Sobre Feminismo, Desabafos e Terapia
O feminismo empodera as mulheres. Isso é um fato. A gente fica mais forte para reagir aos abusos, a autoestima melhora, passamos a ter mais empatia, não só entre nós, mas com todos, nos tornamos as “chatas” pois problematizamos as coisas, mas até isso é algo bom! Os grupos online têm um papel fundamental nisso. Eles se tornaram um espaço de debate, de aprendizado e de troca de experiências, e com esse último, um lugar de desabafos.
Muitas vezes, nossos desabafos não dão conta da complexidade do que se passa na nossa psique. Já desabafamos com amigas, no grupo feminista, com a família, e parece que estamos patinando no mesmo lugar.
Vejam bem, esses desabafos são fundamentais! Eles ajudam cada uma que os faz a se empoderar, é um primeiro passo para quebrar esse ciclo. A coragem que é preciso ter para chegar ali e colocar para várias “estranhas” uma situação que aflige… Os grupos servem de abraço coletivo, servem para saber que não estamos sós e ainda ajuda muitas outras mulheres a criarem coragem ou até perceberam que podem mais do que imaginam. É um movimento no micro que afeta o macro de forma que nem percebemos.
Mas as vezes somente o desabafo não é suficiente.
O feminismo é FODA!!! E é por isso que tem tanta gente contra ele. Porque não dão conta de entender essa força que nos une e nos motiva. Mas ele não é nem deve ser Jesus Cristo, ou Alá, ou a Deusa.
Todas temos nossos limites. Mesmo as feministas passam por situações de abuso as quais não conseguem dar conta sozinhas, depressões ansiedades, fases ruins…. As feministas não são deusas imunes. A sociedade tem suas doenças e as mazelas são sentidas coletivas ou individualmente. E em cada mulher de uma maneira diferente. Não existe problema maior ou menor. Não é uma competição por quem tá mais ferrada, quem sofre mais. Ou pelo menos, não deveria ser. As dores são individuais e cada uma sabe o que, onde e o quanto dói. Não diminuam suas dores, nem as dores das outras. Elas são reais e legitimas!!! E tá tudo bem, porque isso é estar viva.
Nossas histórias, vivências, traumas, as vezes desabafar é o suficiente. Mas, e quando não é? Sentimos que estamos patinando no mesmo lugar, que não aguentamos mais falar sobre o mesmo assunto, reclamar e não conseguir agir. E ainda tem aquele peso de que nossos amigos não aguentam mais ouvir a mesma coisa, de novo e de novo. Pior que disco furado.
A gente não deveria ter medo de falar em terapia. É difícil você recomendar terapia pra alguém, ainda mais pra alguém do grupo que você não conhece pessoalmente. Parece de que você ta chamando a pessoa de louca. Esse é o estigma. Foda né! Mas a gente não tem que dar conta sozinha. E nem por isso é louca! Feminismo é ótimo, também não é salvação.
Ah, mas terapia é cara! SIM, pode ser. Mas tem tanta psicóloga feminista por ai, disposta a ajudar as outras… Tem psicólogas acessíveis, que topam trocas, topam rever os valores de acordo com os momentos de vida de cada uma. As universidades têm clínicas acessíveis à população, os planos de saúde cobrem pelo menos uma parte das consultas.
Procurem. Conversem.
Ah, mas é dolorido mexer nas feridas! SIM. Mas também não podemos esperar que o mundo mude e a gente fique estática no lugar esperando cair a salvação. É dolorido, mas ajuda. E muito. Saber porque agimos e pensamos e sentimos de determinada maneira. Tudo isso acaba passando por lugares que as vezes nem imaginamos que temos dentro de nós. Nos torna até melhores feministas.
E nós somos fortes, mas não somos e nem temos que ser invencíveis. Temos nossos pontos fracos, nossos Calcanhares de Aquiles. Podemos ajudar muito mais o mundo e as outras mulheres quando estamos ajudando a nós mesmas.
Sozinha é sempre mais difícil e as vezes só um profissional especializado pode ajudar.
Vai passar! Não tenham medo. Se conheçam. Se amem.
Por Michele Pinha
Imagem destacada roubada de desabafosocial.wordpress.com
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