Formation

Um dia antes de subir no palco para esquentar a apresentação do Coldplay na companhia de Bruno Mars  no show do intervalo do Super Bowl, a Rainha Absoluta do Universo (Beyoncé, gente) lançou de surpresinha, como é seu costume, um novo single: “Formation,” sua primeira canção inédita desde novembro de 2014.

A apresentação incluiu performance da música nova, e tanto na versão para o Super Bowl quanto no videoclipe, Queen Bey fez o que parece ter nascido para fazer: sambou na cara do patriarcado heteronormativo branco, com muito luxo, poder e glória, até arrasar. E arrasou. Porque arrasa. Como arrasa, esta mulher, que aproveitou a data em que os Norte Americanos estavam distraídos comemorando o aniversário de 50 anos do Super Bowl para relembrar um outro importante cinquentenário: o da formação (“Formation”. Sacou?) do Partido dos Panteras Negras, que se deu oficialmente em 1966.

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No show do intervalo, o figurino de Beyoncé parecia fazer referência (ou reverência?) a Michael Jackson, e o de suas dançarinas era uma alusão escancarada ao uniforme não-oficial dos Panteras Negras: muito couro e boinas pretas.

Já o videoclipe, que foi dirigido por Melina Matsoukas, foi filmado em Nova Orleans em Dezembro de 2015, e é irresistivelmente compartilhável, altamente gif-ável… e lindamente black powerful. Referências à cultura negra do sul dos Estados Unidos abundam, e a iconoclastia pós-moderna de Beyoncé – mulher, negra, e natural de Houston, Texas – navega do antebellum (período anterior à Guerra Civil Americana) aos já mencionados Panteras Negras, sem deixar de passar por lojas de produtos para cabelos afro e pelo simbólico afundamento de uma viatura de polícia.

A coreografia (que, vindo de Beyoncé, é sempre um espetáculo em si só) contribui fortemente para construção da narrativa, e em um ponto do vídeo vemos um jovem negro confrontando um batalhão de policiais (que aparecem com as mãos para o alto!) com nada além de dança. A filhota de Bey, Blue Ivy Carter, também aparece requebrando, seus lindos cabelos afro ao natural, como os das dançarinas em vários outros momentos do vídeo.

Como foi bem colocado em um post da Capitolina, tanto a canção quanto o vídeo são um grito de orgulho e resistência negras:

Em uma parte do vídeo podemos ver um cordão de policiais com as mãos para o alto, em referência aos inúmeros casos de violência e abuso policial sofridos por negros nos últimos anos no país, ainda é possível vermos a referência ao movimento “Black Lives Matter” já que em seguida mostra-se um muro pichado com a frase “Parem de atirar em nós!”, um grito de todos os negros contra a violência policial e em especial semelhante aos gritos ecoados pela comunidade negra nas ruas de todos os Estados Unidos durante manifestações de 2014 e até hoje.

E as referências não param por aí. O vídeo é uma glorificação de uma cultura negra específica da região sul dos EUA, a que se atribui o nome “Bama Blackness“, e que no imaginário racista da Norte-América é composta por gentes ignorantes, sem educação e grosseiras. Bey subverte essa noção preconceituosa e empresta sua aura luxuosa para injetar valor na percepção pública desta cultura, assim a re-significando. E para além do regionalismo, em uma das cenas um homem segura um jornal, cuja capa traz uma foto de Martin Luther King Jr com a manchete: “A Verdade: Mais que um Sonhador”. É uma aula de história para os nossos tempos…

Assista:

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Para quem não acredita que Beyoncé é muito mais do que uma estrela pop multi-talentosa, e sim uma das vozes mais importantes do cenário cultural da resistência feminista e anti-racista, aqui vai um diálogo imaginário entre a gente e a Diva das Divas:

Casa da Mãe Joanna: “Beyoncé, qual é o seu recado, este mês, para machistas racistas”:
Beyoncé:

Por Joanna Burigo

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