas as habilidades que outros animais nascem. Nós nasceríamos ligeiramente prematuros e, portanto, precisamos de mais cuidados e atenção. A tarefa de proteger a prole também era dividida igualmente e teria sido a divisão de tarefas que nos possibilitou a sobrevivência até os dias atuais.

Teria sido a divisão de tarefas o que nos possibilitou sobrevivência.

No livro, o ponto central que a cientista indiana faz é que a ciência é totalmente capaz de reforçar estereótipos de gênero e, por isso, pessoas mal intencionadas se revertem à ciência para naturalizar características femininas que nos inferiorizam e contribuem para a perpetuação do patriarcado.

Segundo Angela, a “ciência atingiu esse estranho status de ser a única fornecedora de verdades imparciais“. Mas a ciência é feita, na sua maior parte, por homens – o Brasil é o único país do mundo na atualidade que possui um número generoso de mulheres cientistas, quase igualitário. E, obviamente, quem perpetua o mito da infalibilidade da ciência, são os próprios cientistas. Com esse livro, a autora busca estudar o patriarcado através das lentes da ciência.

“Historicamente, as mulheres têm sido consistentemente excluídas da comunidade cientifica, afirma Saini, o que deixa espaço para o preconceito contra as mulheres andar solto. Ela exemplifica essa ideia com o próprio “Pai da Evolução”, Darwin, para quem as mulheres eram “menos evoluídas” que os homens.

Entre algumas das ideias principais analisadas no livro, a autora destaca a força física, que coloca as mulheres como mais fracas que homens (o que seria apenas mais uma construção social, assim como a feminilidade como a conhecemos hoje, com o uso de maquiagem e vestidos, entre tantos outros) e a intelectualidade (que atualmente uma parte da sociedade já aceita como sendo igual para ambos os sexos).

Da força física, Angela aponta que a capacidade dos homens de transformar uma quantidade maior de energia em massa corporal estaria na grande diferença entre os homens e mulheres, mas não porque as mulheres não têm essa capacidade genética. É que as mulheres também o fazem, mas essa energia não é distribuída para braços e pernas, mas sim para a função menstrual e para a gestação.

A principal ambição da pesquisadora é trabalhar num novo modelo científico que reconheça que a ciência pode falhar (ao estabelecer caraterísticas que definam um sexo em favor do outro) e está ainda sujeita ao preconceito humano nos resultados.

Por Andreia Nobre
Imagem destacada: The New York Times

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