Jesus, Platão e Interpretação

Acho que poucas pessoas foram mais mal interpretadas no mundo do que Jesus Cristo e Platão. O primeiro foi categórico e mandou a gente amar a todos e todas, sem nenhuma distinção. Taí o mundo provando que quase ninguém entendeu nada.

Platão, por sua vez, disse que o amor profundo pode ser irrealizável, de tão difícil e raro. Pronto, era tudo o que o povo precisava para cunhar um termo que o pobre diabo nunca nem falou, escreveu ou sequer pensou.

Passaram a fofocar pelos cantos que amor platônico era aquele tipo de amor que não dá certo. Que Platão não acreditava no amor e mais um monte de outras baboseiras típicas das mentes pequenas.

Só que tudo o que Platão queria, no final das contas, era dizer que o ser humano tem três níveis de interação. O primeiro, mais superficial, é a física. Você pode achar que ama alguém por causa do corpo, do cheiro e da temperatura da pele daquele pessoa. Só que isso não é amor; é desejo.

A segunda forma de interagir com outra pessoa é a intelectual. Você pode achar que ama alguém pela forma como ela pensa, pelos gostos que ela tem e pela visão de mundo dessa pessoa. Mas isso tampouco é amor; é admiração. Eu mesma já mudei foi muito e hoje me considero uma pessoa totalmente diferente de quem eu já fui um dia.

Por fim, a terceira forma de interação é pelas virtudes. Virtude, meu povo, é o que há de mais profundo na gente. Beleza, justiça, bondade, generosidade… Tudo isso é virtude. E quem tem essas características e ama o outro ou a outra por causa delas, ama num nível de profundidade que é muito raro, muito difícil de se atingir. Para encontrar o verdadeiro amor é preciso abrir as entranhas; é preciso cutucar o fundo da alma, é preciso entender os arquétipos, é preciso olhar com lupa o nosso Self e descer para além da fossa das Marianas. Ou seja, é difícil pra danar encontrar quem se ame assim.

Isso porque, para a gente chegar nesse nível, é preciso atravessar os outros dois. Há que haver atração física e há que haver admiração para que possamos conhecer a profundidade da alma do outro ou da outra. Mas não é só. Para que esse amor seja realizável, há que haver também vontade de partilha e desejo de se atingir esse grau de intimidade. Dos dois lados.

Platão, no fim das contas, só disse que o amor pode ser difícil de se realizar porque amor verdadeiro é oceano; não é lago. Pronto, era só isso.

A moral dessa história é uma: se um dos maiores filósofos do mundo foi incompreendido, e se até hoje colocam palavras na boca de um dos caras mais seguidos e amados do planeta, quiçá farão conosco, reles mortais que desabafamos no feice, né non? Sigamos… 

Por Carol Campos
Imagem destacada: Ancient Memes

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