O desabafo que eu sempre quis escrever
Este texto é profundamente pessoal. Eu deveria escrevê-lo em uma folha e queimar. Mas como sei que existem pessoas que levam minhas humildes palavras para o coração, o tornarei público. Por Marcelle Borges
A sociedade me adoeceu. Desde que me lembro me sentia diretamente atingida por uma pressão que eu não sabia de onde vinha.
Se eu fechar bem os olhos, posso ver meu reflexo em um espelhinho pequeno do meu quarto quando tinha 9 anos. Eu apertava minhas bochechas querendo que elas fossem menores. Fui uma criança que não seguia o padrão. E eu – mais cedo do que deveria – soube disso.
Minha adolescência foi marcada por episódios de rebeldia. Tive uma péssima relação com meus pais nessa época, pois acreditava que eles eram meus piores inimigos já que sempre exigiam coisas demais de mim. Eu tinha notas razoáveis e me tornei razoavelmente “bonitinha”. Eu me sentia uma merda em relação as meninas que já eram as mais bonitas do colégio ou as que se destacavam por serem as alunas nota 10. Eu nunca fui considerada excelente em nada nessa época. E eu – com mais intensidade do que deveria – absorvi isso.
O resultado? Minha autoestima sempre foi forte como vidro estraçalhado. Dia de altos, dia de baixos. Dias em que me olhar no espelho me deixavam com um sorriso enorme, e outros dias que eu chorava até os olhos incharem. Isso ainda mexe comigo de uma maneira absurda.
Eu sempre tenho a concepção de que não sou boa o bastante para nada.
E tudo isso é um resultado de como foi minha etapa de crescimento. Até hoje tem dias em que não me acho bonita o bastante, nem magra, nem gostosa, nem nada. Eu até hoje me vejo como razoável. E essa afirmação, me adoecia.
(Sei que vocês me veem aqui sempre bonita, com um super sorrisão e com um corpo padrão. Mas dentro de mim, depois de todas as coisas que absorvi com esses traumas, apenas alguns dias eu consigo enxergar isso. Dias que meu amor próprio é tão grande que eu desfilo pra mim mesma de lingerie. Esses dias são os meus preferidos.)
Como se isso já não fosse o bastante, vi de perto o quanto um relacionamento amoroso pode ser destruidor. Vi a traição em cenários que não imaginava, e aprendi a não confiar nos homens. Muito menos naqueles que dizem te amar. Provei na pele o que é ter sua confiança traída, seu amor jogado às traças e todo o seu tempo desperdiçado. Por mais romântica que eu ainda conseguisse ser, no fundo do meu coração ainda existia esse grande fantasma do “se você ama, você sofre”. Eu esperava ser decepcionada. Eu esperava um final triste. Eu via finais felizes para todo mundo, menos para mim. E isso me adoeceu.
Essas doenças que me foram causadas, tiveram que ser tratadas com muito amor. Amor interno. Aquele amor que você tem que cultivar quando toma um chá sozinha. Todas essas marcas foram cicatrizadas quando tirei um pouco dessa pressão dos meus ombros e larguei no mundo. Externar isso com as palavras – como estou fazendo agora – é como se confessar e pagar os pecados. Isso me liberta.
Não sintam pena. Eu supero todos esses problemas a cada dia que decido acordar e ver que sim, eu sou maravilhosamente gata. E sim, eu sou mais do que eu aparento. E mais que isso, eu sou foda para caralho (licença poética) como pessoa. E quem me tem ao lado, sabe disso. Quem é minha amiga, sabe disso. Quem dorme comigo, também sabe disso. E eu não posso me culpar pela ação das pessoas. Eu não posso controlar o caráter de ninguém. Aprendam isso comigo, por favor – eu me ensino todos os dias.
O intuito desse texto é passar a diante o que aprendi:
Não se cobrem tanto. Não exijam a perfeição estética, acadêmica, sentimental. Não exijam em vocês bonecas de plástico, musas do cinema, gênios da física. Não exijam além do que você pode externar. Não exijam a ponto de se sentirem sufocados. Não exijam. Simplesmente, sejam o melhor que vocês conseguem ser. Amem os defeitos que vocês tem. Ame o jeito que vocês sorriem. Conquistem o amor que vocês devem cultivar bem dentro do peito. Isso me curou.
Imagem: daqui
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