O lampejo feminista 4
Nunca suportei a ideia de ser menos que um homem. Desde muito nova eu sentia muita raiva dos assédios e comentários na rua, mas o que mais me deixava incomodada era ver a liberdade que meus amigos meninos tinham e que eu não tinha.
Nasci em uma cidade pequena, e fui criada pra servir; todas as meninas eram. Minha mãe me ensinou a lavar, passar, cozinhar, cuidar de uma criança ainda sendo criança. Cansei de vê-la fazendo jornada dupla (trabalho fora e dentro de casa) enquanto meu pai assistia TV.
Saí de casa carregada de incompreensão e dúvidas. Nessa jornada conheci mulheres incríveis que passaram por situações idênticas às minhas. Percebi que eu não estava sozinha e foi aí que tive meu #lampejofeminista. Penso na frase “você só precisa de uma amiga para começar uma revolução,” desde então.
Encontrei no discurso feminista aconchego, liberdade, sororidade e autoestima.
Aceitei meu corpo, me perdoei por algumas ~cagadas da vida, pedi perdão por outras. Me engajei no discurso, mas não me sentia atuante, até que aconteceu um episódio no meu trabalho. Ouvia constantemente piadas machistas e manifestações de ódio. Mesmo nunca ficando quieta, não aguentava mais me defender. Pedi demissão, registrei um boletim de ocorrência e a empresa teve que conversar bem de perto com meu advogado.
Eu precisava do trabalho porque precisava do dinheiro, mas nada no mundo me faria baixar a cabeça para um ser humano que acha que sua vida vale mais que a minha.
Por Emanuelle Farezin
Imagem: Femma Registros Fotográficos
Comments
Comentários