AS Caça-fantasmas são a nova cara do Girl Power!

Sim faço questão de traduzir Ghostbusters para AS Caça-fantasmas, e vou explicar o porquê.

Em toda a minha infância, eu sempre preferi os desenhos, filmes e séries de heróis. E não que eu desprezasse as princesas, apenas não me via representada nelas, porque eu queria mais da minha vida adulta do que simplesmente casar.

Os heróis viviam as grandes aventuras, desvendavam mistérios, enfrentavam o perigo, e tudo mais que eu considerava excitante ou divertido. É verdade que na minha infância apareceram algumas heroínas nas quais eu pude me espelhar, como a Sailor Moon (que era a única que passava entre os vários desenhos de super-heróis da extinta TV Manchete), a She-Ra, a Carmen Sandiego (que era uma ladra), a Xena, a Sarah Connor (Exterminador do Futuro 2) e a Cheetara (Thundercats) foram as minhas primeiras referências. Pelo menos essas eram as referências que estavam disponíveis na TV aberta dos anos 90 e início dos anos 2000.

Depois o leque aumentou – não muito, mas vieram a Beatrix Kiddo (Kill Bill), a Lara Croft, a Tempestade (X-men), a Vampira (X-men), a Mística (X-men),a Mulher-Gavião (Liga da Justiça), a Mulher-Maravilha (Liga da Justiça), enfim, tudo o que veio nos últimos 20 anos em termos de Girl Power.

Todavia, quem desenha ou cria essas personagens são em sua grande maioria homens, e enquanto um herói por mais musculoso que seja, é vestido para proteger-se na batalha (menos o He-Man, ele ia só de sunga lutar, o que não faz sentido nem naquele universo); as heroínas são desenhadas com curvas que não são nem possíveis anatomicamente, ou são atrizes totalmente dentro dos padrões de beleza, e todas estão vestidas com decotes enormes e roupas que servem muito mais para alimentar as fantasias sexuais dos expectadores, do que propriamente para a luta. Então, caso você não seja uma mulher totalmente dentro do padrão de beleza hollywoodiano e não goste de se vestir de maiô de sex shop, você não está completamente representada nessas figuras.

Mas quem diria que um dia eu me sentiria completamente representada não apenas por uma, mas por quatro heroínas? Foi isso o que aconteceu com Ghostbuster. Um filme que preenche todos os requisitos de Girl Power, e mais ainda:

  • Tem quatro mulheres inteligentes e independentes nesse filme. A Dra. Erin Gilbert (Kristen Wiig), Dra. Abby Yates (Melissa McCarthy), Dra. Jillian Holtzmann (Kate McKinnon) e Patty Tolan (Leslie Jones) são a representação do que faltava em termos de heroínas, pelo menos em termos de blockbuster. Elas são engraçadas e com aparência normal, a gente se sente representada nelas. E cada uma delas tem um traço de personalidade próprio que conversa muito bem no grupo e complementa o time.
  • As Caça-fantasmas se vestem com roupas apropriadas para o combate, nada de decote até o umbigo, ou maiô para lutar.
  • Elas mesma produzem os próprios aparelhos para caçar os fantasmas. Isso mesmo! Não há nenhum homem fazendo qualquer tipo de trabalho “pesado” ou intelectual por elas. É a Dra. Jillian Holtzmann que na maior parte do tempo cria as armas, e são elas que testam e são elas que usam. Você consegue imaginar o tipo de empoderamento que isso carrega?
  • Existe muita sororidade entre elas, e também não há uma vilã maligna para fazer o contraponto. O que é ótimo, porque o filme é para lutar contra fantasmas e não contra a mulher má.
  • Não há envolvimento amoroso delas. Há sim apenas uns flertes com o recepcionista lindamente burro delas o Kevin, mas nada além disso. Não há nenhuma procura pelo amor ou coisa do gênero. São quatro mulheres querendo salvar a cidade.
  • E o fato de o Kevin Beckman (Chris Hemsworth) ser o bonitão burro, vinga todas as vezes que as secretárias e recepcionistas foram retratadas como lindas e burras na história do cinema. Lembrando que esse é um filme de comédia, e o ator incorpora completamente o personagem, contrastando-o com a inteligência e a expertise das quatro caça-fantasmas.
  • É um filme de comédia com piadas engraçadas de verdade, não é aquela coisa de vamos rir das minorias, e o contrário, nós somos a minorias e vamos rir de vocês!
  • E o melhor de tudo, o tempo todo do filme, elas fazem tudo sozinhas, sem qualquer intervenção ou ajuda masculina. São elas que se metem nas confusões, e são elas que saem delas com próprias pernas.

Se isso não é feminismo, então eu não sei o que é.

Só sei que pela primeira vez na minha vida é saí de alma lavada de uma sessão de cinema. Pela primeira vez eu me vi completamente representada num filme de super-heroínas, eu poderia ser qualquer uma delas, eu poderia usar qualquer uma daquelas roupas, eu queria estar naquele time. E não precisei fazer nenhum esforço para me colocar no lugar de um personagem masculino, que via de regra é o personagem mais legal desse tipo de filme, porque eu queria ser a personagem feminina.

Me senti representada por aquelas mulheres. E eu adoraria ser uma Caça-fantasmas!

Por Renata Floriano
Imagem: divulgação

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