A culpabilização da mulher
Dia desses eu vi uma postagem de uma amiga, no Facebook, que consistia em um print de outro perfil do mesmo site, perfil cuja dona se demonstrava irritada por uma terceira postagem, que por sua vez dizia “homem quando é bem tratado não procura outra mulher”. A moça comentava o que essa frase quer dizer, ou seja, a culpa é da mulher, mesmo quando a falta de caráter é por parte do homem.
Na postagem da minha amiga um rapaz comentou que odiar o “feminismo unilateral”, que implica que a falta de caráter seja exclusividade masculina, e completou que com uma busca no Google pode-se ver como as mulheres também traem e gostam de trair, que ele está cansado dessa divisão de “homem isso e mulher aquilo”, que com essa busca de igualdade do feminismo logo se terá a inversão de papeis.
Reli o post. Reli a resposta. Juro que tentei argumentar com o moço que ele não entendera o post, que não se tratava apenas de traição do homem. Embora eu tenha gasto bons argumentos, não funcionou muito. Deixei ele falando sozinho.
Foi aí que comecei a pensar no print que deu origem ao post da minha amiga.
Eu sempre ouvi que “homem procura fora o que a mulher não dá em casa”. Mas o que isso significa? “Dar” no sentido sexual? Dar atenção? Dar uma casa limpa? Dar um filho? Dar comida preparada na hora? Dar o ombro para que ele desabafe? Dar o que, exatamente?
E foi aí que lembrei do meu pai.
Ele conheceu minha mãe quando ela era adolescente, namoraram um tempo, ela engravidou, eles se separaram, depois reataram, e viveram juntos até ela morrer (mas isso é assunto para outra história).
Ele traiu minha mãe a vida toda. Inclusive tem um episódio da nossa vida em que ele foi trabalhar na Bahia, se apaixonou por uma paraibana e tinha planos de largar minha mãe e morar com essa mulher. E ele conta os casos dele como se ele estivesse contando que foi na padaria comprar pão para o café da manhã.
E somente no ano passado somente que soube o motivo de ele ter traído tanto minha mãe.
Segundo ele, ele a traía pois havia a suspeita de que minha irmã mais velha não fosse filha dele. Foi por isso que eles se separaram quando ela engravidou e reataram depois do nascimento dela porque minha tia ligou para ele e disse que a criança era a cara dele e não tinha como negar isso.
E é verdade, minha irmã é a cara dele. Mas ele, como ele mesmo diz, ficou com a honra manchada e por isso sentiu a necessidade de ter outras mulheres durante todo o relacionamento deles como uma forma de punição e vingança para com a minha mãe.
Minha mãe foi culpabilizada por todos os casos de traição dele e é disso que esse post trata. O homem traiu? Culpa da mulher que não soube cuidar do homem em casa. O homem estuprou? Culpa da mulher que usou roupa curta ou estava bêbada. O homem espancou? Culpa da mulher que não foi submissa. O homem matou? Culpa da mulher que quis terminar o relacionamento.
O homem precisa parar de terceirizar a culpa e assumir que quando trai é porquê lhe falta caráter, quando estupra é porquê ele não tem controle sobre as próprias vontades, quando espanca a mulher que não é submissa, é porquê ele é controlador e abusador, quando mata a esposa é porquê ele não sabe lidar com a perda e com o fim de um relacionamento.
Cada um é responsável por suas próprias ações. Que os homens assumam isso.
Por Fran Ruiz
Imagem destacada: detalhe de Tarquínio e Lucrécia, de Ticiano
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