Escutar.
Escutar é uma das coisas que se faz muito em consultórios de Psicologia, esses espaços tão recomendados por nós que os frequentamos. Deveria ser um hábito comum nos relacionamentos, mas não penso que seja.
Escutar, quando a internet democratiza como nunca os microfones, é cada vez mais raro. E, no entanto, todos nós conhecemos as experiências derivadas desse ato.
O mais recorrente é que a gente não se sinta ouvido (com grandes chances de termos razão – é muito microfone pra pouca orelha). E é o diabo não ser ouvido. Seja socialmente enquanto membro de alguma minoria, seja nos relacionamentos mais íntimos ou pelo caixa do supermercado que nos trata com gratuita grosseria, todos nós temos experimentado em grande medida a hostilidade e a solidão de não sermos ouvidos. É ruim, e a gente quase sempre tem vontade de falar mais alto, o que quase sempre provoca o efeito inverso daquele que desejávamos.
Não estarmos escutando é igualmente recorrente, mas egoístas que somos, a gente não costuma se reconhecer nessa posição. Falo de um lugar de desencontro em que o aparelho auditivo opera, mas a mente de fato se preocupa na resposta, no contra argumento, ou mesmo na pasta de dente que acabou.
Acho que quando se escuta de verdade – quando o holofote está apontado para quem fala e não para quem ouve – costuma haver um silêncio cúmplice depois da fala. (Psicoterapias costumam conter muitos silêncios).
E por fim há o deleite de ser ouvido. A escuta comprometida dá existência às nossas particularidades, a todas as coisas que nos diferenciam dos outros e que permite a cada um de nós se referir a si mesmo como “eu”. Faz a gente sentir que a gente importa, e aí costuma se desdobrar a mágica mais bonita, que é a gente se importar de volta.
É muito difícil, mas eu tenho me esforçado pra ouvir mais.
Por Letícia Bahia
Imagem: Anupam Sud, Diálogo VIII
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