Feminismo para quem?

Faz algum tempo que venho me perguntando isso. E faz algum tempo que venho tentando exercer diariamente minha consciência de privilégios. Minha militância já tem alguns aninhos, mas meu feminismo sempre foi libertador?

Comecei a me sentir incomodada – de maneira alguma considero isso ruim, incômodos são necessários para sair da bolha fácil de viver – com meus privilégios. Não são todas minhas companheiras de luta que os possuem. Até porque os privilégios variam das mais diversas maneiras.

Meus incômodos e ato constante de rever os privilégios me fizeram ouvir. Ouvir as mulheres do feminismo o qual eu não fazia. Ouvi o feminismo lésbico, o feminismo negro, o feminismo trans. O feminismo de classe, fora dos meios acadêmicos. Ouvi o feminismo das mulheres que poderiam ser minhas avós. A luta vai variar conforme o contexto social e histórico das mulheres.

E precisamos entender, respeitar e ouvir essas lutas.

Minha intenção não é recriminar a luta de alguma companheira, mas de pedir reflexão. O feminismo que a gente faz contempla nossas mães? Tenho questionado muito isso. É fácil fazer uma militância que nos tira de uma bolha e nos coloca dentro de outra, também confortável. Mas estamos empoderando nossas mães, que vieram de outro momento social e político? Estamos empoderando nossas amigas e companheiras que estão vivenciando relacionamentos abusivos ou permanecemos na bolha individualista só porque já passamos por um abuso e saímos dele? Esse seria o mínimo de uma realidade que continua em uma bolha um pouco maior, que atinge o mínimo do social de cada uma de nós.

O feminismo tem muitas vertentes, mas uma não anula a outra. Uma complementa a outra, nos faz ouvir, refletir, e rever os privilégios que temos.

Eu acredito em um feminismo interseccional porque confio em minhas companheiras de luta da periferia, negras, lésbicas, trans… confio nelas e no feminismo delas, confio no discurso e sei que elas confiam em mim quando é meu espaço de fala. Dependemos disso. Dessa interseccionalidade e diversidade unida pra sermos mais fortes.

Precisamos reconhecer quando uma companheira precisa de nós e/ou quando alguma falaria melhor sobre aquele assunto/opressão. Somos muitas, somos diversas, somos unidas e somos fortes.
Feminismo pra quem? Pra todas nós e por nós também.

Por Ana Cláudia Delajustine
Imagem destacada: daqui

Comments

Comentários