Ficar levando fogo amigo tem sido bem foda
Mano, que caralho. A imaturidade, a irresponsabilidade e a inconsequência que vejo constantemente na forma como minas militantes, engajadas e organizadas na esquerda tratam temas como prostituição é desesperadora. É um gigante desrespeito com putas, é um gigante desrespeito com quem milita e com quem estuda prostituição.
Você tem um histórico FODA de putas constituindo e resistindo com organizações de caráter TRABALHISTA, discutindo suas demandas e questões a partir da sua REALIDADE PROFISSIONAL, organizando suas demandas e reivindicações em perspectivas táticas e estratégicas de caráter TRABALHISTA. Você tem uma caralhada de gente ESTUDANDO trabalho sexual, do campo do direito, do campo das sociais, do campo do serviço social, do campo da saúde… Pessoas incríveis estudando e produzindo com seriedade sobre o assunto, discutindo perspectivas jurídicas, relações com tráfico humano e exploração infantil, redução de danos, impactos de experiências legais, etc etc etc.
Mas foda-se. Não importa. Importa o que eu concluí aqui a partir dos blogs que eu li e dos textões que eu super concordo. Moralista eu? Nada, sou materialista! Vou fazer o quê então? Como sou super feminista, vou mostrar pras pessoas como prostituição é sinônimo de violência brutal e só, pras pessoas verem o horror que isso é – como se as pessoas já não achassem um horror mesmo e como se isso não fizesse parte das comorbidades sociais ligadas ao estigma do trabalho sexual – estigma, diga-se de passagem, também misógino. Vou mostrar – marxista que sou – que é impossível tratar prostituição como debate trabalhista, porque é uma violência misógina (e trabalho é fofo e lindo, não pode ser violento nem misógino)! Vou fingir que não ouço (ou de repente nunca ouvi mesmo) o quanto das vulnerabilidades da atividade estão relacionadas à completa falta de amparo trabalhista e acompanhamento estatal, pra apontar o quanto falar de regulamentação é misógino (?!) e legitima violência. Materialista que sou, vou espalhar aos quatro ventos o quanto mudanças na dimensão jurídica TRANSFORMAM cafetões em burgueses e pequeno-burgueses (porque enquanto a lei não reconhecia, eles já não eram).
Tenho até umas amigas, também super materialistas e que odeiam o liberalismo, que defendem o controle do consumo, já que é a demanda quem regula a existência de um mercado e que a melhor forma de atuar num ramo produtivo é promover alterações na esfera da circulação. Mas eu discordo delas, apesar de achar massa muitas pautas que elas levantam e tals e concordar com a coisa da prostituição.
“Hoje, por exemplo, achei um gif de uma mina apanhando num contexto que parece pornografia, com a legenda defendendo a posição de que a perspectiva sobre o debate não deve ser trabalhista. Vou compartilhar!” ¬¬
É sério, po. Desculpa, na moral, mas essas coisas são ofensivas pra caralho. Contraproducentes. Eu boto fé que a intenção é boa, eu confio que a preocupação é real, mas mana… na moral. Não fode, po.
Se quer mesmo entrar nesse debate, bora dar uma estudada? Tipo, uma estudada de verdade? Bora conhecer as organizações de putas, os históricos, as demandas? Se aproximar desse campo de luta? Bora fazer a coisa com responsabilidade? Até pra divergir com qualidade se for o caso, como tem muita gente fazendo também.
Porque ficar levando fogo amigo tem sido bem foda…
Por Amanda Palha
Imagem destacada: daqui
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