Por que adoecemos as mulheres?

Não é novidade que vivemos em uma cultura machista, entretanto, há um adoecimento insurgente de mulheres atualmente, trazendo para a cena uma relação de naturalização também nos adoecimentos femininos, ao passo que, no imaginário coletivo as mulheres são tidas como frágeis e vulneráveis. Mulheres estas que foram sendo construídas socialmente como uma categoria que nasceu destinada a sofrer, propensas as dores, a loucura, a solidão e a depressão, sujeitos considerados tão pobres subjetivamente que não podem oferecer um destino à si, que necessitam performar uma servidão à outrem para alcançar uma plenitude.

Pensar na conjuntura que estrutura e legitima a violência de gênero envolve perpassar pelos mecanismos de controle e dispositivos de gênero, que regulam e reproduzem os estereótipos, perpetuando-os e retroalimentando a cultura patriarcal.

Os estudos acerca do adoecimento mostram uma crescente nos transtornos psiquiátricos em mulheres, porém, o pano de fundo destes transtornos não é visibilizado. Por trás dos transtornos comuns como depressão, ansiedade, pânico estão imbricadas as violências físicas, sexuais e psicológicas. Entretanto, a psiquiatria e a psicologia, de modo geral tratam como transtornos comuns, naturalizando essas violências.

O fato de não nomear a violência de gênero não é inocente, é mais um mecanismo de controle e tampouco inibe [a violência de gênero] de acontecer, pelo contrário, colocando-a à margem, torna-se impossível de combatê-la. É preciso desnaturalizar os modelos de masculinidades e feminilidades que se têm construídos socialmente, repensá-los e recriá-los.

É duro admitir, mas somos as mãos que batem e adoecem as mulheres. Precisamos estancar a matança simbólica e literal de nossas mulheres, sobretudo das mais vulneráveis, ao passo que não combatemos a cultura que legitima tais ações. Sabemos que não é tarefa fácil a construção de um horizonte livre de opressões, porém, quando tiramos as vendas de nossos olhos não há caminho de volta.

É preciso endurecer e lutar.

Por Vitória Souza
Imagem destacada: detalhe de The Sick Girl, Gabriel Metsu, 1658-1659

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