O repúdio manifesto às lideranças femininas

Que golpe ver um repúdio tão manifesto à lideranças femininas em ambos os meus países em menos de seis meses.

Que golpe testemunhar a prontidão com que pessoas de ambos os lados do espectro político se unem para usar mulheres como bodes expiatórios em quem depositar a culpa por todos os problemas do seu país/partido, após séculos de governos sangrentos, masculinos e brancos.

É revoltante.

Se eu ouvir mais uma vez que “Dilma afundou o nosso país” e “Clinton é culpa de Trump” vou mostrar minha bitchlash interior, minha ira de “mulher desagradável” (n.e.: vide “nasty woman”).  Aliás, chamar mulheres na política de “mulheres desagradáveis” tem o maior cheiro de gaslighting

Oh, vocês altruístas auto-indulgentes que nos dirão quando uma candidata feminina é fodidamente boa o suficiente para seus padrões impossíveis e paz mundial! Para os defensores de #NeverHillary: deve ser bom usar o tapa-olhos históricos e um pouco de realpolitik aí do trono de sua herança social. O encerramento do acaso por parte daqueles que se chamam aliados é desanimador.

Nunca esquecerei – nunca – o machismo e as micro-agressões misóginas disfarçadas de moralismo progressista que testemunhei nestas eleições, mesmo vindo de mulheres. Todo comentário desproporcional e odioso sobre Hillary parecia ser um ataque a mim e a todas as outras mulheres que ousam ter uma opinião, que ousam tentar liderar, que ousam propor uma teoria diferente de mudança, que ousam tentar ter uma identidade independente das figuras masculinas presentes em suas vidas, que se atrevem a cometer erros, que ousam ouvir os outros.

Nunca esquecerei a apropriação indevida e oportunista do feminismo interseccional (que alguns de vocês aprenderam convenientemente ontem) por aqueles que não têm nada para contribuir para a luta pela igualdade das mulheres todos os dias, que não experimentem ser femme ou que promovem uma visão ideologicamente purista excludente do feminismo.

Nunca esquecerei os socialistas que eram demasiado arrogantes para a democracia e preferiam a revolução. Que revolução? Porque o que estou vendo parece terrível.

E para os homens brancos lamentando que “Bernie teria vencido” nos estados de indecisos, eu só gostaria de lembrar que Bernie não foi nem mesmo capaz de ganhar as primárias – e você está tentando me dizer que ele iria ganhar a eleição geral. Se liguem. E mexam-se, criem espaço.

Porque nós, mulheres, além de sermos desagradáveis, estamos com MUITA raiva.

Por Luísa Abbott Galvão
Imagem: queimem as bruxas!

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