Precisamos falar sobre feminismo. Em todos os lugares.

Ainda me perguntam “o que é feminismo?”, e eu geralmente continuo sem resposta. O feminismo é tanto, pra tantas mulheres, pra tanta diversidade, pra tantas culturas… que falar sobre a partir de uma voz só, é pouco.

Ontem dei uma entrevista pra uma revista municipal que está fazendo uma matéria linda sobre feminismo e feministas da cidade. E a primeira pergunta era essa. Eu, meio com sono, meio em outro planeta, fiz uma cara que acho que não consigo explicar ou fazê-la de novo.

Diversas vezes eu caio na famosa “feminismo é igualdade de direitos de gênero”. Sabe o quê? Feminismo é muito mais. Feminismo é sofrer, chorar e gritar de raiva. Das atrocidades em que convivemos, de sentir o machismo contra ti todos os dias e saber que tuas companheiras lésbicas, negras e trans sofrem muito mais. E que tua mãe sofreu muito mais. E que tua vó nem sabia que tinha voz.

Feminismo é uma luta diária para sair dos estereótipos da heteronormatividade. Já pensaram como seríamos sem a biopolítica – obrigada pelo termo, Foucault – instaurada sobre nossa sexualidade e nossos corpos? Esse poder normalizador que cai perpetuado em cima de nós e, sobretudo em nós: mulheres.

A heteronormatividade nos limita em infinitos campos além de gênero. A mulher pertence ao homem. O homem tem poder. O poder remete à força. Logo, o homem tem a força sobre a mulher. Porque a mulher só existe se relacionada ao homem. He-te-ro-nor-ma-ti-vi-da-de violentando mulheres. Não esqueçamos que: para a mulher pertencer ao homem ela precisa estar dentro dos estereótipos de beleza e ter um comportamento adequado, viu? NÃO. Na verdade eu vi, muitas vezes. E nenhum desses relacionamentos acabou bem. Alguns infelizmente ainda não acabaram.

As leis são machistas e não nos favorecem. Precisamos da liberdade de decisão. Desde com quem vamos dormir – e se eu quero dormir sozinha? – até como lidar com uma possível gravidez. Nenhuma mulher quer abortar, acredite. Mas queremos que o aborto seja possível em condições adequadas para que nenhuma mulher morra abortando clandestinamente. Não queremos virar números. Não queremos ser violentadas a partir de nossas escolhas.

Então estamos assim: heteronormatividade, relacionamentos abusivos, estereótipos, violência – mortes por SER MULHER. Pra que o feminismo, mesmo? Tudo isso pode ser enquadrado dentro do termo asqueroso: machismo. E muito mais.

A entrevista terminou com a moça – fiquei bem feliz ao ver que uma mulher está fazendo essa matéria – perguntando o que fazer com as mulheres que ainda não são feministas. Companheiras, vocês são. Vocês precisam ser. O movimento precisa de vocês. Precisamos de todas. Unidas.

Por isso precisamos falar sobre feminismo. No almoço em família, assistindo futebol, no estádio de futebol, na escola, nas universidades, na periferia, na internet, na rua, no café-da-manhã, na política, no trabalho. Em todos os lugares. O tempo todo.

E precisamos de vocês, companheiras. Precisamos para libertar nossas outras companheiras que ainda não têm voz. Que ainda estão presas ao machismo normatizador e socialmente aceito. Queremos que todas tenhamos voz o suficiente para lutar por nós e pelas outras. Nossa união nos fortalece, e lutando juntas, lutamos melhor.

Por Ana Cláudia Delajustine

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Ana Clara Delajustine

Uma psicóloga feminista em luta por mais afeto. Implica com a linguagem sexista e acaba com a graça em piadas machistas. Vive de amores. É uma multidão e explosão de sentimentos. Inquieta, teimosa e bruxa, tem fé nos encontros do mundo.

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Glenda Varotto

Formada em publicidade e propaganda, 23 Blogueira do site humanista secular Bule Voador.

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Teci Almeida

Roteirista, produtora de conteúdo, mãe e teimosa. Acredita que de tanto insistir ainda conseguiremos fazer desse mundo um lugar melhor.

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Mônica Seben de Azevedo

Artista, artesã, designer – é o que costumo colocar nos cartões de visita. Ler e acumular livros de variados assuntos são tradições familiares. Já sonhei ser arqueóloga, pensei em cursar História, Filosofia, Sociologia ou Arquitetura, mas acabei escolhendo Artes, onde posso misturar tudo isso. Gosto de viajar pelo mundo, mas sempre volto para casa. Sou curiosa por natureza e tímida que fala pelos cotovelos se tomar muito café ou vinho. Mãe por opção e determinação. Para uns, sou muito certinha e para outros, muito doida. Na verdade, sou um pouco de cada.”

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Camila França

Camila França
Formada em Moda pela Udesc (2005) e pósgraduada pelo SENAC (2009) em Florianópolis, trabalhou por oito anos na indústria da moda como estilista. Em 2013, partiu em busca de qualidade de vida e atualmente dedica quase todo seu tempo ao desenho. Frequenta aulas de Artes Visuais a fim de conhecer e desenvolver sua própria poética. Seus desenhos exploram o universo feminino com técnica mista, grafite, nanquim, aquarela, marcadores e tinta acrílica.

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Thais Mendes

Jornalismo é a formação, produção de moda é o ganha-pão, escrita é a paixão. Radicada em Londres há mais de uma década, estudou no London College of Communication e depois foi trabalhar com um bocado de gente grande, de Adidas à Ivete Sangalo, da TPM à Vice, e gostaria de largar tudo e só escrever. Além de feminista, é progressista, ateísta, e uma porção de *istas* que causam desconforto por onde passa. Mãe de uma garotinha de 4 anos, com quem divide uma paixão por filmes japoneses e contos de fadas subversivos.

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Thaina Battestini Teixeira

Thainá Battesini Teixeira, é gaúcha e tem 23 anos. Está no último ano de graduação em História pela Universidade de Passo Fundo – UPF e é bolsista de iniciação cientifica – CNPq pesquisando as Fontes Visuais Impressas: Possibilidades de Pesquisa: Os papéis sociais atribuídos ao gênero feminino na Revista KodaK. Milita pelo Coletivo Feminista Maria, vem com as outras! e participa da organização da Marcha das Vadias de Passo Fundo no Rio Grande do Sul.

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Sandra Cecília Peradeles
Mina de comunicação – fala, fala, fala.
Formada em jornalismo, é  goiana, vira-lata, caçula de sete e doidinha de amores pela vida.
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Stefanie Cirne

Em 22 anos de Porto Alegre (RS), cursou Comunicação Social sem ter certeza do que estava fazendo – e formou-se jornalista sem destino definido. Felizmente, está se realizando na esquina entre o feminismo e a informação. Escreve para (sobre)viver, aventura-se no audiovisual e é fascinada por todo tipo de linguagem. Aparece regularmente por aqui.

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Patricia Chiela

Gosto de gente, de relações, de vida, de ajudar as pessoas a mostrar o valor do seu negócio, de ver uma empresa ir em frente, ser forte. Tive minha agência de comunicação por quase cinco anos, atuei em áreas de planejamento e também com inovação e gestão de pessoas. Paralelo a isso, como consultora, tive a oportunidade de dar vida para mais de uma dezena de empresas, ajudar tantas outras no processo de reposicionamento e ver surgir diversas campanhas e marcas. Hoje, estou a frente da Patrícia Chiela Estratégia de Marca, que atua para que a comunicação e o marketing ajudem uma empresa a olhar para frente, profissionalizar o negócio, construir o seu valor e prosperar.

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Murilo Mattei

Estou me graduando em ciências sociais pela UFSC, interessado em tudo que possibilita questionar a condição humana e os infinitos problemas derivados do pensar abstrato; consumidor assiduo do incomum, non-sense, trash-cômico e da musica contemporanêa, crio musicas como “vinolimbo”.

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Lucas Rezende Busato
Homem, branco, cis, hétero, reconhecedor do próprio privilégio: FEMINISTA.
Arquiteto e designer por formação, [des]construtor de espaços por ideologia.
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Belle Kurves
Belle Kurves likes to cock a snook at the whole silly patriarchal system.
An explorer, Belle is about to set sail on a voyage of discovery that will be  her toughest expedition yet.  Look out for her dispatches from the frontier as Belle Kurves embarks on a quest to find the “new truth” foreshadowed by Hester Prynne – the key to establishing “the whole relation between man and woman [indeed all genders] on a surer ground of mutual happiness.
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Caroline Rocha

C.rox, cigana vestida de aquariana transitando pelo mundo das artes. Gestora Deusa/Louca/ Feiticeira da Casa de Cultura Vaca Profana em Passo Fundo-RS. Produtora cultural e feminista até o caroço.

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Bruna Kern Graziuso

Advogada especialista em direito público e de família, vegetariana e meia maratonista. Não convida se não tiver vinho. Chora toda vez que vê uma ovelha.

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Beatriz Demboski Burigo

Estou no caminho pra uma graduação em Ciências Sociais, na UFSC em Florianópolis. Gosto muito do ativismo dos movimentos sociais, mas a minha praia mesmo é o backstage e o olhar sociológico sobre tudo. Sou de humanas, mas nem tanto! Amo antropologia, assim como amo falar sobre cultura pop, gênero e feminismo. No momento, pesquiso oficialmente sobre sociologia da educação, que é mais uma de minhas áreas de interesse.

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Ana Paula Ferraz

Uma figura que vai variando entre a curiosidade sobre pessoas e lugares e o interesse por culturas e olhares. Psicóloga, metida com psicanálise, política e sociedade. Poeta de boteco, cervejeira de calçada, cantora de chuveiro. Enfim, mais um mistério do planeta.

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Ana Emilia Cardoso
A meliante Ana Emília Cardoso é uma jornalista curitibana, com passagem por Florianópolis onde esteve detenta em mestrado de Sociologia Política. Por questões de segurança foi transferida para Porto Alegre e está em liberdade condicional. Trabalha com moda e pesquisas, tem 2 filhas, um marido famoso e acredita que pode mudar o mundo empoderando as mulheres.
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Arieli Corrêa

Vestibulanda de letras. Desengonçada com a vida e jeitosa com as palavras. Possui diversos pseudônimos, intencionada a desnudar-se de aparência e travestir sua alma com novas visões de mundo. Queria ser Maria. Descobriu-se feminista há não muito tempo, e tem muito que aprender.

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Aline Estevam

Manja das 7 melhores da Fem.

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Fernanda Cacenote
Fê Cacenote, fotógrafa amadora (por amor) e profissional (por profissão) no projeto FEMMA Registros Fotográficos. Viajante espacial do mundo das ideias, colaboradora na Casa da Mãe Joanna, Casa de Cultura Vaca Profana, Coletivo Feminista Maria, vem com as outras!.  Vegetariana, amante das coisas que a natureza nos dá e feminista em eterna (des)construção e aprendizado.
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Joanna Burigo

Comunicação social, educação e feminismo – não necessariamente nessa ordem. Já trabalhei em agências, produtoras, departamentos de marketing, escolas, projetos sociais e até no Coliseu (esse mesmo). Tudo isso, em diferentes graus, em Porto Alegre, Florianópolis, Madri, Roma, Dublin e Londres, onde fiz um mestrado em Gênero, Mídia e Cultura pela LSE. Mas eu saí de Criciúma, SC.

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Maitê Weschenfelder

Acadêmica de Jornalismo e amante da fotografia, passeia entre o lírico do cotidiano e o drama de vidas reais. Uma jovem, louca, livre e solta. Sonha com igualdade e justiça social.

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Emanuelle Farezin

Formada em jornalismo e apaixonada por pixels, trabalha com projetos de mídia. Faz do feminismo seu impulso diário.

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