Dia das mães: o objeto fofo de todas as famílias

Tão fácil quanto difícil escrever sobre ser mãe. Eu, particularmente, acho muito complexo. Biologicamente sou uma mãe e tanto: parto natural, 15 minutos de esforço, nada de anestesia. Amamentação por 1 ano com leite abundante. Mas a melhor frase escutei na saída do hospital: parabéns, a festa começa agora. E começou!

Não sou esta mãe perfeita, sou a mãe possível.

Mas escrever assim me custou algum tempo de terapia. Entender minha prepotência que dificultava ser apenas a imensidão do meu possível, na maternagem e na vida. Não sou a mãe que acorda com cabelos de comercial de shampoo e cruza a sala “vestida de mãe” para dar um beijo na testa do filho.

Eu as vezes acordo com resto da maquiagem da festa do dia anterior e cruzo a sala, vazia, de calcinha fio dental. Mas também sou aquela que fica em casa na sexta a noite escutando o filho tocar guitarra. Feliz com ninho cheio até que ele decida sair lá pelas 23h. Não sou a mãe que tem a mesa do café sempre colocada, às vezes saímos de casa correndo e sem café. Nauseados dos nossos medos e anseios de gente. Tanto eu, quanto meu filho.

Nem sempre pude buscá-lo na escola. Não fui a mãe que chega de SUV em frente a escola. Corri com meu filho por todas as modalidades: a pé, de ônibus, lotação, táxi. Mas a gente sempre chegou!

Sou este tipo de mãe.

Já ergui a mão pro meu filho em gesto de repreensão quando meu coração apenas mandava abraçar. Não deu. Nem sempre dá. Eu já me atrasei para reunião na escola, já me atrasei para apresentações. Meu telefone não parava de tocar enquanto eu tentava conversar com ele, olho no olho. Já tive que decidir entre atender meu filho na escola e coordenar uma super coletiva de imprensa com presença de autoridades federais. Escolher é abrir mão.

Já pensou honestamente que a gente abre mão dos filhos tantas e tantas vezes? Cuidado, fala baixo. A sociedade está escutando isso e logo a fúria coletiva vai te pegar! Porque o recado desta maravilha tribal é: abra mão de ti, torna-te um objeto do outro.

Tornar-se um objeto: abrir mão de ser sujeito.

Às vezes parece que esta é a mãe ideal. O porto seguro de uma manada que caminha com espirito altivo numa única direção.

Então hoje: meu VIVA para as mães possíveis!

Borradas de riso ou de choro, buscando vidas ricas e reais. Sucesso é poder ser o seu possível e escolher a vida: as vezes o filho tá na frente mas eu prefiro que esteja lado a lado, vivendo, também, o possível dele.

Por Marta Dueñas
Imagem destacada: daqui

Comments

Comentários