O adeus a Elke Maravilha
Elke morreu! O meu mundo enlutou-se. Eu não tenho olhos pra dizer.
Sabe, gentes, toki e ali a viver, mas ao saber que Elke Maravilha está falecida, eu me sinto dilacerada, sem base, escapelada. Qualquer dom roubado de Elke havia sido sepultado e agora? Meu reflexo no espelho havia sumido e agora? E meu riso resolvedor?
Pra quem me conhece, sabe: nunca, n’outro plano ou neste, eu fui tão triste? Elke me mostrou como ser Sandra: sem gêneros, sem Sandrices, sem dramas, apenas coisas, só com minhas coisas, mala pouca, coisa muita.
Confesso, chorei tanto neste dia 15, perdi muito. Perdi tanto. Perdi Elke.
Eu era coisinha pequena, Goianinha trem, e a via na TV, a dizer e pensar aquilo que saía da cabeça. Eu, nessa época, falava e falava e dizia. Dizia por que era permitida, porque uma geração atrás me permitia.
Eu, hétero, cis, assim como ela, vi que, ali, bem ali, havia problemas, início de anos 90, e tudo não tava certo. Eu nunca quis “a kissed a girl”, queria era dizer que, quem tem amor, o dá a quem merece e o quer/aceita ou beija bem. Isso eu aprendi com Elke.
Eu nunca fui mulher, nem homem, nem abóbora cabutiá, nem coisa alguma, eu fui só amor e amor e aceitação. Eu fui Elke todo tempo.
Posso, também, ser mulher, ser homem, com make ou não, só me resta é ser feliz e rir, rir, gargalhar a plenos pulmões. Como Elke. Alta e subvidamente.
Eu percebi assim, que a nada eu pertencia logo ali, 12 anos, menina feliz demais, maquiada demais, preterida demais, queria (eu) demais do mundo. Era Elke demais pra pertencer.
Sou é nada – hoje- , mulher, homem, modelo de nada, coisa nenhuma, maquiagem de quem me souber maquiar e se não me pinta da mesma forma, pinta-me à realidade. Pinta-me à vida. Eu quero é rir de coisa pouca, eu quero é honrar sua terra muita. Quero é chorar sua quilometragem coitada.
Vai, pr’outro canto, Queen of mai laife, dança e ri até que alguém a ame. Pq, cá, coração de meu coração, choro alto não há, pedido não houve, lágrimas só as minhas, amor só o nosso. Quero é te ver gritar, de vida, de coisa pura, vem me visitar, faz o favor.
Te espero.
Att,
A Sandra.
Por Sandra Cecília Peradelles, que no que depender da Casa da Mãe Joanna, a partir de agora será conhecida como Sandra Maravilha. Imagem destacada: clicrbs
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