Quando a experiência de prazer dela fica ligada ao ego dele…
3 Maneiras em que o homem “querer focar no prazer dela” durante o sexo também pode ser sexista…
Estamos começando a falar mais sobre dar a mesma importância ao prazer feminino nas interações sexuais entre homens e mulheres, e isso é maravilhoso.
Por eu ser mulher, você deve achar que eu sou totalmente a favor em focar o sexo no prazer das mulheres. E eu sou – na maioria das vezes.
As vezes, no entanto, escuto um cara hétero falando sobre como o prazer feminino é importante e isso me assusta. Ou ainda pior, já transei com homens que só queriam saber do meu prazer – e, de alguma forma, era verdade – mas mesmo assim, ainda acabava achando que os sentimentos e as necessidades deles eram mais importantes do que minhas próprias experiências.
Nesse artigo, discutirei três formas em que “Eu amo dar prazer a uma mulher!” ainda pode se tratar apenas do parceiro homem. Também falarei sobre o que fazer caso você passe por isso ou ache que está fazendo isso.
Duas observações rápidas antes de começar.
Primeiro, na minha experiência, isso é típico de um fenômeno de gênero numa cultura heterocêntrica: se origina na masculinidade tóxica e nas expectativas sobre como homens e mulheres se relacionam. Apenas não tive a mesma experiência em relacionamentos queer, ou ouvi alguém falar sobre isso.
Por isso, usarei uma linguagem binária e heterocêntrica na maior parte desse artigo. (Porém, “mulher” e “homem” absolutamente incluem mulheres trans e homens trans que vivenciam isso.) Se você tiver opiniões sobre dinâmicas semelhantes em relacionamentos queer, adoraríamos ouvi-las!
Segundo, uma observação para homens hétero lendo isso: é provável que você fique um pouco ansioso e na defensiva ao longo do texto – caso isso já não tenha acontecido. E tudo bem. Terei mais para dizer a vocês no final. Fiquem firme comigo!
Nada do que estou prestes a dizer é característico de uma pessoa má. É apenas uma característica das formas em que a masculinidade tóxica impacta todas as áreas das nossas vidas, inclusive a sexualidade.
Então, aqui estão três formas em que “Eu amo dar prazer a uma mulher!” pode, na verdade, não ser tão bom para a mulher.
1. O foco ainda está na conquista dele
A masculinidade tóxica diz que um homem só é bom conforme as coisas que ele conquistou.
Quando se trata de sexo, isso muitas vezes significa que “Para ser um homem, tenho que alcançar o orgasmo/ejaculação” ou “Tenho que conquistar o maior número possível de parceiras sexuais.”
Atualmente, isso também pode significar “Tenho que dar a minha parceira o prazer mais intenso possível.” Porque se ela tiver um orgasmo de tremer o corpo todo, isso marca a sua habilidade e proeza. E se ela não tiver orgasmo algum, é como um fracasso pessoal para ele.
Para a parceira mulher, isso pode se tornar mais uma forma dela desempenhar o trabalho emocional. Quando a experiência de prazer dela fica ligada ao ego dele, então ela quase sempre se sente pressionada a ter um grande e espetacular orgasmo para ele… mesmo que o corpo dela não funcione assim.
Em vez de se conectar com o corpo dela de verdade e vivenciar o prazer que está disponível a ela no momento, ela pode ficar ansiosa sobre a possibilidade de estar satisfazendo ele com o seu show de prazer.
Toda essa dinâmica dificulta a conexão na verdadeira intimidade do momento. Em vez disso, o sexo se torna uma atuação para ambas as partes.
As vezes se torna literalmente uma atuação, quando a mulher finge mais prazer do que está sentindo (incluindo até mesmo o orgasmo) para que seu parceiro não se aborreça.
Além da pressão colocada em ambos, a atitude de “o prazer dela é a conquista dele” possui uma face feia de poder, onde o corpo da mulher se torna algo para o homem manipular.
Uma frase como “Eu amo fazer uma mulher [gritar, gozar, se contorcer, o que for]” implica que o prazer sexual é algo que ele faz nela, em vez de um presente do próprio corpo dela, o qual ele ajuda extrair.
2. Ele ainda está focado principalmente na satisfação própria
Essa é outra forma em que o prazer da parceira mulher pode se tratar mais da utilidade dele para o homem
Em vez de se tratar de alimentar o seu senso de realização, se trata de dar a ele satisfação visual. A mulher pode se sentir pressionada a ter um prazer visual – gemendo mais, se movendo com mais intensidade – porque ele gosta de ver isso.
Não estou dizendo que há algo de errado em ter tesão quando sua parceira está claramente dominada pelo êxtase – claro que não! Mas ás vezes a satisfação erótica da outra pessoa se torna mais um foco do que um prazer que você está realmente vivenciando.
Isso é um perigo, principalmente, para mulheres, que socializam com a prioridade de “estar bem aos olhos masculinos” em vez de suas próprias experiências e de seu próprio conforto.
Parceiros homens podem não ter ideia de como – caso falem muito sobre o quanto eles gostam de ver uma mulher atingir o orgasmo, o tesão de um gemido ou movimento específico que ela faz quando sente prazer, e assim por diante – eles podem estar estabelecendo um senso de “fazer isso pelo meu prazer” em suas parceiras mulheres.
3. Ele está procurando por uma estrela de ouro
Quando eu contei a uma amiga que estava escrevendo esse artigo, ela mencionou como alguns homens se vangloriam pelo fato de amaaarem fazer sexo oral. E eu ri porque sabia exatamente do que ela estava falando.
Há uma atitude especial, que escuto com frequência, em que um homem fala sobre gostar de um ato sexual onde o prazer da mulher é o foco.
Alguém pode dizer “Eu gosto de uns tapas” e isso ser apenas uma informação sobre a pessoa. Mas quando um homem diz “Eu gosto de chupar a mulher,” quase sempre há uma entrelinha dizendo “Isso me faz ser o máximo?”
Mesmo ao falar positivamente sobre o prazer das mulheres, isso reforça a ideia de que dar prazer à mulher é algo além do esperado.
Quero que meus parceiros desejem e apreciem o meu prazer. Quero que a minha satisfação seja uma recompensa para eles, assim como a satisfação deles é para mim.
Mas quando o meu prazer é tratado como algo pelo qual eles merecem crédito extra, todos os sentimentos positivos são apagados. Começo a me sentir como se devesse agradecer pelo fato de que eles realmente se importam se estou me divertindo.
Deixe-me esclarecer isso: eu mereço prazer nas minhas interações sexuais, assim como todas as mulheres e todas as pessoas não-binárias (e, é claro, todos os homens – mas na nossa cultura, isso é geralmente óbvio).
Ter um parceiro que se importe se eu estou me divertindo não é um presente e não é algo a se agradecer. É o essencial.
Observação importante: isso não quer dizer que um parceiro meu, de qualquer gênero, deve fazer coisas das quais não gostam ou se sentem desconfortáveis em fazer para me agradar. O conforto e a satisfação deles são tão importantes quanto para mim e o consenso total vem antes do prazer para ambos.
O ponto, em todos esses casos, é que quando destacamos o prazer da mulher, precisamos realmente destacar o prazer da mulher – não as maneiras em que o prazer da mulher faz os homens se sentirem ou parecerem ótimos.
Conselho para mulheres que estão pensando, ‘Sim! Sei bem como é isso!’
Primeiro de tudo, as suas experiências são válidas.
Estamos tão acostumadas com um mundo que nos diz que nosso prazer não é importante ou é errado, que pode parecer muito ingrato pensar, “Agradeço que você esteja tão interessado no meu orgasmo, mas isso não é bem o que eu quero e a sua insistência está fazendo eu me sentir uma merda.”
Você não tem que ser grata pelas boas intenções de alguém se eles estão ignorando o que você realmente quer e precisa.
Como falar sobre isso com o seu parceiro depende muito da intimidade do relacionamento e como você geralmente lida com conversas difíceis. Mas caso seja alguém com quem você planeja transar novamente, provavelmente vale a pena tocar no assunto.
Caso haja um comportamento específico, você pode falar sobre isso da seguinte forma: “Realmente não preciso ou quero atingir o orgasmo todas as vezes que transamos” ou “Quando você fala sobre a minha aparência, isso na verdade me afasta de mim mesma e me deixa constrangida em vez de conseguir aproveitar o momento.”
Um ótimo relacionamento sexual nasce da comunicação e de dar e receber feedback.
Não é uma coisa específica, mas um sentimento geral, você pode tentar ter uma conversa mais ampla sobre as formas em que a masculinidade e a feminilidade impactam a experiência sexual.
Falar sobre como as mulheres se sentem pressionadas a ser e parecer sexy, enquanto homens se sentem pressionados por desempenho e conquistas (e explorar até que ponto essas dinâmicas são verdadeiras para cada um dos dois), pode ser uma conversa reveladora para ambos.
E é claro, você não deve disponibilidade sexual a ninguém. Você pode se esforçar muito ou pouco para corrigir isso, conforme achar que vale a pena para você, e não há problema algum em se afastar de um relacionamento sexual que não está funcionando para você.
Conselho para homens que estão pensando, ‘Merda – Eu posso ser assim!’
Lembrem-se que nada disso se trata de você ser uma pessoa boa ou não. As mensagens da nossa cultura afetam todos nós e aprender a superá-las é uma grande parte da transformação das melhores versões de nós mesmos.
Quando se sentir ansioso por não estar “conquistando” o prazer da sua parceira da melhor forma, se lembre que essa é a masculinidade tóxica falando.
O prazer da sua parceira é, em primeiro lugar, para ela. O seu trabalho mais importante para ajudar a sua parceira a gostar do sexo é prestar atenção ao que ela quer.
As vezes um orgasmo explosivo não é o que a sua parceira quer. Ás vezes ela sabe que leves arrepios de prazer são tudo que o corpo dela pode oferecer naquele dia. Seja o que for, aprenda a aquietar o ego e realmente escutar o que a sua parceira esta expressando.
Tire a pressão de si próprio em ser o amante perfeito.
É claro, é legal pensar que somos capazes de proporcionar uma experiência sexual inesquecível para nossos parceiros, sendo o melhor que já tiveram. Mas apesar do que a cultura provavelmente te disse, o seu valor não se determina por você ser a melhor transa (ou o melhor em qualquer coisa).
***
As melhores interações sexuais, na minha experiência, acontecem quando todos os envolvidos se comportam como eles mesmos e dão atenção aberta para o que a outra pessoa está trazendo.
É mais fácil, de alguma forma, desempenhar papéis e encenar as alegorias que aprendemos. Mas quando você se esforça para ser autêntico, vulnerável e atencioso, vale muito a pena.
Por Ginny Brown/Traduzido por Bianca Busato Portella (Tradução & Versão de Inglês)
Texto original publicado, em inglês, no site Everyday Feminism
Foto: FEMMA Registros Fotográficos
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