Lésbicas negras e a dificuldade de arranjar relacionamentos
A mulher negra enfrenta muitas dificuldades na sociedade patriarcal, racista e capitalista. Uma das coisas que enfrenta é a dificuldade de ter um relacionamento estável e duradouro. Além disso, a maioria almeja relacionamentos afrocentrados, a maioria das mulheres negras querem um homem negro ao seu lado, mas os homens negros a renegam por conta do racismo contra os corpos negros. E essa situação não é diferente com nós, lésbicas negras.
Ter um relacionamento com mulheres, sejam negras ou não, é muito complicado. As mulheres brancas lésbicas não se diferem muito dos homens brancos ao se relacionarem com negras. Não que seja impossível haver relacionamentos interraciais lésbicos. Existem, mas são poucos.
O motivo está na nossa sociedade que invisibiliza lésbicas negras. Existe representatividade das lésbicas brancas em muitos lugares. Na internet basta dar uma busca por casais lésbicos que em sua maioria são compostas por mulheres brancas e magras. Isso dificulta o empoderamento negro e lésbico. E muitas lésbicas negras se sentem desmotivadas e procuram visibilidade.
As lésbicas brancas têm receio de se relacionar conosco. Mulheres brancas que correspondem aos padrões estéticos são muito mais desejadas ao passo que negras não. A maioria se sente excluída e, quando se vê inclusa, é como mulher e lésbica. Sua negritude não é lembrada.
Relacionamento de mulher negra com outra existe. A procura é grande. Queremos alguém igual a nós. Eu, que vos escrevo, conheci lésbicas negras que almejavam uma parceira negra para constituir família. Mesmo que uma negra vá se relacionar com uma branca, no fundo ou em algum momento da vida, ela almejou uma mulher negra.
Ninguém amou mais a mulher negra do que ela mesma.
Porque nós, mulheres negras lésbicas ou bissexuais, sabemos o que passamos e temos sonhos e desejos semelhantes ou comuns. É como se, ao ter contato com outra negra, estivéssemos nos fundindo e não nos vendo sozinhas.
Negras tombamentos têm mais chances de conquistarem relacionamentos interraciais ou afrocentrados do que as que não são afrocentradas. Há pessoas que negam isso, mas é uma realidade. Parece que criaram um padrão a nós também.
As mulheres negras precisam e merecem serem amadas incondicionalmente por outras. Não usadas sexualmente ou excluídas dos meios. É preciso investir e pautar na visibilidade de lésbicas negras dentro do campo afetivo.
Não somos objetos ou seres inferiores. Nós existimos e somos invisíveis para muitos. Amar uma mulher não significa que somos amadas e temos facilidade em ter relacionamentos amorosos. Precisamos pautar essa questão, discutir e lutar por nós.
Texto de Mariana Camara, originalmente publicado no medium da autora, de onde também vem a imagem destacada.
Comments
Comentários