Uma feminista no meio nerd dos quadrinhos
Certa vez me perguntaram se o machismo que eu tanto denuncio era tão intenso ou se eu não estaria afetada pelo fato de conviver com uma pequena porção de pessoas que não representam o todo.
Bom, machismo é um problema estrutural, sendo assim, ele está presente em todos os âmbitos de nossas vidas.
No meio nerd e dos quadrinhos, a minha vivência indicaria que os caras violentos e misóginos são uma minoria, pois desde que eu comecei a frequentar esses espaços, eu sempre fui muito bem recebida e acolhida. Quadrinistas, pesquisadores e editores sempre foram muito solícitos e generosos comigo, então, eu não teria motivos pra acreditar que existia um lado extremamente tóxico nesse universo.
Até que um colega se aproximou, dizendo que a única razão de eu ser bem tratada e publicar qualquer coisa, se devia ao fato de que eu tenho algo no meio das pernas que interessaria aos caras que me tratam bem, pois tudo que eu escrevo é lixo. Esse colega dizia que eu era rasa e superficial, que jamais conseguiria chegar a algum lugar sendo a fraude que sou. Vagabunda é o adjetivo mais leve que usa pra se referir a mim hoje em dia.
Mas infelizmente, ele não é o único misógino nesse meio. Com a participação nos sites e em grupos fechados de cultura pop, comecei a perceber que toda vez que eu me posicionava de forma contrária a algum discurso masculino, eu não só era xingada, como também passei a ser perseguida inbox.
Com a convivência com artistas femininas e participação mais ativa em coletivos e grupos exclusivos, comecei a ter acesso a depoimentos e prints de diversos tipos de violência, que vão desde diminuir as mulheres a perseguição e difamação.
Hoje, a pasta com prints de insultos e ameaças dirigidas a mim e a outras mulheres em discussões de sites ou grupos forma um arquivo de imagens que uso em apresentação em eventos acadêmicos sobre a importância das ações exclusivas.
Dani no III Entre Aspas, em Leopoldina, MG, onde falou sobre um encontro com a
quadrinista feminista Trina Robbins, no qual várias outras quadrinistas compartilharam
suas experiências sobre assédio, boicote, machismo
Relatos de traumas, pânico, ansiedade e depressão estão entre os mais comuns entre os que recebo em decorrência da violência masculina. Problemas de autoestima são ainda mais recorrentes.
Então, quando insisto no fato de que existe um grupo grande de homens que perseguem e intimidam mulheres no meio nerd, eu não estou exagerando porque talvez não seja capaz de discernir opinião de violência. Até porque, se tem um problema do qual eu não padeço, é falta de interpretação.
Basta lembrar do que ocorreu com a Chelsea Cain e a Leslie Jones que tiveram que encerrar suas contas nas redes sociais devido à violência do que a gente entende como fanboys, ou caras que se dizem fãs de algo e julgam que algumas pessoas deturpam obras que consideram ser de sua propriedade.
Enfim, por mais que eu pareça a maluca odiadora de homens algumas vezes, quem não precisa vestir a carapuça sabe que eu sou um doce de pessoa e não tenho absolutamente nada contra homens. Meu problema é com o machismo, com a misoginia e com quem os propaga.
Para alguns, eu só falo da mesma coisa, sou uma chata. Para outros, eu expresso muito do que gostariam de dizer. Se eu preciso ficar repetindo a mesma coisa, isso se deve ao fato de que quem deveria estar ouvindo, prefere dar as costas, mas eu sigo fazendo o que acredito, porque não saberia ser diferente e nem tenho porque ser diferente.
Por Dani Marino
Imagem destacada: Ms Marvel
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