Feminismo e diálogo
Quero declarar oficialmente que como feminista – apesar de eu acreditar que o protagonismo do feminismo seja para as mulheres ou mais especificamente para aquelas pessoas subalternas aos padrões do homem cis hetero branco de classe média-alta sem espaços de fala, sabendo que tipo existem opressões mais extremas e diferentes e corpos mais abjetos que outros… – não consigo mais ficar calada perante certos conceitos que não fazem sentido na minha opinião.
A violência de gênero sofrida por homens afeminados (gays ou não), a violência sexual sofrida por homens (sim, existe), as masculinidades subalternas E INCLUSIVE, o diálogo com homens hetero-cis-brancos sobre questões como cultura do estupro para evitar o estupro ao invés de só puni-lo (sim, porque acho poderoso conversar e explicar aos homens o que é violência sexual e fazer com que eles falem muito sobre o assunto, principalmente entre si) SÃO parte do meu feminismo.
Essa separação (cacoete marxista?) de nós versus eles de certos ativismos é limitada e falha. Não vou odiar homens. Não vou odiar pessoas hetero-cis.
As coisas não são simples. Opressão é uma estrutura, não necessariamente um grupo.
Opressão é um poder de certos grupos, não os indivíduos dos mesmos. A minha luta é contra o patriarcado, mas também contra o sexismo, o binário COMPULSÓRIO, a heterossexualidade COMPULSÓRIA, a transfobia, a lesbofobia, a homofobia, a bifobia, O RACISMO, a putafobia, a gordofobia.
Vai ficar naquele papo de nós versus eles? Vale dos homossexuais versus falar top? Todo macho é estuprador e omi feministo (P.S.: Acredito no conceito de omi feministo e uso ele. Mas não pra qulaquer homem que se interesse por feminismo. Acredito em homens feministas, além de omis feministos)? Não contem comigo.
É um raciocínio fácil e simplista, de time de futebol, que elimina milhões de áreas cinzas e desempodera mais do que empodera. Não vou fazer parte deses feminismos, ativismos e lutas sociais. Nem vou pedir biscoito de homem, nem de mulher, nem de quem quer que seja.
Audre Lorde fala bem de como correntes diferentes das minhas devem ser quebradas e a dinâmica de “não pode sentar conosco na nossa mesa” não é minha estratégia pra uma revolução (é estratégia de grupinho em filme americano de high school).
A revolução incluirá todo mundo, ou não será. A revolução terá diálogo ALÉM de revolta, e não vai simplificar tudo: vai abraçar a complexidade das situações e das pessoas.
É nisso que eu acredito, ao menos.
Por Sophia Starosta
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