Sou uma grande entusiasta do amor

Sou uma grande entusiasta do amor. Amo amar e ser amada e acredito sim que a vida fica mais leve quando aprendemos a nos amar e consequentemente amar o próximo, no entanto o amor por si só não tem poder de curar. Ou talvez tenha, mas eu tenho certeza absoluta que o que o amor não tem é a capacidade de alterar opressões estruturais.

Sabe o machismo? A gente não precisa dizer pros homens que eles têm que pensar em suas mães, filhas ou irmãs que amam para que não agridam mulheres.

Sabe a LGBTfobia? A gente não precisa dizer que temos o direito de amar quem quisermos.

Sabe o racismo? A gente não precisa dizer que as pessoas precisam amar incondicionalmente porque somos todos iguais.

Sabe o que essas três coisinhas têm em comum? Nenhuma delas é o amor ou a falta dele, assim como nenhuma delas faz parte de um caso clínico de doenças. O denominador comum destes três nomes se chama “opressão estrutural”. Todos eles são conceitos abstraídos a partir de conjuntos de elementos concretos e abstratos que moldam a vida dos que fazem parte de seus respectivos grupos e, incutir uma idéia de moral cristã – o amor – não vai fazer com que as subjugações econômicas, culturais e etc., deixem de acontecer.

o amor por si só não tem poder de curar

Nós não somos todos iguais, temos diferenças importantíssimas que nos constituem enquanto sujeitos. Reconhecermo-nos mediante a diferença de outrem requer o conhecimento de que existe um padrão posto de um imaginário branco como o ideal e que isso, inevitavelmente, cria um juízo de valor na representação que criou-se deste outro e também de nós mesmos. Quando falamos de racismo, pois, temos que ter em mente que objetiva e subjetivamente, existe um sistema armado e estruturado que desumaniza, acultura e inferioriza a figura da pessoa negra.

Dá pra ter uma ideia de como isso vem muito antes de qualquer discussão a respeito de afetos? Falar sobre racismo é falar sobre a necessidade de valorizar a dignidade humana apesar e SOBRETUDO quando esta humanidade tem valores e implicações que diferem dos nossos (ou seus, já que sou parte atingida do racismo). Falar de racismo é discutir a importância do combate antirracista por meio de uma reparação absoluta, educação plural, multicultural, libertadora e emancipatória e nada disso é sobre amor, mas sim sobre um direito básico humano.

Por Zaira da Silva Conceição
Imagem destacada: “No More I Love Yous”, Lauren Salazar, 2013

Comments

Comentários