Chris Rock, deboche e a luta
O discurso de Chris Rock na cerimônia de entrega dos Oscars de 2016 abriu precedente para uma pergunta importante: o deboche é ou não é uma estratégia eficiente na provocação de debate de cunho social?
Poliana Correa responde.
O deboche pode ser sim eficiente em algumas situações, mas o que foi usado por Chris Rock na da cerimônia do Oscar me revoltou.
DE NOVO se fala sobre racismo com piadas e uma multidão aplaude e acha bem engraçado. Mas quando a “alfinetada” foi na polícia americana, deu pra contar nos dedos quem aplaudiu…
Mais uma vez as ironias? Mais uma vez as alfinetadas? Mais uma vez ter que falar sobre as coisas com uma camada de piadas? Até quando vamos ser ouvidos apenas com deboche?
Eu realmente entendo a essência de tudo que ele falou no seu stand up comedy (porque foi um stand up), mas hoje me representa muito mais um discurso de menos de 2 minutos da Viola Davis, ao receber seu prêmio Emmy de melhor atriz, do que 10 minutos de Chris Rock. E não por ela falar em mulheres negras, mas por falar seriamente sobre como a realidade dos negros perdura.
Obviamente, como comediante, e na cerimônia do Oscar, Rock faria piadas. Logo, teria preferido que não fosse ele, nem qualquer outro comediante a falar sobre as oportunidades para os negros e racismo em Hollywood. Entendo exatamente as diferenças de situações e discursos dele e de Davis – meu ponto é basicamente sobre como um mesmo assunto pode ser abordado de formas diferentes.
Particularmente, já estou cansada do uso do deboche para falar sobre negros, gays, mulheres… Meu comentário vai para além do Oscar.
O Chris Rock cumpriu muito bem seu papel como entertainer, mas pra mim foi um passo para trás. A gente tem que começar a falar mais sobre os assuntos sérios de forma séria.
Seguir fazendo deboche de nós mesmos em situações como essa, ao meu ver, só influencia mais pessoas a acharem que tudo é realmente uma grande piada.
Imagem destacada: Mashable
Comments
Comentários