Feminismo pra que?
“Eu não sou feminista, eu defendo a igualdade”.
Primeiro, antes de iniciar qualquer conversa, é sempre bom esclarecer o que significa feminismo: “Feminismo é um movimento social e político que tem como objetivo conquistar o acesso a direitos iguais entre homens e mulheres e que existe desde o século XIX.”
Então se você defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres, olha só, você é feminista.
E aqui não trabalhamos com achismos, só fatos. Ao afirmar ser contra o feminismo e a favor da igualdade de gênero você está sendo, no mínimo, incoerente já que diz apoiar o que o feminismo defende, mas odeia o feminismo. E porque odeia?
Porque é difícil reconhecer o seu papel de privilegiado/opressor na sociedade. “Ai Ingra, mas eu não sou…” quando eu falo pra reconhecer o seu papel, é reconhecer o seu papel na sociedade e no sistema que ele representa. Não você, você fulano. É hora de ter humildade e sabedoria para analisar a situação como um todo. Se informar, ler, entender o que é a opressão que as mulheres tanto falam.
Entender que você nunca vai saber como é ter medo de ser violada desde que acorda até a hora que vai dormir, simplesmente por existir. Espaços perdidos, sonhos tolhidos, falas caladas pura e simplesmente por ser mulher. E eu não acho isso, são fatos. Quem não acredita faz um esforcinho e antes de sair “achando” por aí, pode ir pesquisar e estudar um pouquinho.
E é por isso que a gente tem falado tanto sobre isso. Porque fomos caladas por muitos anos. E o pior é que seguem querendo nos calar! Quando apontamos toda essa falha no sistema, que faz com que recebamos menos, trabalhemos mais, tenhamos nossas falas abafadas por gritos raivosos e cheios de razão e passemos por situações constrangedoras só por estarmos existindo, estamos de mimimi. Choro de gênero! ‘Chóla muléres!’
A impressão que tenho é que os homens não querem nos ouvir, principalmente os que não conseguem ter a humildade de admitir a opressão histórica que as mulheres sofrem. Não, eles querem ter razão. Ter razão é mais importante que analisar os fatos, ouvir uma realidade que nunca viveram e nunca viverão.
Querem ter razão ao desmerecer o debate de gênero quando milhares de mulheres trabalhadoras seguem sendo abusadas, exploradas e mortas todos os dias. Calar a fala das mulheres, dizendo que discutir gênero não é importante, se assimila a dizer que é mimimi discutir racismo no país que um jovem negro é morto a cada 23 minutos. É tirar o corpo fora de assumir, como cidadão, sua responsabilidade nesse problema que é estrutural.
É olhar apenas para o próprio umbigo, é não conseguir ter a humildade de admitir o quão é difícil você se dar mal sendo homem/branco/classe média, realidade totalmente diferente da mulher/negra/pobre.
Sabe, a cada duas horas uma mulher é morta no Brasil. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada. A região de Passo Fundo possui um dos maiores índices de violência contra a mulher do estado, sendo a cidade de Soledade a primeira no ranking.
Chega uma hora que a gente cansa de ser silenciada.
Muito mais do que flores e bombons, queremos ser ouvidas. (E respeitadas!!!!)
Por Ingra Costa e Silva
*Coluna veiculada originalmente no Jornal Rotta
Imagem destacada: The Odyssey Online
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