Fale, fale e fale de novo
Toda mulher sabe o que é ter os sentimentos desqualificados numa relação. Homens deveriam ter vergonha de falar que uma mulher é louca ou está de mimimi quando – sabidamente – temos razão. Pra eles é muito cômodo, é quase um direito adquirido. Questionar o que “sempre foi assim” parece papo de feminista chata. Se você está feliz, saltitante, super bem na sua relação, não leia esse texto. Nunca passou por gaslighting ou outro tipo de machismo?
Não perca seu tempo aqui.
Essa reflexão me ocorreu numa debate que participei com estudantes que têm dificuldade de falar sobre a sexualidade com os pais. Diziam, na ocasião, que os pais não respeitavam suas opções, seus posicionamentos. Falaram que não têm autoridade ou experiência para falar com propriedade sobre nada com os pais.
Então eu pensei: opa, sobre seus sentimentos eles têm mais autonomia do que qualquer outra pessoa. Ninguém melhor do que nós mesmas para falar sobre o que sentimos e desejamos. Nesse assunto, cada pessoa é uma autoridade máxima. E pais, escola, parceiros abusivos e demais constituintes da sociedade, essa vocês vão ter que engolir. Isso me remeteu imediatamente a um assunto que presto muita atenção: os silenciamentos femininos.
Ninguém melhor do que nós mesmas para falar sobre o que sentimos e desejamos.
Se eu me sentir desrespeitada em uma situação, não posso ficar calada. A chance do meu silêncio colaborar para que essa situação aconteça muitas e muitas vezes é enorme. Não importa o que o outro vai achar, como vai interpretar. É preciso repetir o óbvio, todos os dias, até que o pensamento patriarcal se quebre. Silêncios não mudam o mundo. É preciso se posicionar.
Precisamos acabar com as relações unilaterais onde uma pessoa define o que a outra pode falar, pode sentir. Pais que não entendem filhos, chefes que não respeitam subalternos, cônjuges que cometem violência psicológica; isso está errado.
Silêncios não mudam o mundo.
A boa notícia é que batalha não está perdida. Não existe força de potência capaz de transformar a essência de ninguém. Por que existem tantas separações? Por que as pessoas sofrem tanto? Por que há tantas mulheres deprimidas e infelizes? Talvez porque não estejam dando conta de algo bastante simples: entender seus sentimentos e expressar suas insatisfações.
Fale, repita o óbvio. O que é óbvio para você talvez seja absurdamente novo para o outro. Mas, se você repetir mil vezes, pode se tornar óbvio para ele também.
Por Ana Emília Cardoso, autora do best-seller A Mamãe É Rock
Imagem destacada: Lucas Levitan
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