Como é fácil ser fascista: a tentação do fascismo e movimentos sociais
Acredito que o “fascismo” (não aquele de Mussolini, mas a formatação das relações tendo por base o autoritarismo, a imposição e aniquilação dos outros) é um ” fenômeno” que não está restrito a direita ou aos fundamentalistas religiosos.
Há um apelo fascista que nos atravessa a todos, de movimentos sociais a pregadores da paz. Isso porque é tentador ser fascista. A forma “fascista” de olhar o mundo, de perceber as relações e de propor soluções é simples, palatável. É a igualdade pela aniquilação da diferença, do outro, do dissenso.
A facilidade do fascismo está em, ao invés de pensar os problemas humanos, do Estado, da política, da sociedade, do ponto de vista de “como são construídos”, de “como se constituem”, das múltiplas variáveis envolvidas na existência deles, pensar tais problemas como monocausais, emergindo de um único inimigo.
O pensamento fascista materializa o inimigo: o comunista, o anarquista, o gay, a travesti, a arte. Um inimigo materializado, uma causa “incorporada” é mais simples de resolver: basta matar.
E não pensemos que essa simplificação perigosa, de tomar o indivíduo e seu corpo, como causa daquilo que , na verdade é social, discursivo, é exclusividade do Bolsonaro, quando toma o gay ou a travesti ou os “LGBTs” como encarnação dos problemas da nossa sociedade.
As vezes, nós, movimentos sociais, fazemos o mesmo: é o homem, a pessoa cisgênero o problema. E então começamos a por em curso uma máquina de extermínio do diálogo.
Não há resultado político possível e nem mudança que se possa vislumbrar, quando analisamos errado. Quando combatemos os efeitos, esquecendo as causas, e, principalmente, quando aniquilamos a política, aniquilando o diálogo.
É fácil ser fascista e não há nenhum problema em reconhecer isso. A questão é: estamos sempre alertas pro fascismo que mora em nós?
Por Helena Vieira
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