Eu não gosto dos Rolling Stones

Gosto se discute, sim – mas com jeitinho. Vamos Shine a Light no debate.

Hoje é o último dia da turnê dos Rolling Stones no Brasil. Os anciãos da longeva banda de rock se apresentam em Porto Alegre esta noite, e o Estádio Beira Rio vai tremer com a emoção dos fãs, que talvez não imaginassem que um dia poderiam ver seus ídolos tão pertinho de casa. Espero, de verdade, que o show seja esplendoroso e que os fãs se divirtam muito com a energia do Mick Jagger, a imortalidade do Keith Richards, a elegância do Charlie Watts e com o que quer que seja que o outro integrante ofereça para a mística da banda. Espero que os riffs icônicos despertem arroubamentos coletivos de felicidade, e que quem é da pixta dance até não caber em si de alegria. São sensações e sentimentos como esses que os bons shows e a boa música produzem. Mas os Rolling Stones não produzem isso em mim. Já a Beyoncé…

Gosto não se discute?

Depende – e para entender por que, antes é preciso traçar uma diferenciação importante entre “gosto” como a impressão ou prazer provocado por alguma coisa e “gosto” como senso estético ou suposta capacidade de apreciação do valor das coisas. Esse último é da ordem da linguagem, do juízo e dos critérios objetivos de avaliação. Já o primeiro é da seara dos sentimentos e sensações subjetivas que coisas diferentes provocam em corpos diferentes. Nem sempre essa distinção é imediatamente identificada.

Quando declaro não gostar de Rolling Stones, falo de gosto como aquilo que causa uma impressão de prazer reconhecida pelo meu corpo, portanto de algo absolutamente subjetivo e irreconhecível para qualquer pessoa além de mim. Já objetivamente, sou capaz de apreciar a importância da banda, a qualidade de sua obra, e o que eles representam na história do rock. É perfeitamente possível compreender a qualidade de algo de que não gostamos, bem como entender que gosto não atesta qualidade. O que sentimos é de foro íntimo, e concedo que a música dos Stones seja de bom gosto; é o meu corpo que não gosta dela. Não são os Stones, sou eu: I can’t get no satisfaction.

Gosto como construto social

Filósofos de todas as inclinações debateram gosto extensivamente, mas foi na sociologia que o conceito de gosto como senso estético foi mais bem problematizado. Para Kant, gosto seria a habilidade de fazer julgamento acerca de algo desconsiderando o prazer que aquilo causa. Já Hume apontava para a obviedade da extrema variedade de gostos no mundo, e diante disso julgava natural a nossa busca por padrões capazes de conciliar opiniões diversas. Em La Distinction – considerado um marco da sociologia do século XX – Pierre Bourdieu propõe que, independentemente do gosto pessoal de cada um, o que é considerado de “bom gosto” é uma decisão das classes dominantes. Ele sugere que aqueles que detêm alto capital cultural (bens sociais, e não financeiros, como educação) são mais propensos a determinar o que constitui gosto, e que, por causa disso, as formas dominantes com que se decide o que é ou não é bom constituem uma violência simbólica para com as classes oprimidas. Para Bourdieu a distinção entre cultura “alta” e “baixa” precisa deixar de ser compreendida como legítima, ou natural, para ser configurada como um construto social de preservação (da ideologia) da elite.

O gosto do corpo não se discute por ser pessoal e intransferível – seja esse gosto por tomates, parceiros sexuais do mesmo gênero que o seu, ou clássicos da literatura russa. Mas o gosto como construto social e ideológico, que valoriza certos atributos em detrimento de outros, este precisa ser discutido, pois estabelecer o que é ou não de “bom gosto” é um exercício do poder.

Beyoncé, no vídeo de sua mais recente canção, Fomation, brinca com afirmações de gosto através do poder, e ao se autodeclarar cafona, mas rica, deixa evidente que o status quo (branco e masculino) vai ter que lidar com a estética negra que ela propõe levantar da subordinação, quer eles gostem ou não. Pelo clipe – no qual também celebra a estética dos cabelos afros, a política revolucionária dos Black Panthers, e faz o mundo todo pensar sobre a campanha #BlackLivesMatter – Bey recebeu uma torrente de ofensas de gente que não gostou do que viu.

Chacoalhar o poder do status quo com arte de gosto duvidoso é uma das características mais marcantes do rock and roll – algo que os próprios Rolling Stones já foram acusados de fazer. E independentemente do meu gosto por eles ou não, reverencio a banda nem que seja por terem sido parte fundamental do furor de vanguarda da contracultura da década de 1960. Mas por mais revolucionários que eles tenham sido, eles ainda são homens brancos. Beyoncé anda sendo a pessoa mais rock and roll do cenário da música pop com viés cultural, e ela é uma mulher negra. E a feminista aqui gosta muito mais que seja assim.

Por Joanna Burigo

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Ana Clara Delajustine

Uma psicóloga feminista em luta por mais afeto. Implica com a linguagem sexista e acaba com a graça em piadas machistas. Vive de amores. É uma multidão e explosão de sentimentos. Inquieta, teimosa e bruxa, tem fé nos encontros do mundo.

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Camila França

Camila França
Formada em Moda pela Udesc (2005) e pósgraduada pelo SENAC (2009) em Florianópolis, trabalhou por oito anos na indústria da moda como estilista. Em 2013, partiu em busca de qualidade de vida e atualmente dedica quase todo seu tempo ao desenho. Frequenta aulas de Artes Visuais a fim de conhecer e desenvolver sua própria poética. Seus desenhos exploram o universo feminino com técnica mista, grafite, nanquim, aquarela, marcadores e tinta acrílica.

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Jornalismo é a formação, produção de moda é o ganha-pão, escrita é a paixão. Radicada em Londres há mais de uma década, estudou no London College of Communication e depois foi trabalhar com um bocado de gente grande, de Adidas à Ivete Sangalo, da TPM à Vice, e gostaria de largar tudo e só escrever. Além de feminista, é progressista, ateísta, e uma porção de *istas* que causam desconforto por onde passa. Mãe de uma garotinha de 4 anos, com quem divide uma paixão por filmes japoneses e contos de fadas subversivos.

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Thainá Battesini Teixeira, é gaúcha e tem 23 anos. Está no último ano de graduação em História pela Universidade de Passo Fundo – UPF e é bolsista de iniciação cientifica – CNPq pesquisando as Fontes Visuais Impressas: Possibilidades de Pesquisa: Os papéis sociais atribuídos ao gênero feminino na Revista KodaK. Milita pelo Coletivo Feminista Maria, vem com as outras! e participa da organização da Marcha das Vadias de Passo Fundo no Rio Grande do Sul.

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Formada em jornalismo, é  goiana, vira-lata, caçula de sete e doidinha de amores pela vida.
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Em 22 anos de Porto Alegre (RS), cursou Comunicação Social sem ter certeza do que estava fazendo – e formou-se jornalista sem destino definido. Felizmente, está se realizando na esquina entre o feminismo e a informação. Escreve para (sobre)viver, aventura-se no audiovisual e é fascinada por todo tipo de linguagem. Aparece regularmente por aqui.

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Gosto de gente, de relações, de vida, de ajudar as pessoas a mostrar o valor do seu negócio, de ver uma empresa ir em frente, ser forte. Tive minha agência de comunicação por quase cinco anos, atuei em áreas de planejamento e também com inovação e gestão de pessoas. Paralelo a isso, como consultora, tive a oportunidade de dar vida para mais de uma dezena de empresas, ajudar tantas outras no processo de reposicionamento e ver surgir diversas campanhas e marcas. Hoje, estou a frente da Patrícia Chiela Estratégia de Marca, que atua para que a comunicação e o marketing ajudem uma empresa a olhar para frente, profissionalizar o negócio, construir o seu valor e prosperar.

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Estou me graduando em ciências sociais pela UFSC, interessado em tudo que possibilita questionar a condição humana e os infinitos problemas derivados do pensar abstrato; consumidor assiduo do incomum, non-sense, trash-cômico e da musica contemporanêa, crio musicas como “vinolimbo”.

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Lucas Rezende Busato
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Arquiteto e designer por formação, [des]construtor de espaços por ideologia.
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An explorer, Belle is about to set sail on a voyage of discovery that will be  her toughest expedition yet.  Look out for her dispatches from the frontier as Belle Kurves embarks on a quest to find the “new truth” foreshadowed by Hester Prynne – the key to establishing “the whole relation between man and woman [indeed all genders] on a surer ground of mutual happiness.
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Beatriz Demboski Burigo

Estou no caminho pra uma graduação em Ciências Sociais, na UFSC em Florianópolis. Gosto muito do ativismo dos movimentos sociais, mas a minha praia mesmo é o backstage e o olhar sociológico sobre tudo. Sou de humanas, mas nem tanto! Amo antropologia, assim como amo falar sobre cultura pop, gênero e feminismo. No momento, pesquiso oficialmente sobre sociologia da educação, que é mais uma de minhas áreas de interesse.

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Ana Paula Ferraz

Uma figura que vai variando entre a curiosidade sobre pessoas e lugares e o interesse por culturas e olhares. Psicóloga, metida com psicanálise, política e sociedade. Poeta de boteco, cervejeira de calçada, cantora de chuveiro. Enfim, mais um mistério do planeta.

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Ana Emilia Cardoso
A meliante Ana Emília Cardoso é uma jornalista curitibana, com passagem por Florianópolis onde esteve detenta em mestrado de Sociologia Política. Por questões de segurança foi transferida para Porto Alegre e está em liberdade condicional. Trabalha com moda e pesquisas, tem 2 filhas, um marido famoso e acredita que pode mudar o mundo empoderando as mulheres.
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Arieli Corrêa

Vestibulanda de letras. Desengonçada com a vida e jeitosa com as palavras. Possui diversos pseudônimos, intencionada a desnudar-se de aparência e travestir sua alma com novas visões de mundo. Queria ser Maria. Descobriu-se feminista há não muito tempo, e tem muito que aprender.

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Manja das 7 melhores da Fem.

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Fernanda Cacenote
Fê Cacenote, fotógrafa amadora (por amor) e profissional (por profissão) no projeto FEMMA Registros Fotográficos. Viajante espacial do mundo das ideias, colaboradora na Casa da Mãe Joanna, Casa de Cultura Vaca Profana, Coletivo Feminista Maria, vem com as outras!.  Vegetariana, amante das coisas que a natureza nos dá e feminista em eterna (des)construção e aprendizado.
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Joanna Burigo

Comunicação social, educação e feminismo – não necessariamente nessa ordem. Já trabalhei em agências, produtoras, departamentos de marketing, escolas, projetos sociais e até no Coliseu (esse mesmo). Tudo isso, em diferentes graus, em Porto Alegre, Florianópolis, Madri, Roma, Dublin e Londres, onde fiz um mestrado em Gênero, Mídia e Cultura pela LSE. Mas eu saí de Criciúma, SC.

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Maitê Weschenfelder

Acadêmica de Jornalismo e amante da fotografia, passeia entre o lírico do cotidiano e o drama de vidas reais. Uma jovem, louca, livre e solta. Sonha com igualdade e justiça social.

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Emanuelle Farezin

Formada em jornalismo e apaixonada por pixels, trabalha com projetos de mídia. Faz do feminismo seu impulso diário.

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