Sobre pessoas trans destransicionando, pontos rápidos
1. No caso dos “ex-homens trans”, especificamente, vou sempre ficar feliz de ouvir/ler que uma mulher aprendeu a se aceitar e se amar como é. Ponto.
2. Se alguém transiciona pelos motivos errados, para fugir de si, para fugir de opressão ou por acreditar que transicionar resolve alguns problemas, fico igualmente feliz quando esse alguém percebe que transicionar não tem esse poder e se dá a chance de se amar e aceitar como é e de resolver suas questões de frente. Desejo força.
3. Sim, o sistema de gênero é um sistema de dominação de fundamentação misógina e machista.
4. Nem o ponto 3 nem a existência de casos como o do ponto 2 significam que pessoas trans e travestis não existem ou que são farsas. Experiências como a do ponto 2 não devem ser universalizadas e se você acha que reconhecer que o sistema de gênero é de dominação masculina contradiz a existência de pessoas trans, você tá achando que ele é mais simples do que de fato é.
5. Não é porque algumas pessoas transicionam pelos “motivos errados” que não existem pessoas que realmente não conseguem existir de outra forma, e que dependem de toda a discussão e demandas políticas pra ter uma vida social minimamente viável. Não misturem as coisas.
6. Talvez nesse contexto seja bom relembrar: ser trans ou travesti não é “revolucionário”, não “subverte o sistema de gênero”, não é legal, não é hype, não é cool, não livra ninguém de opressão nem resolve nenhum problema. Ser trans é sobre opressão, superexploração, violência, precariedade e vulnerabilidade, e sobre encarar tudo isso porque não é possível existir socialmente de outra forma. Não fetichizem, não idealizem, não façam isso parecer nada mais do que é.
E é isso. Aos amigos e amigas que se re-descobriram, espero que o novo caminho lhes dê a tranquilidade e as respostas que buscam, e que sejam felizes.
Aos mesmos e mesmas, faço o apelo de que não se esqueçam de que existem pessoas trans e travestis que não vão destransicionar e que já encontraram as suas respostas, e que temos o direito de lutar e ter nossa luta respeitada, nossa existência respeitada e nossos direitos garantidos.
Por Amanda Palha
Imagem destacada: daqui
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