No, no, no, baby, no, no, no, don’t lie
Dizem que existe uma pesquisa científica que afirma que bebês apenas não matam uns aos outros porque não lhes dão armas. A forma de criação é o que nos difere. Fomos criados para o amor, pra luta, trabalho, preguiça, justiça, maldade, inveja, bondade e as combinações desses entre outros sentimentos. Encontramos nosso equilíbrio pelo caminho, nos dão ou corremos atrás de nossos limites. Ora nos livramos dos nossos hábitos a muito custo, ora sucumbimos pelo que já nos foi enraizado. Na casa do vizinho existe mais afago, doces, mais diálogo ou o oposto dessas coisas. Mas uma em específico acompanha a todos desde criança: a mentira.
A mentira faz parte do nosso código de leis não escritas, é uma regra e não a exceção. Fomos acostumados a conviver com ela. Mentimos para não ir à escola, mentimos para ganhar presente, mentimos para não levar bronca, e com o passar do tempo, alguns ficam tão bons que ao mentirem acreditam serem honestos.
Mentiras não são admissíveis, hipoteticamente, exceto se contadas pelos nossos pais, professores, patrões, governo, parceiros sexuais ou amigos que querem nos deixar feliz. Ou seja, todos que nos cercam.
Já sabemos que o político não está falando a verdade e esperamos calmamente que ele não cumpra o que prometeu para depois falarmos, debochados, que toda eleição é assim. Se quentes, somos loucos, profanos ou pagãos. Se frios somos insensíveis, nojentos ou dissimulados. Ser morno é se adequar à sociedade, à falsa alegria da normalidade, consumir até que os produtos nos consumam, reinventar-se dependendo da moda e quando a mentira não puder mais ser superficial e comprada, o sorriso plastificado dará lugar à depressão.
O amante fala que não suporta a esposa mocréia, mas dela nunca se separa. Para a esposa, fala que não aguenta a amante mal amada, que fica ligando, mulherzinha, nunca para de ligar. Na televisão querem seu dinheiro, vendem a beleza do álcool, a compra da própria segurança por ter um silicone no corpo, a ideia que um bisturi vai te fazer se sentir mais atraente, mais invejável.
Somos ensinados a cuidar do nosso corpo, mas o prazer por meio dele é um pecado.
Hoje a felicidade vem dentro de uma pílula emagrecedora; ser nerd não é mais ser um excluído, é ser um chato legal. Ser anti-social não é ser um psicopata ou alguém que realmente não queira contato com a sociedade, agora é ser exótico. Calça colorida é estilo para gente sem personalidade. Levantar dois dedinhos para cima é sinal de muita atitude, mesmo que mal tenha saído das fraldas.
Agressivos, competitivos e individualistas nos tornamos exploráveis como trabalhadores e cidadãos, mas não interessantes como pessoas. Sentados em cima de ganhos, gastos e consumo, devoramos nossos recursos enquanto procuramos desesperadamente por ar puro, luz do sol e a boa vida.
É uma espécie de conspiração na qual todos participam desde pequenos, um acordo velado em que você finge que fala a verdade e eu finjo que acredito.
Por Teresa Almeida
Imagem destacada: daqui.
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