Feminismos dialógicos – parte II
Uma discussão extremamente educativa aconteceu no grupo de debate da Casa da Mãe Joanna, e decidimos compilar os melhores momentos deste diálogo por aqui – pois ele foi muito rico, e transformá-lo em postagem pode ser útil não apenas para elucidar questões de gênero/feminismo radical/teoria queer, mas também questões relacionadas à dialética. Esta é a Parte II – ou seja, o diálogo seguiu, e com ele, este registro. Para a CDMJ, é importante estabelecer diálogo, pois o processo dialético entre teorias requer que assimilemos conhecimentos oriundos de todas antes de os refutarmos algum em específico. Acreditamos que a teoria radical e a teoria queer têm mais pontos de convergência do que de dissonância, e propomos mais diálogo – entre feministas e vertentes.
CONTINUAÇÃO – PARTE I AQUI
1. Sobre o tal o que é ser mulher: entendo o argumento de que é um conceito em definição, que cada vertente vê e aborda essa questão de um jeito. Vejo esse conceito muito próximo do conceito de “fêmea”. O indivíduo nasce e é classificado como macho (homem) ou fêmea (mulher) a partir da sua genitália – pênis ou vagina. E aí eu não faço muitas elucubrações, porque na prática, materialmente, mulher e fêmea têm o mesmo sentido. O médico não diz, quando vê o ultrassom: “parabéns é uma fêmea”. A partir dessa classificação aquele ser humano vai ser socializado para se tornar um homem ou uma mulher, recebendo uma série de instruções sobre que tipos de comportamentos são esperados para que ele/ela seja lido socialmente de acordo com a classificação que recebeu ao nascer. E assim uma série de comportamentos e valores (estereótipos) são ensinados para aquele indivíduo e ele é cobrado desde sempre com maior ou menor pressão de acordo com o contexto para que corresponda a esse conjunto de estereótipos criados para marcar o sexo biológico que nasceu. E a este conjunto de estereótipos convencionamos chamar de gênero. Isto é um ponto.
2. Estes estereótipos (como a feminilidade), na prática, têm uma função muito clara. Os estereótipos que existem para que um indivíduo nascido fêmea: colocam este indivíduo numa posição de subalternidade em relação aos estereótipos que existem para o indivíduo nascido macho. Esse conjunto de estereótipos também criam uma situação de exploração e violência dos corpos dos indivíduos nascidos fêmeas. E eu poderia demonstrar isso falando de um por um, mas não vou fazer isso aqui. Esta perfomance tem função, e é uma função perversa para os indivíduos nascidos fêmeas. Este é outro ponto.
3. No meu entendimento (que é alinhado ao radical) um indivíduo nascido fêmea, com vagina, chamado portanto de mulher, pode rejeitar todos os estereótipos de gênero que lhe são enfiados goela abaixo. Porque não se identifica, porque não faz sentido pra ele, porque se interessa mais por outro estereótipos que “não são pra ele”. Isso:
a) não muda o fato de que ela vai receber a socialização de acordo com o sexo biológico dela, porque isso começa no útero.
b) que ela vai ser lida socialmente de acordo com o sexo biológico dela, por causa do corpo dela.
c) não altera o sexo biológico dela, assim como o nome (vagina) e a classificação em que ela se insere por causa disso (fêmea / mulher). O mesmo vale pros homens. Um indivíduo nascido homem (com pênis) pode não se identificar com os estereótipos que vão enfiar goela abaixo. Isso não vai impedir que ela seja socializado como homem. Não vai impedir que ele seja lido socialmente de acordo com seu sexo biológico, por causa do seu corpo, e não altera o seu sexo biológico.
Materialmente falando, quando você vê uma pessoa de aparência andrógina na rua, você tenta ver se ela tem seios, se tem gogó, se tem volume peniano. Você procura as evidência do corpo. Este é outro ponto.
4. Materialmente, ter uma vagina, logo, ser uma mulher, a despeito de eu me identificar com isso ou não, resulta em sofrer opressão e violência. Porque nossos corpos são objetos. Então, independente de como eu me vista, ou me identifique. Basta ser detectado que eu sou mulher, possuo vagina.
O que é ser mulher? Ser mulher é sair na rua é receber o tempo inteiro olhares de assédio dos homens, desejando o seu corpo, ou avaliando seu corpo, avaliando se você é um corpo apto para sexo, não importa sua idade. Ser mulher é não sair na rua, e em casa ter definida todas as obrigações que eu devo cumprir. É ter todo um conjunto de comportamentos que é esperado que eu cumpra. E como eu sei isso? Simples, se eu tivesse nascido com um pênis, eu não passaria por isso. Então, nascer com vagina, independente de como eu comporte, faz diferença. E isso estou falando sobre mulheridade mesmo.
Então, é aí é que eu acho que residem as tretas. Lutar contra os estereótipos é fundamental porque eles são os tijolos que cimentam a opressão em cima dos indivíduos que nascem com vagina. Porque os corpos femininos são objetificados e explorados. Tudo aquilo que fica na caixinha de gênero “feminino” só reforça isso, não por seu atributo em si, mas porque se contrapõe diretamente a um atributo “masculino” e estabelece uma relação de hierarquia em que o feminino perde.
Mas assim, se você não sabe o que tá entre as pernas de alguém, você vai tratar ela pelo o que vê por fora, não? Eu tenho um amigo que é trans. Ele usa binder, se veste como homem, se apresenta com pronomes masculinos. Por fora, ele tem a aparência masculina, então ele é tratado de tal forma. Da mesma forma com uma mulher trans, ela vai ser tratada como mulher, e então ela vai acabar sofrendo de opressões muito parecidas, não? Já que é assim que ela é vista? E será que não existe uma forma de quebrar o estereótipo sem acusar xs trans? Porque mesmo que a gente consiga quebrar todas essas expectativas sobre as mulheres, ainda vai ter aquelas que se identificam pro lado mais “feminino” da coisa, então… sabe?
Mas se você pensar: “que opressão eu sofro por ser mulher, nascida com vagina” e “que opressão eu sofro por ser homem, nascido com pênis e buscar ser lido socialmente como mulher”, vai ver que são opressões diferentes. Que no fim foi de onde surgiu essa discussão: a afirmação que essas opressões existem, mas são de origens diferentes, são diferentes em situações diferentes. Não estamos negando nenhuma opressão, mas é importante ter cada um no seu quadrado.
Sobre os pontos 1, 2 e em parte 3, acima: nada a acrescentar. É importante observar, apenas, que os papéis de gênero não servem exatamente para “marcar” o sexo biológico. O sexo é referido pelo discurso heteronormativo como a origem e a razão desses papéis de gênero porque isso confere a eles um caráter natural, inescapável. É a história da biologia como destino: “já que tu nasceu e vai morrer com uma vagina, tu tá condenada a ser de tal e tal jeito”. Então, na verdade, o que o reforço da heteronormatividade quer é fixar um conjunto de possibilidades de existência usando o sexo como pretexto. (Não discordei de ti, só ampliei o ponto).
Sobre 3. Na prática, hoje, eu não acho que uma mulher possa rejeitar integralmente os imperativos sexuais que são depositados nela – e pra explicar esse ponto de vista, eu preciso introduzir outros pontos.
3.1. A atribuição de um gênero (“menina” ou “menino”) à matéria indefinida que ainda está no útero é mais do que uma forma de sinalizar quem nasce por cima e quem nasce por baixo nesse mundo. É uma maneira de criar seres humanos inteligíveis, apreensíveis pela linguagem. Esse é um ponto que a Butler explora MUITO a fundo em “Problemas de Gênero” e que eu acho que passa batido por quase todas as tretas. Pensa como é difícil se referir a alguém sem atribuir um gênero a essa pessoa? TODO MUNDO ou é “ele” ou é “ela”. Em termos linguísticos, isso significa que a própria existência das pessoas depende da adequação delas a um ideal binário de gênero. Não existem pronomes específicos para pessoas intersexo, por exemplo: parte-se imediatamente do princípio de que essas pessoas têm um gênero “escondido”, em nenhum momento sequer se cogita que o intersexo possa ser entendido como um sexo em si. Então, resumindo: a atribuição de um gênero é uma condição para que alguém seja assimilado como sujeito. Existem ativistas trans que escrevem maravilhosamente sobre esse ponto, eu vou procurar postagens pra compartilhar aqui.
3.2. Por que isso é importante? Porque assim, nós passamos a entender o gênero não apenas como uma categoria política, mas como uma DIMENSÃO SUBJETIVA DOS SUJEITOS. Eu só me entendo e só sou entendida pelos demais como uma pessoa porque eu assumo um gênero e o ambiente reverbera essa identidade pra mim. Uma das raízes da transfobia reside justamente no fato de que, por desalinharem o esquema sexo-gênero (por “portarem” um sexo e expressarem o gênero “oposto”), as pessoas trans são vistas como aberrações, como “coisas” desprovidas de humanidade de uma forma que as pessoas cis (independentemente de elas serem oprimidas em outros aspectos) simplesmente não são.
3.3. A Butler escreve que o gênero é “constituinte e constituído pelos sujeitos”: nós somos “conferidos” um gênero pela matriz social de gênero e, a partir disso, nos situamos dentro dela e construímos uma identidade pra nós. É por isso, por exemplo, que mesmo feministas radicais que rejeitam os papéis de gênero (papel de gênero NÃO é a mesma coisa que gênero, esse segundo conceito é mais abrangente) continuam se identificando como mulheres: elas não admitem a carga desumanizadora que a feminilidade impõe, mas elas se reconhecem subjetivamente como mulheres.
3.4. Ainda, esse ponto é o que, pra mim, inviabiliza o projeto de “abolição do gênero” proposto pelo feminismo radical. Se o gênero também é uma dimensão subjetiva, abolir o gênero é um atentado contra a nossa própria identidade. Querendo ou não, a diferença sexual existe e sempre foi significada de alguma forma através do tempo e em diferentes culturas. Nós podemos discutir como essas significações se dão e como os gêneros são representados, mas eliminar a noção de gênero, eu duvido que seja possível e não sei nem mesmo por que seria desejável.
Ainda 3. Recuperando brevemente o que eu já falei aqui no tópico: sim, as pessoas escrutinizam o corpo “em busca” do gênero porque o corpo humano é carregado de significados, e entre eles, estão os signos que materializam a feminilidade e a masculinidade. De novo, nada a acrescentar: apenas reiterando o ponto pra que a gente não tome o sexo como um “fato natural”, e sim lembre que ele também é uma produção socio-histórico-cultural.
4. Essa perspectiva do que é ser mulher, além de ser a TUA perspectiva, é UMA perspectiva. Isso não é pouco, mas é super importante entender que não é tudo, que não totaliza a experiência feminina. Tanto faz falar em feminilidade e mulheridade. Nascer com vagina te dá uma experiência MUITO, MUITO genérica. Nascer com vagina, branca, ser heterossexual, ser classe média e nascer no Brasil te dá uma experiência mais específica. Nascer com vagina, negra, ser lésbica, ser pobre e nascer no Brasil já te dá outra experiência. Eu posso argumentar que as duas são objetificadas, mas que as duas não são objetificadas pelos mesmos motivos. Posso argumentar que uma sai na rua e é desejada por um motivo, e a outra sai na rua e é desejada por outros motivos. De novo, não tô exatamente discordando (porque igual, ter vagina é uma experiência diferente de ter pênis), mas tô pontuando como a vagina não universaliza a experiência feminina como nós pensamos universalizar.
5. Muita calma nesse ponto. Primeiro, lembrando sempre que o sexo biológico NÃO é um fato dado (e sim um fato INTERPRETADO), que sexo e gênero NÃO são a mesma coisa e quem vincula um ao outro é o discurso heteronormativo: se uma pessoa com pênis se identifica como uma mulher, ela já não é um homem. Significa que ela tá reivindicando a vivência da mulher cis? NÃO. Significa que ela está se colocando como mulher, fim. Significa que ela tá se relacionando com os signos da feminilidade da mesma forma que um homem cis, ou que uma mulher cis? NÃO, porque ela NÃO é nem um, nem outro. Inclusive, é muito mais fácil uma mulher cis legitimar estereótipos femininos do que uma mulher trans, se tu for me perguntar. Percebe como esse raciocínio tenta enquadrar um corpo “ininteligível” dentro dos referenciais heteronormativos? A pessoa trans ou é correspondida a um homem cis (e é até morta por isso, porque “tá rejeitando a sua natureza”), ou revolta porque “tá querendo dizer que é mulher”. Ela é entendida como um “sujeito impossível”, ela precisa “escolher” uma coisa ou outra porque ela “não tem como” ser nada mais.
Entendi o que você quer dizer. Mas essas opressões, em certos pontos, são as mesmas? Ou elas sempre vão ser diferentes?
Tem pontos de intersecção sim, como objetificação e fetichização do corpo, violência masculina… Mas o problema é que virou um campeonato de quem sofre mais. E aí, eu, como mulher vou defender, com vivência, com números e argumentos, que são as mulheres, nascidas com vagina. Mas esta é uma das grandes tretas, por exemplo.
Concordo que as lutas se cruzam. Mas vejo a diferença entre”mulher com vagina” (não entra na minha cabeça “privilégio cis”) e uma mulher trans na ideia de que eu não escolhi certas reproduções, não escolhi que furassem a minha orelha, por exemplo. Enquanto a mulher trans só se identifica, ou acha que só vai ser assim identificada – pela lógica patriarcal também, se usar dessas artifícios que são opressões a todas nós mulheres.
Mas não existe uma régua pra medir quem sofre mais. Por isso é importante fazer recortes.
Um ponto de dissenso: a dimensão subjetiva x a dimensão material. Eu também não curto a ideia do “privilégio cis”, tanto que uso “mulheres que nasceram com vagina”. Às vezes até uso “indivíduos que nasceram com vagina”, porque fato é que a carga de opressão que começa em um bebê é tamanha que não dá pra dizer que ele está escolhendo se identificar com aquilo. E aí você tem isso, furar a orelha, colocar laçarotes, receber treinamento pedagógico específico para função de mãe, esposa e cuidadora através dos brinquedos, educação pra feminilidade e vaidade… Tudo isso numa idade em que não se pode falar em escolha, e você já tem ali uma perfomance de gênero sendo moldada… Estereótipos absolutamente perversos.
Mas eu, como mulher e feminista, me sinto no dever de ser empática com todas mulheres. Incluindo mulheres trans!
Então. Essa coisa da dimensão subjetiva… É isso. É subjetivo. Mas tem uma piada que faço que é: se um cara tentar me estuprar, não vai adiantar nada eu falar pra ele que me identifico como homem. Ele não vai dizer “ah, tah, desculpa mas sou hetero”… Este é outro ponto onde dá treta. Entendo o argumento – mas quando a mulher está no campo, sofrendo a opressão, a dimensão subjetiva é bem binária. A opressão não é subjetiva.
E em relação a biologia… para um materialista é isso, é a biologia. São corpos femininos ovulando, menstruando, gestando, parindo, sendo desejados, sequestrados, violados. A opressão é no corpo em primeiro lugar. A primeira forma de opressão é marcar o corpo feminino, quase que como gado. Então é difícil inclusive ler isso como privilégio, como se mulheres amassem ter que performar a boneca Barbie para serem tidas como boas e verdadeiras mulheres. Mulheres sofrem com seus corpos, sofrem com sua estima, sofrem em relacionamentos abusivos, sofrem nas gestações, com violência obstétrica, com abandono paterno. Tudo no corpo. E tudo seria diferente se o corpo fosse diferente. Se a dimensão biológica, corporificada não tivesse tanta consequência, não teria disforia. Trans não sofreriam tanto justamente para adequar seus corpos.
Não, peraí. “Dimensão subjetiva” não tem nada a ver com “opinião pessoal”, tirar coisas do nada, nada disso. Eu falei em subjetividade pra trazer o lado psicossocial dessa questão, que gênero é uma relação que existe também a nível do indivíduo, da forma como ele se percebe, da relação dele com ele mesmo. É preciso perceber que o fato da sociedade não levar a experiência da pessoa trans a sério – essa “piada” de que um homem hétero estupraria um homem trans de qualquer maneira – é justamente um efeito da transgeneridade ser uma vivência de gênero invalidada. É óbvio por que tantas pessoas trans são vistas como “fraudes”, como mulheres ou homens “de mentira”: todo mundo acha que elas estão querendo forçar uma persona impossível porque ninguém admite que haja feminilidade sem vagina e masculinidade sem pênis.
Aliás: tudo isso que foi dito sobre coisas como furar a orelha etc., isso é a ~nossa~ carga de opressão. Eu tive que furar minha orelha, sentar de perninha fechada, não sujar meu vestidinho, mas não levei surra da minha mãe porque queria “virar um menino” nem fui expulsa de casa por isso. Não é conveniente ficar comparando porque são coisas diferentes. E ler mais sobre identidade é uma coisa que pode esclarecer alguns pontos.
Debates sobre gênero e sexualidade mobilizam conceitos psicanalíticos ou que são próprios de campos muito específicos de conhecimento e às vezes a gente simplifica conceitos muito mais profundos. Recomendo o livro “Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais“, organizado por Tomaz Tadeu da Silva e Stuart Hall.
Não quis tratar dimensão subjetiva como “opinião pessoal”, e sim como do ponto de vista da subjetividade mesmo, que essa perspectiva se contrapõe às vezes a uma perspectiva mais materialista. De forma alguma foi afirmado que é impossível feminilidade sem vagina – muito pelo contrário. O que foi dito é que a feminilidade é um estereótipo que é entubado para indivíduos que nascem com vagina, mulheres. É claro que indivíduos nascidos com pênis, homens, podem performar feminilidade. Porque feminilidade é isso, uma performance. Que dizem que mulheres com vagina que devem fazer, mas que na verdade qualquer um poderia e deveria fazer se assim desejasse sem que isso virasse um marcador. Esse é o ponto. Quando se diz que mulher trans não existe, é porque vemos um indivíduo, nascido com pênis, homem, que se identificou e escolher performar signos e estereótipos de feminilidade entre outros. Ele continua sendo homem. E deveria estar tudo bem nisso. Essa é nossa luta. Sobre o exemplo da opressão, isso sim varia muito. Eu fui uma menina que usava cabelos curtos, não usava vestidos, nunca brinquei de boneca, tampouco usei rosa. Brincava com os meninos de brincadeira de meninos. Minha família nunca se preocupou muito com essa parte da minha socialização como mulher, na verdade, não me senti oprimida. Se talvez eles tivessem o tempo inteiro me enchido o saco que tudo que eu gostava era “coisas de menino”, eu teria me convencido que era um.
Eu consigo acompanhar o teu raciocínio, mas realmente não sei mais como apontar onde ele resvala. Por ora, eu só posso dizer que “performar” o gênero não é uma escolha, não é um ato volitivo. Eu tive uma fase da minha infância onde eu rejeitava veementemente tudo que era associado ao feminino, e mesmo naquela época, eu não me percebia como um menino. Pessoas trans não “escolheram” se identificar como do gênero oposto ao que foi designado a elas, assim como eu não escolhi me identificar com o gênero que me designaram, não é assim que as coisas funcionam.
Quando as pessoas enxergam um homem ao olhar pra uma mulher trans (mesmo feministas), elas continuam anulando a identidade dessa mulher pra acomodá-la nos seus referenciais heteronormativos.
Vou deixar esse post da Bia Bagagli aqui e recomendar também que vocês acompanhem ela, porque ela é sempre muito eloquente nesse tema.
Nossa opressão não justifica a de uma mulher trans, nem devemos relativizar sofrimentos. A única coisa que devemos – eu pelo menos tenho isso como lema – é combater o patriarcado. Ele é a origem de toda a nossa opressão – nossa, incluindo de mulheres trans.
Conclusão da Casa da Mãe Joanna: FOCA NO PATRIARCADO.
Post construído coletivamente pela comunidade da CDMJ – agradecimentos a Gabrielle Lima, Ana Cláudia Delajustine, Manu Port, Rafaela Cacenote, Camila Belinaso, e agradecimentos especiais a Stefanie Cirne e Cecília Santos.
Imagem destacada: daqui
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