#PorTodasElas

Carol Rocha, produtora cultural, selecionou o melhor do feminismo na música de mulheres fantásticas, algumas das quais essa Casa já teve o prazer e a honra de conhecer. Com vocês, as minas que estão quebrando tudo no ativismo musicado.

Francisco, El Hombre – Triste, louca ou má

O hit disparado de sucesso do disco #SOLTASBRUXA foi escrito e interpretado por Juliana Strassacapa, com participação de Helena Maria, Larissa Baq, Renata Éssis e Salma Jô . Em versos simples e intensamente poderosos, refletem a íntima transformação causada pelo enfrentamento dos padrões patriarcais. Mulheres negras de Cuba foram as protagonistas do videoclipe lançado esse ano, é profundo e causa impacto, bem como previu a Ju nos versos da música, com muita lucidez: “Quem não sem dores, aceita que tudo deve mudar”, e a gente sabe que dói, mas obrigada Ju, tua arte nos fortalece pra ultrapassar a dor e transformar em luta plena e resinificar a existência. Um fato lindo sobre os shows de lançamento do SOLTASBRUXA, é que em cada cidade que passa, a Ju busca vínculo com uma cantora local, que participa do show cantando ao seu lado Triste, louca ou má. É um fragmento do que tem acontecido na cena da música independente brasileira, mulheres incríveis produzindo conteúdo incrível e fortalecendo umas às outras.

Conheçam Triste, louca ou má, ela somos nós:

Carne Doce – Princesa

Foi inevitável, não deu. Não foram poucas tentativas de escolher uma das músicas desse disco pra entrar na lista, mas eu enfraqueço só de pensar em deixar qualquer uma das outras de fora. Princesa é uma obra. Veio avisar que tá perpetuado o feminismo na música independente brasileira, pode acreditar. E já vou adiantando que as composições, cada uma delas é sobre gente de verdade, na maior crueza poética que você respeita. Faixas como Cêtapensano/Falo/Artemísia/Pai são capazes através da interpretação da Salma Jô de arrancar a dentadas o filtro de assuntos obscuros da sociedade patriarcal. E eu encerro por aqui, pois esse álbum é pra ser sentido (Dissemino cuidadosa e pessoalmente, uma vez de cada, pra ter certeza de que a indicação não vai parar lá no fundo de uma lista nadaver). Inclusive quem quiser pode me convidar pra tomar um chá ou uma cachaça, e fazer uma audição comentada do Princesa, eu costumo amar.

Musa Hibrida – O convencido

Um manifestão da porra. Os versos da Cuqui já alertam – Não tem conversa, se só um fala – e dois segundos depois tá todo mundo no chão. A Musa Híbrida trouxe O Convencido pra encerrar o EP Respirei o poema cuspi, lançado em 2016, mas tem um discurso feminista continuado, fica a dica para procurar ouvir Adriana/Bom Fim e derreter com a sonoridade da banda mais gotchosa desse brasil.

As Bahias e a Cozinha Mineira – Apologia as virgens mães

“Menina de saia de gozo pré-extinto. Quantos tempos bordaram o calado bordel de teu instinto?”

Por Raquel Virgínia e Assucena Assucena, duas mulheres trans que elevam a música brasileira no palco, em – Apologia as virgens mães – não podiam ser melhores escritos e representados. A força, o poder e a salvação pra quem ouve o que escuta vem da boca dessas duas mulheres negras que resistem, vê-las e ouvi-las transcendeu qualquer experiência prévia de empoderamento. Só me resta agradecer, pois quando vivi o show das Bahias, finalmente pude sentir o calafrio da beleza. O clipe lançado também esse ano, foi dirigido pelo Jaloo e é um questionador intenso das normatividades, finíssimo.

Paula Cavalciuk – Morte e Vida Úterina

Misturando manchetes de notícias de agressão, 54 vídeos de mulheres que enviaram mensagens de protesto e empoderamento feministas e denunciando comentários reais/surreais de machistas de internet, o videoclipe da Paula Cavalciuk é o pano de fundo pra uma das composições mais necessárias que a música & as feministas viram esse ano. É um atestado de que a condição das mulheres não pode mais ser negligenciada, ignorada ou nossos argumentos descredibilizados. Há um levante, sobre nossas condições reais, e a música escrita e interpretada pela Paula é a encarnação dessa verdade através da arte.

Por Carol Rocha
Imagem destacada: still do vídeo de Morte e Vida Uterina, de Paula Cavalciuk

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