Dia de sol ardido

Dia de sol ardido
O vento assobia agudo
Roupas dançam no varal
Meio-dia
Vera Lúcia desce correndo seis lances de escadas
Hora ou outra tropeça na barra do longo vestido
Sempre se questionara o porquê de pernas tão desconjuntadas
Acontece, ela tinha ciência, que não era dela o hábito da concentração
Vivia num tempo entre o que foi e o estava por vir
E hoje, especialmente, estava ela na noite passada
Conhecera um cara
Um daqueles que sua autoestima, judiada pelos desiludires, não a permitia crer que merecia
Levou um susto quando fora abordada
Desconcertou-se toda
Mas ficara firme
Aceitou a aproximação
Conversaram um pouco, até risadas surgiram
Trocaram contato
Despedida, enfim
Entrou no taxi suspirante
Mal dormiu
Agora estava a ouvir o telefone tocar a cada minuto
Impressão apenas
Um fantasma a assombrava pela casa
E se ele nunca ligasse?
E se nunca mais o visse?
Teve deveras palpitações
E quando estava prestes a infartar o telefone tocou
Do outro lado uma voz grave a chamava pelo nome
Era ele, era sim
Um convite: almoço
Combinado
Vibrou, pulou, cantou, dançou
Seria dessa vez?
Não conseguira evitar a esperança costumaz
Mas voltou a si
Lembrou há tempos sabia viver só
E que tendo isso o desfecho que fosse ainda podia contar consigo
E, porque não, com um bom vinho
Resolveu acreditar no que a vida lhe propôs
Apressou-se ao embelezamento
Tomou um longo banho
Vestiu-se toda em flor
Saiu esvoaçante rua acima.

Por Sandra Cecília Peradelles
Imagem destacada: daqui

Comments

Comentários