Pare de tomar a pílula – ou não. Mas leia isto.

Não consigo imaginar essa discussão há dez ou vinte anos. Tomar anticoncepcional era mandatório. Mal entrei na puberdade e as cartelinhas viraram minhas companheiras. Regular os hormônios, não engravidar, se cuidar. Tomar anticoncepcional aos vinte anos era sinônimo de ser mulher. As bolinhas adocicadas me acompanharam, diariamente, por 22 anos.

Foi depois da minha segunda filha que decidi parar. Fazer uma experiência: descobrir quem eu realmente era sem os tais hormônios. O resultado foi surpreendente. Eu amei ser eu mesma, sem aquela apatia mansa, sem qualquer controle hormonal sobre minha saúde e minha libido. E minto se disser que a decisão não surgiu numa mesa de bar do Bonfim, na qual madrinhas feministas bêbadas discutiam, com certo entusiasmo, não só detalhes do casamento de uma das nossas, mas desodorantes naturais, copinhos coletores e controle por aplicativos.

No começo foi estranho: minha pele ficou horrível, cheia de cravos e espinhas. As celulites diminuíram e eu voltei a pensar em sexo com muita frequência e ter muita vontade ao fazer. Também entendi como meu corpo funcionava. Ao contrário do que eu pensava, que a pílula me deixava mais feminina, entendi que a ausência da pílula sim me deixava ser uma mulher que percebia os ferormônios das amigas e ia emparelhando os ciclos, uma mulher com desejos, sensações e sentimentos intensos. Acho que até o meu cheiro mudou.

Adorei sentir mais agressividade e estar livre da indústria farmacêutica. Não completamente, é claro, não consigo me livrar de alguns vícios ainda. Filha de ginecologista, na infância, eu não brincava de casinha, brincava de farmacinha com as amostras que meu pai ganhava no consultório.

Agora, todo mês antes de menstruar, sinto meu corpo inteiro se preparando pra isso, sinto uma pressão arterial, vontades estranhas e uma certa impaciência. Sou extremamente regulada e cuido para não engravidar com aplicativos. É ótimo, vem dando certo há 3 anos. Eventualmente eu arrisco, então tomo um “pós-love”, o remédio com o nome mais sugestivo do mundo e tudo bem. Por que, né, duas filhas está de bom tamanho.

Quando acordo menstruada, fervo meu copinho coletor, coloco e pronto. Não sinto cheio de sangue podre, não poluo o universo com absorventes. O copinho foi outra maravilha. Na primeira vez que coloquei fiquei tensa para tirar. Nunca imaginei que eu teria que me conhecer mais para entender a dinâmica.

Eu nunca tinha me sentido por dentro completamente. Foi incrível tocar o final das paredes da vagina, quando faz aquela curvinha e parece aquelas alavanquinhas de pinball, só que com a consistência de uma gengiva. É muito interessante.

Menstruar deixou de ser um problema pra mim. Nunca me incomodei muito para falar a verdade. Jamais me interessei por aquelas injeções que suprimem o sangramento por meses. O sangue que sai leva com ele meus excessos. Me cuido nesses dias, tono mais líquidos, deito mais cedo, protejo meus pés e me sinto muito bem, como se meu organismo estivesse no modo auto-lavagem.

Não abordei os malefícios da pílula para não ser repetitiva, mas se você quiser saber, clique aqui.

Por Ana Emília Cardoso
Imagem destacada: daqui.

Nota da editora: sugerimos que você consulte uma ginecologista antes de tomar sua decisão.   

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