Meu lugar no feminismo atual
a) Não tenho vertentes, correntes etc. Gosto de ideias e de pessoas. Gosto das teorias do feminismo radical sobre o papel da socialização na formação do gênero, como também das teoria, à esquerda, das que produzem dobraduras sobre gênero, classe, orientação sexual etc.
b) Militância feminista, pra mim, é para mulheres nascidas sob o signo mulher. Porque todas minhas causas – creches, escuta da maternidade, aborto etc – dizem respeito exclusivamente a esses corpos.
c) Isso não significa de forma nenhuma – nenhuma, mesmo – que eu ache que mulher = socialização. Subjetividade é poder, é complexidade, é algo de incognoscível. Literatura.
d) Não participo de nenhuma organização, nem nunca participarei. Não sei vivem em grupo.
d) O golpe tinha dado uma aliviada nessas tretas feministas de todos os dias ever. Porém, há feministas que sacralizam mulheres. Eu não sacralizo mulheres. Eu não sacralizo Simone de Beauvoir, por exemplo. Mas esse é sempre os problemas dos grupos – de esquerda, feministas, dos movimentos negros etc. Se há alguém entre nós que erra, e erra feio, é sempre um tal de “síndrome de estocolmo”, “reproduzia o machismo”, “reproduz o discurso do opressor” etc.
É claro que isso é verdade, até certo ponto, mas isso não anula a responsabilidade individual. Cansei de ver negros gritando que os africanos nunca participaram do tráfico negreiro, como se lá não houvesse uma relação de classes – reis e servos. E quando os reis vendiam seus servos eles eram seduzidos pelo brancos. É só visitar o Museu Nacional e ver a quantidade de presentes trocados entre Pedro II e reis africanos.
Cansei de ver mulheres dentro do feminismo querendo jogar pra debaixo do tapete mulheres que foram abusadas por outras mulheres. O direito à maternidade etc. Porque os “números são ínfimos”…Porque os mascus vão usar isso contra nós. Tô nem aí pros mascus. Estou aí pra outras mulheres que se sentem silenciadas dentro do próprio movimento e quando não baixam a cabeça totalmente não servem mais. Isso acontece em páginas liberais que expulsam radicais, mas não homens. Isso acontece quando qualquer uma de nós tenta trazer um dissenso, um problema e não pode ser falado, porque não “contribui com a luta”.
Minha subjetividade, nem os fatos históricos, serão anulados pela luta.
Por Giovanna Dealtry
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